"A desnutrição crónica é quando a criança tem baixa altura para a idade e isso tem aumentado historicamente em Angola. Em 2007 a taxa era de 29%, em 2015-2016 estava 38% e agora em 2024 subiu para 40%", afirmou a chefe de Nutrição do PAM em Angola, Gracy Santos Heijblom.

Em declarações à Lusa, a responsável alertou para as consequências da desnutrição crónica em crianças menores de cinco anos, sobretudo para a baixa estatura para a idade e possibilidade de não ser atingido o potencial genético por falta de alimentos.

Para Gracy Santos Heijblom, médica nutricionista, o atual quadro da desnutrição crónica em crianças menores de 5 anos "é preocupante", dada a elevada taxa atual do país à luz da classificação internacional.

"Na classificação internacional, 40% da população [infantil] em desnutrição crónica, em saúde pública é uma situação elevada. Então, o que se pode fazer? Uma das coisas que se pode fazer, por exemplo, são políticas públicas mais amplas para melhorar o acesso da população a alimentos nutritivos", defendeu.

"Também tem de se melhorar o acesso da população aos serviços de saúde, para que elas possam fazer o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento dos filhos. As crianças têm de ter vacina. A cobertura vacinal em Angola é baixa", frisou.

A taxa de desnutrição crónica em crianças menores de 5 anos em Angola é de 40% e subiu dois pontos percentuais em oito anos, segundo dados Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados na semana passada.

Segundo o Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde (IIMS) 2023-2024, em Angola 40% das crianças menores de 5 anos sofrem de desnutrição crónica, percentagem que aumenta para 51% na zona rural.

De acordo com o estudo, a desnutrição crónica em Angola aumentou de 38% em 2015-2016 (período em que foi realizado o primeiro IIMS) para 40% em 2023-2024. Neste período, o número de crianças com baixo peso aumentou de 19% para 21% e a percentagem de crianças com desnutrição aguda manteve-se em 5%.

A chefe de Nutrição do PAM em Angola fez igualmente alusão à atual epidemia de cólera no país lusófono africano, que já matou mais de 600 pessoas, para assinalar a importância de o país melhorar o saneamento e garantir o acesso à água tratada.

As pessoas "têm de ter água tratada e nas casas, porque o que acontece é que às vezes uma criança que tem desnutrição aguda tem a imunidade mais baixa. Então, elas são mais suscetíveis a doenças e aí entra-se num círculo vicioso", observou.

Gracy Santos Heijblom recordou também que crianças com desnutrição podem ter alterações cognitivas e, com isso, afetar a aprendizagem e afirmou que os países que mais tiveram reversão de quadros elevados de desnutrição infantil foram os que investiram em atenção primária.

"Atenção primária é investir, por exemplo, em agentes comunitários de saúde, investir mais nos postos de saúde das comunidades, no sentido de estes fazerem a deteção precoce de desnutrição ou de outras doenças", apontou.

A responsável do PAM destacou, por outro lado, a importância do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), elaborado pelo Governo angolano para o triénio 2025-2027, como um instrumento que deve garantir um estado nutricional adequado para as crianças em idade escolar.

Por isso, afirmou PNAE, que nasceu com base a cooperação trilateral (Governo de Angola, Governo da República Federativa do Brasil e o PAM), constitui uma "grande transformação que deve melhorar o acesso das crianças a alimentos nutritivos".

"A grande transformação é que antes o programa tinha um valor fixo para cada município e agora o valor vai ser por criança. A intenção é de oferecer às escolas uma refeição quente para cada criança e não é um lanche. Essa refeição vai ser equilibrada, respeitando a cultura alimentar de cada região de Angola", disse ainda Gracy Santos Heijblom.

O Governo angolano deve gastar em três anos um total de 1,3 biliões de kwanzas (1,2 mil milhões de euros) para concretizar o PNAE 2025-2027, que deve contemplar mais cinco milhões de crianças/ano.

Segundo o PNAE, a estrutura de custos contempla uma alimentação diária unitária de 376,82 kwanzas (0,36 cêntimos) com uma abrangência de 5,4 milhões de alunos matriculados e uma atribuição regular da alimentação ao longo dos 5 dias da semana.

DAS // JMC

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