
A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros manifestou surpresa com a reação de editoras independentes que a acusam lhes recusar pedidos de mais pavilhões, na Feira do Livro de Lisboa, ao contrário do que acontece com grandes grupos.
Confrontada com queixas de editoras independentes e de pequena dimensão, que este ano se viram novamente impedidas de aumentar o número de pavilhões, ao mesmo tempo que grupos editoriais já dominantes e espaços de restauração expandem território, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), que organiza a Feira do Livro de Lisboa, manifestou-se surpreendida "com algumas reações, uma vez que sempre pautou a sua atuação pela total transparência e abertura ao diálogo."
Várias editoras acusaram a APEL, em relatos à agência Lusa, de lhes recusar há anos os pedidos de mais pavilhões, no Parque Eduardo VIII, enquanto grupos editoriais de grande dimensão e a restauração continuam a aumentar os seus espaços.
"Todos os participantes que o solicitaram foram informados das razões que justificaram a atribuição parcial de pavilhões face ao pedido original", disse a APEL numa resposta por escrito enviada esta noite à agência Lusa, um dia depois de confrontada com as queixas de bloqueio ao crescimento, na maior montra livreira do país, feitas por editoras independentes.
"Dado o elevado número de pedidos de participação, já em 2024 foi necessário proceder a uma criteriosa seleção", alega a APEL. "Em 2025, a procura voltou a superar largamente a oferta de pavilhões, obrigando novamente a uma avaliação rigorosa e equilibrada [...]. Ciente de que 53 pedidos não poderiam ser atendidos, a Direção da APEL assegurou um processo de alocação transparente, justo e sustentado em princípios objetivos."
A APEL diz que "tem vindo a aprimorar o modelo de distribuição dos pavilhões, ancorando as suas decisões em dados estatísticos do setor livreiro, na diversidade e dimensão dos catálogos apresentados e nas referências ativas no mercado", considerando "ainda a natureza dos produtos a expor, valorizando especialmente a promoção da literatura em língua portuguesa publicada em Portugal, bem como o incentivo à leitura."
Orfeu Negro, Tinta-da-China, Relógio d'Água, Saída de Emergência, Ala dos Livros, Devir são apenas algumas das editoras que se queixam de recusas recorrentes da APEL, nos últimos anos.
A Orfeu Negro, que mantém dois pavilhões, viu pelo "terceiro ano consecutivo" a recusa de um aumento para três pavilhões, contou à Lusa Leonor Rodrigues, que coordena a participação na feira.
A Tinta-da-China, outra das editoras que se afirmam lesadas, relata que anda há cinco anos a pedir mais um pavilhão sem sucesso. "É sistematicamente recusado. [...] Os grandes grupos ocuparam o espaço da Feira do Livro de Lisboa a seu 'bel-prazer' e não deixam crescer as editoras independentes médias e pequenas, que também não estão representadas na direção da APEL."
No ano passado a Feira do Livro de Lisboa atingiu o limite da capacidade, com 350 pavilhões, número que se mantém este ano, mas com menos editoras representadas. Segundo os dados da APEL, no ano passado houve 140 participantes, este ano o número caiu para 133, aumentando o número de chancelas em alguns grupos editoriais.
Durante a apresentação da Feira do Livro de Lisboa deste ano, a 95.ª edição, a APEL revelou que a área de restauração também foi ampliada.
Segundo o mapa da feira, o grupo editorial Leya tem 39 pavilhões, o Grupo Porto Editora e Bertrand Circulo dispõem de 30 pavilhões e a Editorial Presença conta com 20.
Na resposta enviada à Lusa, a APEL diz-se confiante de que "a correção gradual de eventuais distorções faça com que a atribuição de espaços seja cada vez mais justa, equilibrada e fundamentada."
"A Feira do Livro de Lisboa é hoje o maior evento cultural do país, e a APEL reafirma o seu compromisso de garantir a sua continuidade com profissionalismo, equidade e respeito por todos os envolvidos no setor do Livro", conclui a associação.