
A Vice-Presidente da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES), Carla Ventura, defendeu que o futuro do voluntariado em Portugal deve assentar num compromisso real com a inclusão e na consolidação de políticas públicas estruturadas.
As declarações foram proferidas a 5 de junho, durante a conferência «Voluntariado e Inclusão: Caminhos para o Futuro», promovida pela Fundação Eugénio de Almeida, em Évora, no âmbito dos 25 anos do seu Programa de Voluntariado.
Carla Ventura começou por sublinhar a importância do percurso da Fundação, referindo que esta celebração é mais do que simbólica. «É a prova de que o voluntariado, quando é promovido com estratégia, com visão, persistência e compromisso, deixa marcas duradouras nas comunidades e nas pessoas que delas fazem parte», afirmou, reconhecendo o papel da instituição como referência nacional na promoção do voluntariado.
A responsável destacou que a promoção do voluntariado deve ser orientada por princípios de cidadania e justiça social, indo além da ajuda pontual. «Falar de voluntariado é falar de cidadania […]. Inclusão no voluntariado é garantir que todas e todos possam ser parte ativa.» E acrescentou: «Trabalhar pela inclusão no voluntariado é perceber que as pessoas em situação de vulnerabilidade não são apenas destinatários da ação, são agentes com capacidade de transformar e participar. E têm direito a fazê-lo.»
Sublinhou também que a inclusão não deve ser apenas uma aspiração ética, mas uma exigência social e política. «A inclusão não é apenas uma questão ética. É uma questão de justiça social e é uma questão de inteligência coletiva, porque perdemos muito quando deixamos de parte alguns membros da nossa sociedade.»
Reconheceu que incluir implica investimento e transformação prática nas organizações. «Promover a inclusão não é apenas abrir a porta e esperar que alguém entre. É adaptar o espaço, a linguagem, os horários, os modelos. É investir em formação, repensar práticas e reconhecer que a diversidade implica trabalho. Mas também é ter a certeza que a diversidade enriquece e dá sentido ao que nós fazemos.»
Segundo Carla Ventura, as organizações promotoras de voluntariado têm um papel determinante neste processo, pois «é na forma como acolhem, como acompanham, como enquadram os voluntários que se joga muitas vezes a possibilidade real da participação».
Referiu ainda que a CASES tem procurado garantir que o voluntariado se desenvolva com mais qualidade, reconhecimento e equidade. Mencionou várias iniciativas nesse sentido, como a plataforma Portugal Voluntário, apoios financeiros, formação, seguros, medidas de reconhecimento como o galardão e o selo de qualidade, bem como o acompanhamento aos bancos locais. «Todas estas medidas procuraram e procuram responder às necessidades reais e visam facilitar, reconhecer, mas não determinar e nunca controlar. Pretendemos sempre estimular. Não substituir. E fazê-lo sempre em conjunto convosco.»
No plano estratégico, revelou que está em curso um diagnóstico nacional sobre o voluntariado, em parceria com a Confederação Portuguesa do Voluntariado, com o objetivo de identificar constrangimentos, reconhecer potencialidades e definir novas medidas. A mesma parceria servirá de base para a preparação do Ano Internacional do Voluntariado, a assinalar em 2026. «Queremos preparar o Ano Internacional do Voluntariado não apenas como uma efeméride, mas como um marco estratégico para o setor.»
Carla Ventura reforçou ainda que este será um momento para recolocar o voluntariado na agenda política e mobilizar todos os setores — da sociedade civil ao Estado, da academia às empresas. «Se queremos de facto um voluntariado com futuro, ele terá de ser intergeracional, inclusivo e enraizado nas comunidades.»
A concluir, afirmou que «celebrar o voluntariado é celebrar o compromisso das pessoas com as suas comunidades, mas é também fazer um exercício de responsabilidade, de perceber o que ainda falta fazer para que mais pessoas possam fazer parte». E deixou claro que «a inclusão não pode ser um mero enunciado, tem que ser a espinha dorsal da nossa intervenção». Para a dirigente da CASES, «só com inclusão é que podemos dizer honestamente que estamos a construir um voluntariado para todos, com todos».