
O continente africano representa uma excelente oportunidade para as empresas portuguesas num contexto de incerteza a nível europeu e mundial. A reflexão foi deixada por Paulo Portas, vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, esta quinta-feira.
A Nova SBE recebeu esta quinta-feira a quarta edição do “Growth Forum – The Global Commerce Exchange”, uma organização da Câmara de Indústria e Comércio Portuguesa (CCIP), que contou com o JE, Forbes Portugal e Forbes África Lusófona como media partners.
Este evento serviu para refletir sobre as oportunidades e desafios do mercado africano, para além das parcerias estratégias e investimentos neste continente que estão à disposição dos gestores e empresários portugueses e das tendências geopolíticas que têm efeitos em África.
Numa intervenção em que o antigo governante se focou sobretudo nas tendências geopolíticas e geoeconómicas em África e como estas representam uma oportunidade para que as empresas portuguesas possam aproveitar as inúmeras oportunidades que se colocam nesta geografia.
África, um continente “mais sossegado” num mundo “incerto”
“O resto do mundo está demasiado incerto e mesmo com os seus problemas, África é um continente mais sossegado”, começou por referir o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros. Para Paulo Portas, Portugal tem uma palavra a dizer nas organizações internacionais tendo aquilo que pode aportr nas relações com África mas também com a América Latina e Ásia.
“É esta universalidade da dimensão externa de Portugal e o seu conhecimento que pode afinar o peso das organizações internacionais quando pensam em África. Portugal conhece África de forma singular e tem uma relação invejável com este continente. É extraordinária a cumplicidade que existe entre os países lusófonos e Portugal. A relação com África é o que nos dá softpower”, realçou.
“Não é com tarifas que se conquistam aliados”
Numa crítica explícita à política comercial de Donald Trump, “não é com tarifas insustentáveis de dois dígitos que se conquistam aliados”, destacou Paulo Portas. Da mesma forma, destaca, “não é com condescendência que se entra em África, é um grande erro que se entre dessa forma neste continente”.
Este dirigente da CCIP destacou que África tem sido o continente menos atingido pelas tensões comerciais globais: “O crescimento será acima do crescimento médio do planeta, ainda que isso não seja suficiente”. Ainda assim, Senegal (8,8%), Uganda (7,2%), Ruanda (7,1%) lideram o crescimento do PIB para 2025 e crescem de forma estável acima de 5%, exceptuando o ano da pandemia: “Esses países não dependem tanto dos recursos naturais e diversificaram a economia”. No entanto, a inflação é um indicador que preocupa e há países com muito potencial que carregam uma “mochila” demasiado pesada, alguns com inflação acima de 20%.
E quanto aos países lusófonos? Paulo Portas diz que “não estão nada mal” e que “todos estão melhor do que em 2024 à exceção de Moçambique devido à instabilidade interna”: Guiné-Bissau vai crescer 5,7%, Cabo Verde terá uma subida de 4,9%, Angola (4,1%), São Tomé (3,9%) e Moçambique (3,8%).
Numa análise ao investimento estrangeiro no continente africano, Paulo Portas deixa uma nota que pode dar duas coisas à Europa: “Ânimo e oportunidade”: “Há um relativo decréscimo do investimento chinês em África, dá a ideia que atingiu o seu pico. E isso é uma notícia importante para a Europa e uma oportunidade. A Europa, economicamente, nunca saiu de África, algo que aconteceu com os EUA (país que deixou de fazer a cimeira com África entre Obama e o primeiro mandato de Trump)”.
E sublinha: “África é uma potência energética de petróleo e gás. Mas não apenas nestes dois recursos; a segunda maior instalação solar do mundo está em Marrocos, e o país também tem condições para energia hídrica.
Paulo Portas não tem dúvidas que “África é uma grande oportunidade para as nossas empresas” e lança um repto a dois Ministérios do Governo português: “É preciso que os Negócios Estrangeiros e Economia não deixem morrer a ligação à geração no países lusófonos que ainda ligação a Portugal. África pode crescer mais porque tem um potencial extraordinário”.
José Carlos Lourinho