Num mundo cada vez mais interligado, o digital tornou-se um verdadeiro campo de batalha. A Cybersecurity Ventures, por exemplo, revelou que, em todo o mundo, ocorre um ciberataque a cada 11 segundos, um fenómeno implacável que é uma ameaça existencial tanto para as empresas como para infraestruturas críticas. No meio desta escalada na corrida às armas do digital, surgiu a Diretiva Europeia da Resiliência Operacional Digital (DORA), que é uma resposta legislativa crucial, que, entre outros, exige testes anuais de penetração para entidades financeiras. Mas será que um check-up anual é realmente suficiente para proteger as empresas contra ameaças que surgem segundo a segundo?

Estes factos deixam as empresas com o dilema entre o que é legalmente exigido e o que deve – ou não – ser efetivamente feito em termos de cibersegurança. Na prática, como a segurança é um processo vivo, a questão está em saber como antecipar as ameaças, que evoluem mais rapidamente do que as leis.

A solução não é abandonar os padrões de segurança existentes, mas sim reconhecer que a conformidade regulatória apenas estabelece uma base básica. A verdadeira armadilha reside na perigosa ilusão de que um teste de penetração anual oferece proteção suficiente contra sistemas constantemente expostos a ciberataques diários. Especialmente se tivermos em consideração que, de acordo com um relatório da IBM, 74% das violações de dados foram causadas por falhas em controlos já auditados, o que prova que a segurança estática é uma armadilha perigosa.

Além disso, a velocidade da inovação tecnológica e a sofisticação dos ataques criaram uma assimetria perversa: enquanto as empresas estão presas em ciclos de conformidade lentos e burocráticos, os cibercriminosos operam em tempo real, explorando vulnerabilidades que surgem entre um relatório e outro.

Esta assincronia é evidente em vários casos em que as empresas deram prioridade à obtenção de certificações de segurança e conformidade regulatória, mas não conseguiram monitorizar adequadamente atividades suspeitas em toda a sua cadeia de abastecimento (supply chain).

Ao contrário das avaliações pontuais pouco frequentes dos testes de penetração tradicionais, estas soluções avançadas oferecem uma visão holística e em tempo real de toda a pegada digital de uma organização, porque monitorizam constantemente todos os ativos digitais – de servidores locais a APIs na nuvem – para mapear proativamente as vulnerabilidades antes que elas possam ser exploradas. Esta análise contínua dá às equipas de segurança insights valiosos para se anteciparem aos movimentos dos invasores e priorizar investimentos essenciais em segurança.

Esta evolução é, de facto, sublinhada pela revisão de 2022 da ISO 27001, que agora incorpora explicitamente requisitos para monitorização contínua, demonstrando um claro reconhecimento de que as ameaças dinâmicas exigem medidas de segurança dinâmicas.

Além disso, é crucial notar que as autoridades reguladoras já começaram a aceitar relatórios destas soluções contínuas de hacking ético como prova de conformidade com os requisitos da DORA. Isso sinaliza claramente que a automação é uma aliada poderosa e reconhecida na mitigação eficaz de riscos.

A questão central agora é como é que as empresas podem lidar com o paradoxo entre compliance e fortalecimento efetivo de suas defesas, sem comprometer a eficiência operacional.

O caminho a seguir é claro: a segurança deve ser tratada não como um projeto finito, mas como um processo adaptativo contínuo. E as empresas que integram perfeitamente a conformidade regulatória com práticas de segurança dinâmicas não apenas mitigarão o risco de multas pesadas, mas também ganharão uma vantagem competitiva significativa, quer em relação aos atacantes, quer em relação ao mercado. Como destaca a PwC, 66% dos consumidores desconfiam de marcas que sofreram violações de dados, sublinhando como a resiliência robusta da cibersegurança se tornou um diferencial estratégico crucial.

Fica claro que a regulação não é um obstáculo, mas um convite para alcançar a verdadeira maturidade digital. Num cenário em que até a inteligência artificial é usada para ataques, o único compliance que realmente importa é o que salvaguarda o presente e antecipa proativamente o futuro.