Seis dias antes, nos 169,3 km da 15.ª etapa que ligaram Muret a Carcassone, o ciclismo celebrou o facto de, aos 34 anos, o belga Tim Wellems (UAE Emirates) se ter tornado no 113.º ciclista da história a vencer, pelo menos, uma etapa na Volta a França (1), Itália (2) e Espanha (7).

Ontem, na véspera de colocar ponto final à 112.ª edição do Tour, e com Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike) sem atacar, totalmente rendido à superioridade de Tadej Pogacar (UAE Emirates), que se encontra a uma etapa de defender o título ganho em 2024 e conquistar a prova pela quarta ocasião, o australiano Kaden Groves (Alpecin-Deceuninck) mexeu na história. Também ele ampliou a lista homens os que concretizaram a trilogia de etapas nas três grandes Voltas.

Após várias tentativas de fugas falhadas a partir do momento em que faltavam 60 km para fechar a 20.ª etapa e com forte chuva a provocou algumas quedas, a última já perto da meta, Groves integrou a fuga de 13 elementos que viria a decidir tudo concluída a passagem pela contagem de 4.ª categoria em Côte Longeville.

O espanhol Iván Romeo (Mosvistar) e o francês Romain Grégoire (Groupama-FDJ) mal conseguiam ver a estrada tal era a água que lhes caia nos óculos – Romeo revelou que até pedira ao carro de apoio para lhe indicar para que lado iriam ser as curvas – e caíram precisamente numa curva, a cerca de 20 km do fim. Incidente o que deixou o resto do grupo algo hesitante.

Todos menos Groves. A faltarem 16,3 km, o australiano aproveitou essa indefinição para desferir o decisivo ataque que lhe permitiu chegar isolado (4.06,09h) de braços e indicadores esticados para o ar após os 184 km entre Nantua e Pontarlier, com 54 e 59s de vantagem, respectivamente, face aos neerlandeses Frank van den Broek (PicNic PostalNL) e Palcal Eenkhoorn (Soudal Quick-Step).

Aos 26 anos e na estreia na Grand Boucle Kaden garantiu a terceira etapa desta edição à azarada Alpecin — perdeu Jasper Philipsen e Mathieu van der Poel durante a prova — e passou a ser o 114.º ciclista, quinto australiano, a ganhar no Tour (1), Giro (2) e Vuelta (7).

Feito que o deixou em lágrimas à chegada, com 7.19m de avanço face ao pelotão onde, tranquilamente, estavam Pogacar (32.º) e Vingegaard (34.ª) e com o português Nélson Oliveira (Movistar) a cair para a 74.ª posição da geral ao ser 113.º (+22,27m).

«São muitas emoções. Tínhamos muitos planos diferentes para a equipa, especialmente com Jasper Philipsen e Mathieu van der Poel, mas consegui a minha própria oportunidade e aproveitei-a. Hoje senti-me com umas pernas realmente magníficas. Sofri para chegar até aqui, mas temos como recompensa a vitória da etapa. Sinto-me sempre bem com chuva e frio, mas, pela primeira vez, ganhei isolado. E consegui-o no Tour. É incrível!», começou por declarar o herói do dia.

«Isto não é um sonho de infância porque só comecei a competir mais tarde. Já havia vencido no Giro e na Vuelta, mas ainda persistia a dúvida se também o iria conseguir no Tour. Pois bem, agora provei que sim», concluiu.

Quem saiu prejudicado com a falta de resposta para de outros adversários para tentar apanhar os fugitivos e terá perdido a hipótese de concluir a prova no top 10 foi o australiano da Jayco Ben O’Connor (56.º, +71.9), que acabou ultrapassado na geral pelo gaulês Jordan Jegat (Total Energies), que integrava o grupo da fuga e acabou em 7.º (1.04m).

Pogacar: «Até que se cruze a meta...»

Há um ano, Tadej Pogacar (UAE Emirates) não esteve com meias-medidas e, apesar de já ter a vitória no Tour garantida à chegada a Nice, única vez em que a prova não terminou na capital francesa devido à proximidade do início dos Jogos de Paris-2024, venceu a última etapa ao sprint registando, o sexto triunfo, terceiro consecutivo nessa edição.

Agora, quando leva quatro vitórias (4.ª, 7.ª, 12.ª e 13.ª etapas), os 4.24m de vantagem que detém face a Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike), assim como o nível a que se apresenta, dão-lhe bastante tranquilidade para enfrentar os derradeiros 132,3km que faltam entre Mantes-la-Ville e Paris, com uma tripla passagem em circuito pela colina de Montmatre na capital, para, depois do êxitos em 2020, 2021 e 2024, juntar-se ao britânico Chris Froome (2013, 2015, 2015, 2107) no lote dos tetra vencedores ficando, aos 26 anos, a um triunfo dos recordistas Jacques Anquetil (Fra), Eddy Mercks (Bel), Bernard Hinault (Fra) e Miguel Induráin (Esp).

«Está mais ou menos concluído, no entanto, não o posso afirmar. Até que se cruze a meta em Paris… Tenho que me manter focado junto à equipa. Espero que amanhã seja um dia tranquilo», foi dizendo o melhor ciclista da atualidade que, ainda assim não deixou de lado de somar mais uma etapa. «Não se trata de uma clássica, é um circuito muito curto mas temos uma boa equipa para amanhã. Estamos o Nils [Politt], Tim [Wellens], Jomathan [Narváez] e eu. Podemos tentar alguma coisa. Depende de como nos sentir-mos e como corra a primeira volta ao circuito.»

Jonas Vingegaard vai à Vuelta

Sem ter conseguido superar Tadej Pocagar para somar a terceira vitória no Tour (2022, 2023), o dinamarquês Jonas Vingegaard pensa já no que se segue e pode estar na Vuelta, que tem partida marcada para 23 de agosto, em Turim (Itália). «A comparar como estava no final do Tour 2024, sinto-me melhor hoje. Há um ano estava morto. Depois do Tour vou descansar uma semana e começar a pensar na Vuelta de 2025.»