Muito se prega por mais fiscalização, mais multas, mais radares. Mas e o óbvio? O maior risco na estrada somos nós — condutores cansados, apressados, distraídos, que acham que ter carta é o mesmo que ter razão. Conduzimos por reflexo, por hábito, como se conduzir fosse uma competência intuitiva, como afirmava o professor Stuart Dreyfus em 1987. “É só mais uma viagem”, dizemos depois de um jantar regado a vinho. “E ainda por cima curta”, justificamos.
Depois olhamos para os números. Em 2024, a PSP registou 79 mortes em acidentes rodoviários, mais oito do que em 2023. No mesmo período, ocorreram 58.434 acidentes na área de intervenção da PSP, que abrange centros urbanos, resultando em 803 feridos graves (+18) e 18.221 ligeiros (+677), num total de 19.024 feridos (+695). Mas continuamos a reagir como se fosse tudo imprevisível. Como se ninguém soubesse de onde vem o problema. A culpa? É sempre de outro. Do carro que não travou, do cruzamento mal sinalizado, do tipo que vinha colado a nós. E, às vezes, estamos certos. Também é verdade, porém, que raramente olhamos para o padrão, para a cultura de condução que normaliza a pressa e o improviso. Não admitimos que conduzimos mal — ou que nem sempre estamos em condições de o fazer.
E se a forma mais simples de aumentar a segurança nas estradas fosse… não conduzir? A mobilidade partilhada — na qual se incluem os serviços TVDE — já não é apenas uma alternativa mais conveniente e sustentável ao carro próprio. É uma escolha mais sensata em muitas situações. Quando estamos cansados. Quando bebemos. Quando vamos só ali, mas estamos com a cabeça a mil porque levámos um raspanete do chefe. Quando, no fundo, sabemos que não vamos estar 100% ao volante, mas em milhares de outros lugares.
Do outro lado está um profissional que conduz para viver, não para despachar. Que sabe que cada avaliação conta. Que sente as consequências de cada travagem brusca, cada excesso de velocidade, cada má decisão. A diferença entre um condutor ocasional e um motorista de TVDE está no foco — e na responsabilidade. Porque o sistema penaliza quem falha. E isso muda a forma como se conduz.
Além disso, é feita uma monitorização e responsabilização em tempo real. As apps registam todas as viagens, rotas e comportamentos suspeitos. Este controlo permanente dificulta más práticas. Há também o impacto coletivo: menos carros na estrada, menos pressão para estacionar à porta, menos improviso no trânsito. E, sim: menos margem para erros.
Mário de Morais,
responsável de ride-hailing da Bolt em Portugal