
O calendário precisa de recuar até 1961 para se conhecer a história do restaurante que, esta semana, renasce em plena avenida da Liberdade, em Lisboa. A génese da Cervejaria Liberdade, agora com nova decoração interior, um novo bar para uma refeição rápida e uma pequena esplanada, que integra a oferta gastronómica Tivoli Avenida da Liberdade, está associada à segunda fase de ampliação desde icónico hotel da capital.
Hoje, peixe e marisco nacionais brilham, ao lado de clássicos como “Bife tártaro à Tivoli” (€32), “Arroz de marisco” (€39) e “Sopa de morangos” (€19), e opções petisqueiras, entre “Croquetes de novilho”, “Peixinhos da horta” (€13), “Camarão com alho e malagueta” (€19) ou “Pica-pau do lombo” (€29). Juntam-se ainda as travessas marisqueiras, aqui denominadas “Plateau”, com três variações: “Cervejaria”, “Avenida” e “Liberdade”, que podem ser compostas por ostras, recheio de sapateira, camarão, amêijoas e até lavagante (desde €80).
Viagem no tempo
Resume-se esta viagem com alguns apontamentos da história da atual Cervejaria Liberdade à data em que abriu portas no então Hotel Tivoli, inaugurado em 1933. Na década de 50 do século passado, o arquiteto Porfírio Pardal Monteiro desenhou a união do edifício ao Palacete Liberdade 185. Este projeto seria a base para o novo Tivoli, que apenas em 1961 é inaugurado. Mantém-se, ainda hoje, o imponente hall de entrada e o marcante pé-direito duplo, também assinados por Pardal Monteiro. Foi nesse ano que abriu portas o restaurante Zodíaco, nome inspirado na tapeçaria “Os Signos do Zodíaco”, da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, a partir de um desenho original do pintor Jean Lurçat.
Esta peça única continua a marcar o fundo da sala principal, resistindo aos vários conceitos gastronómicos que se instalaram no espaço, como o restaurante Beatriz Costa, que prestava homenagem a uma das ilustres hóspedes do hotel, e a Brasserie Flo, que em 2008, agitou o panorama da oferta restaurativa da capital ao oferecer a Lisboa o espírito das grandes brasseries parisienses, com pratos emblemáticos como as ostras e o bife tártaro preparado na sala à vista do cliente. O calendário assinala o ano de 2017 e o Tivoli Lisboa anuncia a abertura da Cervejaria Liberdade: uma abordagem pioneira na época ao adicionar luxo, beleza, conforto e serviço de qualidade ao ambiente de uma cervejaria.
Aquário, novo bar para petiscos e esplanada
Nestes primeiros dias de junho, a Cervejaria Liberdade volta abrir portas, após um período de obras e renovação. “Um regresso às origens com um novo brilho” sumarizam os responsáveis do restaurante, que acrescentam: “Fiel a um legado gastronómico que não passa despercebido — e de olhos postos no futuro — este clássico de sempre, agora renovado, reabre com uma proposta que une os sabores tradicionais a um ambiente elegante e acolhedor”.
Assumindo a continuidade, a Cervejaria Liberdade reforça a aposta em peixe e marisco fresco, que está à vista, no bonito aquário e na banca, logo à entrada do restaurante que ganhou uma vista ampla para o movimento da avenida.
No interior, uma referência para o novo bar, onde se pode fazer uma refeição ligeira ou petiscar, e para a garrafeira. Já no exterior, ganha destaque a tentadora esplanada com duas dezenas de lugares.
O novo projeto de interiores, da autoria da Martinez Otero, pretende ser “um tributo ao mar, à tradição lisboeta e à elegância contemporânea”. A sala principal mantém a imponência original e, ao fundo, a famosa e já referida tapeçaria. Há ainda loiça Vista Alegre, toalhas e guardanapos da Lameirinho. Elegância e luxo q.b.
Alma cervejeira e novidades
Marisco fresco e peixes do dia preparados com simplicidade e rigor são a aposta central da renovada Cervejaria Liberdade, com cozinha a cargo do chef Miguel Silva. Disponibilizado ao peso, o peixe pode ser preparado grelhado, cozido, assado ou à meunière, consoante o gosto e a época.
Com Menu Executivo (desde €35) ao almoço dos dias de semana, a ementa viaja por entradas variadas: “Rissol de camarão” (€14), “Recheio de sapateira” (€25), servido com tostas de pão de Mafra, “Creme de marisco” (€18) e “Salada Cervejaria” (€34), com lavagante, guacamole, gel de manga e telha de tapioca. Nas opções fixas de peixe destacam-se “Bacalhau à Brás” (€29), “Filetes de peixe-galo” (€32), com arroz malandrinho de tomate, o guloso “Arroz de peixe” (€36) e o clássico e bem recheado “Arroz de marisco”.
Com preparação elaborada pela equipa de sala e à vista do cliente, o “Bife tártaro à Tivoli” é obrigatório para sentir a identidade do espaço e “com condimentos ajustados ao gosto de cada um”. Ainda nas carnes, referência para o “Lombo de novilho à Cervejaria” e para a “Perna de pato confit” (€34), uma surpresa que merece uma segunda volta potenciada pelo conforto e sabor do arroz de enchidos.
“Estamos a evoluir sem mudar o legado do espaço. A cozinha é descomplicada, pensada para ser eficiente e saborosa. Acima de tudo, fiel ao que sempre fomos”, reforça Miguel Silva. Refira-se ainda a renovação da carta de vinhos, com extensão na loja no topo do hotel a funcionar em parceria com a Garrafeira Nacional. As cervejas artesanais vão também começar a surpreender.
“Sopa de morangos” e o novo “Doce da casa”
Dando continuidade aos clássicos, também nas sobremesas várias são as opções preparadas ou finalizadas em frente do cliente, como os sempre surpreendentes e incontornáveis Crepes Suzete (€16) e a “Sopa de Morangos” (€19), uma raridade por estes dias. É também preparada numa frigideira. Amaciam-se os morangos juntamente com açúcar, canela e licor de cereja. Depois, adiciona-se aguardente kirsh para flamejar. Finaliza com uma bola de gelado de baunilha por cima da “sopa”.
“São pratos que contam a história não só da cozinha, mas do próprio hotel”, que continuam a ser “pedidos, repetidos e celebrados”, referem os responsáveis da Cervejaria Liberdade. Com a mão conhecedora (e sábia) da chef de pastelaria Mónica Azevedo, juntam-se outros clássicos da doçaria como “Farófias tradicionais” (€10) e “Leite creme queimado”, e o grande resistente da restauração nacional: o “Doce da casa” (€14), em camadas e composto por café em pó, pannacotta de baunilha, crumble, creme de leite e cremoso de café. Junta-se, ainda, a recriação, muito bem conseguida, do popular “Bolo de bolacha”, montado na mesa e em frente ao cliente. É montando em camadas, com as excelente bolachas, tipo “Maria” confecionadas propositadamente pela chef Mónica.
A Cervejaria Liberdade (Tivoli Avenida Liberdade, Avenida da liberdade, 185, Lisboa. Tel. 213198620) funciona todos os dias, sem interrupção, das 12h30 às 23h30.