
"Um ingrediente ativo em medicamentos para a tosse desde 1979 tem-se mostrado promissor como tratamento para sintomas neuropsiquiátricos na demência relacionada com a doença de Parkinson", escreveu a jornalista Carly Cassella para o Science Alert.
A mesma explicou que o medicamento, ambroxol, não é aprovado para uso nos EUA, Canadá ou Austrália, mas é comumente encontrado em xaropes e comprimidos para tosse na Europa.
Num ensaio clínico de fase 2 padrão-ouro, publicado no JAMA Neurology, 22 participantes com Parkinson que receberam uma alta dose diária de ambroxol durante um ano não apresentaram agravamento dos principais sintomas neuropsiquiátricos.
Enquanto isso, 25 pacientes que receberam placebo apresentaram agravamento dos sintomas, ganhando uma média de 3,73 pontos numa pontuação neuropsiquiátrica estabelecida. Os pacientes que tomaram ambroxol perderam uma média de 2,45 pontos.
Ambos os grupos apresentaram pontuações cognitivas semelhantes relacionadas com a memória e com a linguagem. No entanto, aqueles que tomaram ambroxol apresentaram estabilização em sintomas como delírios, alucinações, ansiedade, irritabilidade, apatia e atividade motora aberrante. Os participantes que tomaram ambroxol também sofreram menos quedas.
Embora o ambroxol tenha sido considerado seguro, não foram registadas melhorias clinicamente significativas na cognição. Ainda assim, há motivos para permanecermos otimistas
"O nosso objetivo era mudar o curso do Parkinson", explicou o neurologista Stephen Pasternak, da Western University, no Canadá. "Este teste inicial oferece esperança e fornece uma base sólida para estudos maiores."
Na análise da equipa, alguns participantes portadores do gene GBA1 de alto risco para o Parkinson apresentaram uma melhoria no desempenho cognitivo com ambroxol. Com uma amostra pequena e sem grupo de controlo para comparar os resultados, os autores alertam que estes resultados precisam de ser acompanhados antes de tirar quaisquer conclusões.
Dito isto, variantes do gene GBA1 de alto risco tendem a resultar numa menor atividade da enzima glicocerebrosidase (GCase), e isso, por sua vez, está ligado a mais aglomerados de proteínas no cérebro, como corpos de Lewy, que estão associados ao Parkinson.
Estudos recentes descobriram que o ambroxol pode aumentar significativamente a atividade da GCase. No estudo atual, aqueles que tomaram o medicamento apresentaram 1,5 vez mais atividade da GCase.
Nenhum efeito adverso grave foi relatado por aqueles que tomaram ambroxol, embora problemas gastrointestinais leves a moderados fossem comuns e fizessem com que alguns participantes desistissem do estudo.
As descobertas sugerem que alguns dos sintomas mais graves da doença de Parkinson podem ser controlados pelo ambroxol se tomado regularmente em altas doses.
Como o ambroxol pode atravessar facilmente a barreira hematoencefálica, alguns cientistas suspeitam que o remédio para a tosse possa tratar condições neurodegenerativas, como Parkinson, esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença de Gaucher, neuroinflamação ou lesão na medula espinhal.
A comprovação da veracidade desta hipótese requer mais estudos clínicos. Mas o recente estudo de fase 2 sobre a doença de Parkinson dá aos cientistas bons motivos para continuarem a investigar.
"Estas descobertas sugerem que o ambroxol pode proteger a função cerebral, especialmente em pessoas geneticamente em risco", disse Pasternak. "Ele oferece uma nova e promissora via de tratamento onde poucas existem atualmente. Se um medicamento como o Ambroxol puder ajudar, poderá oferecer esperança real e melhorar vidas."