O tema da habitação é um dos mais debatidos publicamente nos últimos anos. O valor das casas em Portugal subiu em flecha, sobretudo a partir da fase pandémica, em 2020, trazendo novos desafios para os portugueses, que cada vez menos conseguem adquirir imóveis que sejam compatíveis com o seu poder de compra.

O estudo da consultora imobiliária CBRE “Unlocking the Potential of Portugal’s Residential Market”, pretende traçar um retrato da evolução do setor a nível nacional, mostrando alguns possíveis caminhos para o investimento nacional. E confirma: existe uma elevada uma elevada escassez da oferta de habitação em Portugal, o que tem vindo a contribuir para o aumento progressivo dos preços, que duplicaram na última década. Há, por isso, um claro desajuste entre a oferta disponível no mercado e aquilo que as famílias realmente precisam. Infelizmente este não é um problema apenas do mercado nacional, pois “O aumento dos preços da habitação é um fenómeno generalizado em toda a Europa, impulsionado por restrições persistentes da oferta e pelo aumento da procura”, pode ler-se no documento.

O crescimento da população, impulsionado sobretudo por saldos migratórios, intensificou os desafios de acessibilidade, uma vez que a procura continua a aumentar sem uma expansão proporcional do parque habitacional.

Para os analistas da CBRE, o mercado residencial português atingiu um ponto crítico: em 2024, o preço médio de uma casa antiga atingiu o mesmo valor de uma casa nova em 2019. E se, em 2009, cerca de 40% das casas transacionadas eram novas, em 2024, essa proporção diminuiu para 20% “As casas antigas estão a satisfazer as necessidades dos compradores – que são sensíveis à localização – o que levou a aumentos desproporcionados dos preços das casas antigas, o que, por sua vez, levou a uma compressão dos prémios das casas recém-construídas”, explica o relatório.

O estudo adianta a principal razão para esta situação: uma das principais causas é a pressão demográfica. O crescimento da população, impulsionado sobretudo por saldos migratórios, intensificou os desafios de acessibilidade, uma vez que a procura continua a aumentar sem uma expansão proporcional do parque habitacional. “Portugal destaca-se atualmente com o maior aumento do índice de preços da habitação do conjunto de referência. O índice de preços da habitação em Portugal mais do que duplicou nos últimos dez anos e mostra sinais de aceleração, o que aponta para fundamentos sustentados de escassez de oferta para a procura crescente”, explica o documento.

Diferentes regiões, diferentes ritmos de aumento de preço

Ainda que todas as regiões do país tenham assistido a um aumento dos preços das habitações, esse incremento não se verificou ao mesmo ritmo em todas elas. O estudo destaca que o preço médio de Lisboa, Algarve e Porto mais do que duplicou nos últimos10 anos. No entanto, esta tendência está a inverter-se: no ano passado, as taxas de crescimento homólogas mais elevadas foram registadas não nas principais áreas metropolitanas, mas em áreas adjacentes às metropolitanas, como o Oeste e Vale do Tejo, Península de Setúbal e o restante Norte, com exceção do Porto.

“O atual contexto de escassez de oferta habitacional nas zonas urbanas, aliado à pressão demográfica e aos incentivos fiscais que estimulam a procura, exige uma resposta urgente e sustentada ao nível da construção de nova habitação. Portugal não necessita apenas de mais casas, mas sim de bairros inteiros, empreendimentos com dimensão, pensados para as necessidades reais das famílias de hoje – menores, mais diversas, com menos poder de compra – e em localizações com acessibilidade e serviços”, defende, em comunicado,o responsável de Capital Markets da CBRE Portugal, Igor Borrego.