A Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC) divulgou nesta quarta-feira o seu estudo sobre o impacto do crédito especializado na economia portuguesa. Estudo este que revela que “uma subida de um ponto percentual (pp) na taxa de juro de referência na área euro poderá levar à queda de 10% deste crédito após três anos”. O estudo deixa claro que “a subida dos juros impacta negativamente a concessão de crédito ASFAC”.

Mais ainda, a subida dos juros “leva a uma queda imediata do ‘spread’, diminuindo a rentabilidade dos créditos ao consumo após um choque de política monetária”, explica o estudo desenvolvido pela Nova SBE e que está a ser apresentado na 19.ª Conferência da ASFAC. Fica-se a saber também que “só ao fim de três anos de uma subida na taxa de juro é que a resposta acumulada do ‘spread’ permite recuperar a rentabilidade perdida na concessão de crédito após a ação de subida das taxas de referência do BCE”.

Sobre a recuperação do ‘spread’, o estudo indica que, após ter descido em 2,5 pp, devido ao “aperto monetário”, este recuperou parcialmente no último ano em 1 pp, “havendo ainda um caminho de 1,5 pp a ser trilhado para que haja uma recuperação da rentabilidade do setor para níveis pré-pandémicos”, salienta.

O estudo destaca ainda o atraso na atualização das taxas de juro nos créditos especializados face aos créditos à habitação. “A diferença de sensibilidade das TAEG à evolução da Euribor ilustra a maior rigidez contratual do financiamento no crédito ao consumo, o que se traduziu num atraso no ajuste das TAEG médias nestes créditos, quando comparado com o crédito habitação, cujas TAEG reagem de forma quase imediata às decisões de política monetária do BCE”, ilustra. Assim, “este fenómeno demonstra a limitação da possibilidade da transferência direta dos custos de financiamento para o consumidor, e evidencia a robustez das instituições de crédito especializado ao longo destes períodos de desajustamento”.

O impacto do crédito especializado no PIB português

O PIB português é impactado pelo volume de crédito especializado concedido pelas instituições, ainda que não seja com grande significância. “Estima-se que um aumento inesperado de 10% na oferta de crédito especializado gera, em média, um aumento de cerca de 0,25% do PIB ao fim de um ano e de 0,6% ao fim de três anos”, adianta. Estes créditos são os concedidos apenas pelos associados da ASFAC.

“Os resultados apontam para uma relação significativa entre o aumento da concessão de crédito pelas instituições associadas da ASFAC e o crescimento do Produto Interno Bruto português, tanto no curto como no médio prazo”, conclui. No entanto, e apesar de demonstrar a “capacidade de crescimento económico inerente ao crédito ASFAC, o impacto registado é “ligeiramente menor” face ao período estudado anteriormente, acabado em 2018. Contudo, o estudo relembra que isto pode ser explicado por “fatores exógenos”, como é o caso da pandemia.

“Ainda assim, é de destacar que, apesar destes choques significativos no período mais recente, ainda assim se conseguem identificar impactos significativos da produção do crédito especializado dos associados ASFAC no PIB em termos estatísticos e económicos”, salienta o estudo. Além do PIB, argumenta também que os efeitos do crédito especializado incidem sobretudo sobre o consumo de bens duráveis e o investimento, como são o caso dos automóveis, equipamentos domésticos e outros ativos de maior valor unitário. A par do impacto no PIB e no consumo de bens, destaca-se que “um choque de 10% no crédito ASFAC leva à criação de cerca de 35840 novos empregos”. Isto corresponde a um aumento de perto de 0,7%.

Este estudo defende que “a decomposição histórica do impacto do crédito especializado no PIB português oferece uma perspetiva complementar e igualmente reveladora”. “Durante períodos de contração, como nos anos pandémicos de 2020 e de 2021, a queda do PIB foi mitigada pelo contributo do crédito especializado. Já em anos de expansão, o crédito ASFAC tem um contributo próximo de zero, o que demonstra a importância deste para atenuar choques negativos na economia”, reforça.