Considerada o berço da humanidade, África deve desempenhar um papel decisivo no crescimento da população mundial nas próximas décadas. Enquanto o restante do mundo envelhece, a previsão é que a população africana salte de 1,2 bilião para 2,5 biliões de pessoas até 2050. Na prática, isso significa que, em apenas 25 anos, um quarto da população global será africana. Segundo projeções da ONU, a curva de crescimento demográfico do continente será o dobro da registrada no sul da Ásia e quase três vezes superior à da América Latina.

De acordo com dados da União Africana (UA), África possui actualmente a população mais jovem do mundo: mais de 400 milhões de pessoas entre 15 e 35 anos. Esse cenário reforça o conceito de “dividendo demográfico”, que descreve o potencial de crescimento económico gerado por uma população predominantemente jovem em idade activa e com baixa taxa de dependência.

Em muitos países africanos, pelo menos 70% dos habitantes têm menos de 30 anos. A idade média no continente é de apenas 19 anos — a menor entre todas as regiões do mundo.

Esse vigor populacional poderá redefinir a geopolítica global e ampliar a influência africana – que actualmente é quase nula – nos próximos anos. No entanto, o continente também enfrentará desafios complexos, como a superação da pobreza e da insegurança alimentar, uma vez que muitos países ainda carecem de infra-estrutura e estabilidade económica para acompanhar essa expansão.

Apesar dessas adversidades, uma nova África vem se formando – destemida, dinâmica e determinada a romper com antigas relações de subserviência. Um exemplo é Bassirou Diomaye Faye, Presidente do Senegal e o mais jovem chefe de Estado eleito democraticamente no continente, aos 44 anos. O país, que ocupa o topo do ranking de democracias africanas e iniciou recentemente a exploração de petróleo, também determinou a retirada das forças militares francesas que estavam estacionadas em seu território há décadas.

Em muitos países africanos, pelo menos 70% dos habitantes têm menos de 30 anos. A idade média no continente é de apenas 19 anos — a menor entre todas as regiões do mundo.

A emergência de líderes mais jovens, com discursos firmes e voltados para a valorização da autossuficiência, marca uma nova era. Essa geração defende a substituição das línguas coloniais por idiomas locais e a criação de moedas próprias, de modo a garantir que o controlo económico e financeiro gerado em África permaneça no continente. O mesmo movimento ocorre em relação aos recursos naturais – minerais, petróleo, madeiras, fosfato, bauxite — historicamente explorados por potências externas.

De perfil mais revolucionário, o presidente do Burkina Faso, também conhecido como o país dos homens íntegros, Ibrahim Traoré, aos 33 anos, assumiu o poder em Setembro de 2022, após um golpe de Estado. Traoré ficou conhecido pelos discursos pan-africanistas e patrióticos, como o que fez na Cimeira África-Rússia de 2024, ao afirmar que “os africanos que lutam pela sua independência são patriotas e não golpistas, como o Ocidente quer rotular”.

Para ele e outros líderes emergentes, o caminho é a autossuficiência, a independência e a transformação dos recursos africanos dentro do próprio continente.

O professor Carlos Pinto Lopes, em entrevista à Forbes África Lusófona, reforça essa leitura. Para ele, trata-se de uma pulverização de lideranças, de africanização da democracia e de ventos favoráveis ao continente. Contudo, Lopes também alerta para as fragilidades sociais, económicas e humanas que persistem no continente.

O professor acredita que o futuro africano se definirá na próxima década, destacando que o domínio da tecnologia será determinante. “A partir do momento em que um indivíduo entende de algoritmos e sabe trabalhar com eles, não importa se ele é licenciado ou tem mestrado. O essencial é a sua competência tecnológica”, perspectiva o renomado economistas guineense.

A África, portanto, caminha para um futuro promissor, em meio a desafios históricos e a uma juventude decidida a construir um continente soberano e protagonista no cenário global.