Numa década, a discussão passou de valores entre as 100 mil e as 110 mil pipas de mosto para as 80 mil a 90 mil pipas, com clara dificuldade para a sobrevivência da lavoura. Acresce este ano, a confusão institucional criada pela “nova Casa do Douro”, que continua sem sede, sem funções e sem verbas

Vem aí a vindima. E antes da Vindima, vem o benefício para o vinho do Porto.
Para quem não souber, o benefício corresponde à quantidade de mosto a beneficiar, isto é, a quantidade de mosto que dará origem a vinho do Porto. Essa quantidade global (quantitativo regional) é por sua vez distribuída por todas as parcelas aptas à sua produção, conforme uma classificação por classes (método de pontuação Moreira da Fonseca).
Não é por isso um subsídio, mas uma forma equitativa de proteger a qualidade e a repartição da riqueza criada pelo Vinho do Porto por todos os lavradores, sejam eles grandes ou pequenos, profissionais ou amadores. Colateralmente, é também o principal mecanismo que dá à produção alguma garantia de venda da produção e de valorização da mesma.
Ora, em resultado de vários fatores, dos quais não se pode excluir a cativação pelos sucessivos governos das verbas pagas (na íntegra) pela produção e pelo comércio, destinadas à promoção, as vendas não param de cair.
Realmente, a falta de promoção resultante dos mais de 10 anos de cativações e entregas ao Estado de parte dos “excedentes” orçamentais do IVDP, Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (por falta de autorizações governamentais para os conseguir gastar nos fins a que se destinam) correspondem a um período de constantes quebras nas vendas. Passamos assim, numa década, de discutir valores entre as 100 mil e as 110 mil pipas, para discutir valores que deveriam andar entre as 80 mil e as 90 mil pipas de mosto a beneficiar, com clara dificuldade para a lavoura sobreviver com tão pouca produção (as uvas destinadas ao Vinho do Porto valem o dobro ou mais que as destinadas a DOC Douro).
Acresce este ano, a confusão institucional criada pela “nova Casa do Douro”, que continua sem sede, sem funções, sem verbas, num faz de conta entre o é e o não é.
O paradigma da atribuição de benefício, por má gestão e dificuldade de consenso da produção, mudou nestes últimos 3 anos, passando o comércio a ter saldos de capacidade de vendas crescentes (vinho produzido em excesso em anos anteriores) e estagnando os preços. Como exemplo, temos no fecho do ano passado um saldo de 56%, quando os valores saudáveis para a lavoura não deviam ultrapassar muito os 36%. Não nos podemos esquecer que uma pipa por vender no ano corresponde a três no ano seguinte, devido ao “efeito chicote” da lei do terço.
Temos ainda a agravante de haver um valor significativo de vinho na produção (que passou de cerca de 16 mil pipas em 2019 para cerca de 26.500 em 2024, números redondos). No total haverá cerca de 20 mil pipas do ano passado em excesso (10 mil na produção e 10 mil no comércio), a retirar às cerca de 90 mil pipas de mosto que o comércio teria necessidade para uma expetativa de estabilização ou baixa ligeira, ligeiramente acima da curva e tendência que indica uma baixa um pouco mais acentuada (vamos ser positivos).
Este valor corresponde a uma perda de mais de €20 milhões para a região, o que é terrível.
Claro que este valor não interessa à “nova Casa do Douro”, que não quer assumir um resultado negativo em ano de estreia, nem a muitos agentes económicos, que criaram um modelo de negócio à volta do Vinho do Porto a granel, e que dele retiram valor para financiar outros vinhos que são comercializados abaixo do preço real.
Para piorar, vêm os populistas, defendendo uma realidade paralela, como se fossem obrigar o comércio, em simultâneo, a comprar acima das necessidades e subir o preço. Afinal, estamos em ano de autárquicas, os núcleos partidários estão ao rubro e todos querem “Salvar o Douro”. A generalidade dos lavradores ainda não compreendeu que o negócio do final de século passado acabou e apenas foi possível com a compra de milhares de pipas, sem mercado, que a Casa do Douro (antiga) foi fazendo, exaurindo o património de milhões de contos (ainda estávamos no escudo) legado por anteriores gerações (e gestões). Julgam mesmo que o benefício é um direito, sem relação com o mercado. E é desse discurso que oportunisticamente vivem muitos dos nossos dirigentes.
Hoje, em mercado livre, a produção apenas tem poder negocial quando oferece dentro ou abaixo da procura. Só esse reequilíbrio fará os preços voltarem a ser compensadores e garante as vendas de uva e a sobrevivência de todos.
O debate continuará durante os próximos dias (ou mês), vamos ter plenários, comissões, discursos, manifestações, mas no fim, ou há coragem e realismo ou no próximo ano corremos o risco de não haver compradores a adquirir uvas e vinhos na vindima.
É claro que a culpa será do governo ou dos comerciantes e que quem vai pagar é o lavrador.
Não é por isso um subsídio, mas uma forma equitativa de proteger a qualidade e a repartição da riqueza criada pelo Vinho do Porto por todos os lavradores, sejam eles grandes ou pequenos, profissionais ou amadores. Colateralmente, é também o principal mecanismo que dá à produção alguma garantia de venda da produção e de valorização da mesma.
Ora, em resultado de vários fatores, dos quais não se pode excluir a cativação pelos sucessivos governos das verbas pagas (na íntegra) pela produção e pelo comércio, destinadas à promoção, as vendas não param de cair.
Realmente, a falta de promoção resultante dos mais de 10 anos de cativações e entregas ao Estado de parte dos “excedentes” orçamentais do IVDP, Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (por falta de autorizações governamentais para os conseguir gastar nos fins a que se destinam) correspondem a um período de constantes quebras nas vendas. Passamos assim, numa década, de discutir valores entre as 100 mil e as 110 mil pipas, para discutir valores que deveriam andar entre as 80 mil e as 90 mil pipas de mosto a beneficiar, com clara dificuldade para a lavoura sobreviver com tão pouca produção (as uvas destinadas ao Vinho do Porto valem o dobro ou mais que as destinadas a DOC Douro).
Acresce este ano, a confusão institucional criada pela “nova Casa do Douro”, que continua sem sede, sem funções, sem verbas, num faz de conta entre o é e o não é.
O paradigma da atribuição de benefício, por má gestão e dificuldade de consenso da produção, mudou nestes últimos 3 anos, passando o comércio a ter saldos de capacidade de vendas crescentes (vinho produzido em excesso em anos anteriores) e estagnando os preços. Como exemplo, temos no fecho do ano passado um saldo de 56%, quando os valores saudáveis para a lavoura não deviam ultrapassar muito os 36%. Não nos podemos esquecer que uma pipa por vender no ano corresponde a três no ano seguinte, devido ao “efeito chicote” da lei do terço.
Temos ainda a agravante de haver um valor significativo de vinho na produção (que passou de cerca de 16 mil pipas em 2019 para cerca de 26.500 em 2024, números redondos). No total haverá cerca de 20 mil pipas do ano passado em excesso (10 mil na produção e 10 mil no comércio), a retirar às cerca de 90 mil pipas de mosto que o comércio teria necessidade para uma expetativa de estabilização ou baixa ligeira, ligeiramente acima da curva e tendência que indica uma baixa um pouco mais acentuada (vamos ser positivos).
Este valor corresponde a uma perda de mais de €20 milhões para a região, o que é terrível.
Claro que este valor não interessa à “nova Casa do Douro”, que não quer assumir um resultado negativo em ano de estreia, nem a muitos agentes económicos, que criaram um modelo de negócio à volta do Vinho do Porto a granel, e que dele retiram valor para financiar outros vinhos que são comercializados abaixo do preço real.
Para piorar, vêm os populistas, defendendo uma realidade paralela, como se fossem obrigar o comércio, em simultâneo, a comprar acima das necessidades e subir o preço. Afinal, estamos em ano de autárquicas, os núcleos partidários estão ao rubro e todos querem “Salvar o Douro”. A generalidade dos lavradores ainda não compreendeu que o negócio do final de século passado acabou e apenas foi possível com a compra de milhares de pipas, sem mercado, que a Casa do Douro (antiga) foi fazendo, exaurindo o património de milhões de contos (ainda estávamos no escudo) legado por anteriores gerações (e gestões). Julgam mesmo que o benefício é um direito, sem relação com o mercado. E é desse discurso que oportunisticamente vivem muitos dos nossos dirigentes.
Hoje, em mercado livre, a produção apenas tem poder negocial quando oferece dentro ou abaixo da procura. Só esse reequilíbrio fará os preços voltarem a ser compensadores e garante as vendas de uva e a sobrevivência de todos.
O debate continuará durante os próximos dias (ou mês), vamos ter plenários, comissões, discursos, manifestações, mas no fim, ou há coragem e realismo ou no próximo ano corremos o risco de não haver compradores a adquirir uvas e vinhos na vindima.
É claro que a culpa será do governo ou dos comerciantes e que quem vai pagar é o lavrador.