
Custódio Castro, treinador do SC Braga B, esteve à conversa com A BOLA e confessou que a sua ambição é orientar uma equipa da Liga, num futuro próximo, referindo que é um treinador muito bem mais preparado agora, do que quando assumiu, por alguns jogos, o comando técnico da equipa principal dos arsenalistas. O ex- jogador também falou sobre os seus pupilos e de como olha com orgulho para o trajeto que vão traçando no clube minhoto, assim como por outros clubes de nível elevado.
- Os seis jogos em que esteve no banco da equipa principal do SC Braga foram o ponto mais alto da sua carreira de treinador ou foi demasiado cedo?
- Um pouco das duas, mas hoje sou treinador muito mais maduro, completamente diferente do que quando surgiu essa oportunidade. Olhei para essa passagem e para aquilo que tinha de melhorar, dando um ou dois passos atrás, não em termos de clube, mas nas equipas que fui treinando, para tornar, hoje, num treinador diferente, mais maduro e preparado. Olhando mais a fundo para essa passagem que foi a substituição de alguém [Rúben Amorim] que teve um impacto muito grande no clube e nos jogadores, juntando a fase da Covid-19, pois estreamo-nos com o Portimonense e logo a seguir parou tudo. Toda essa fase de incerteza não ajudou. Mas, em retrospetiva vejo como aprendizagem e com naturalidade. Já assumi que foi cedo, tendo em conta os passos que pretendia dar na carreira, foi algo precoce e estes fatores também acabaram por contribuir, mas ao mesmo tempo aprendi bastante, sendo que nestes quatro anos me tornei num treinador muito mais preparado.
- Quem lhe sucedeu foi Artur Jorge, mais uma vez promovido na estrutura do clube. Estes dados fazem com que alimente o sonho de um dia estar a orientar o SC Braga?
- Tenho bem delineado o meu propósito e o meu objetivo para os próximos anos e o que venho a fazer é preparar-me para que dentro de um período curto possa estar na Liga. Esse é o meu objetivo. Claro que gostava de estar em equipas com relevância e que lutem por objetivos importantes e é nesse sentido que estes quatro foram importantes, como os próximos também serão, pois é nesse sentido que me estou a preparar.
- Tem esse objetivo em mente?
- Queria separar um bocadinho. O que referi é o meu objetivo: treinar na Liga. Isso é fundamental e tem sido essa a preparação. Agora, falando daquilo que é o presidente António Salvador e aquilo que tem feito, temos de falar num homem que transformou completamente o clube, que é enorme, que tem ambição, ou seja, ele é muito ambicioso e é por aí que também me tenho preparado como treinador.
- Qual é o futuro imediato?
- É olhar para aquilo que é o meu propósito e o grande objetivo é poder chegar à Liga num curto período de tempo, nos próximos quatro anos. Sempre fui muito focado e esse é o caminho.
- Quando coloca o ponto final na carreira como jogador, já tinha ideia de que queria ser treinador?
- Já estava desde muito cedo, 19 ou 20 anos. Aliás, acabo por abreviar a carreira de jogador, pois podia ter continuado por mais dois anos pelo menos e acelero o final para iniciar a carreira de treinador que era um objetivo desde sempre. Era um jogador curioso sobre aquilo que era o jogo e procurava perceber porque é que treinávamos isto ou aquilo, porque é que no jogo se fazia isto ou aquilo. Sempre quis perceber as ideias dos treinadores, era um curioso do jogo. Tinha muitas conversas com jogadores mais velhos, como o Paulo Bento que era um companheiro com o qual falava bastante sobre futebol e ele gostava imenso. Percebemos logo que ele ia ser treinador e essas conversas despertaram ainda mais a minha vontade de o ser também. Mais tarde, o Abel Ferreira também foi meu companheiro e senti que tinha essa capacidade, tendo alimentado ainda mais esse objetivo que já tinha desde tenra idade.
- Que treinador mais o influenciou?
- Ter convivido com o Abel, na fase inicial da carreira de treinador, em que eu orientava a equipa B e ele a principal, foi uma grande influência. Também o Fernando Santos com o qual aprendi bastante, o José Peseiro pela forma como as equipas se soltavam em termos ofensivos e o rigor e a mentalidade do Sérgio Conceição foram referências. A forma como o Leonardo Jardim geria o grupo, o Domingos Paciência também foi um grande treinador e distribuía as tarefas pela equipa técnica, algo que observi bastante, tal como a forma como trabalhavam juntos. O próprio Jesualdo Ferreira, apesar de não ter sido uma época muito positiva, mas ele tinha o dom do desenvolvimento pessoal, de fazer sobressair as características mais fortes de cada jogador. Tive a sorte de ter tido grandes treinadores. Tudo e todos me ajudaram na minha forma de ver o jogo, sendo que tiveram uma influência muito grande naquilo que sou como treinador, mas não só, também como homem.
É um orgulho muito grande olhar para o SC Braga e ver o Chissumba a titular
- Dá-lhe particular gozo ver jogadores como o Francisco Chissumba, o Lukas Hornicek, o Roger Fernandes ou Gorby, para citar alguns, terem a capacidade de se fixarem na equipa principal?
- Fui mais um de tantos treinadores que participaram no seu desenvolvimento e crescimento. Não colho créditos a mais ou a menos por isso. Mas, é um orgulho enorme. Olhámos para o grande objetivo da formação e da equipa B que se situa no final desse processo e é um orgulho muito grande olhar para o SC Braga e ver o Chissumba a titular, o Diego a ter espaço. Mas, também o Djibril [Soumaré] que está no Nacional, o Nuno Cunha que está no Tondela, como o Bernardo [Fontes] ou o André Lacximicant que está no Estoril. Em primeiro lugar muito orgulhoso quando eles chegam à equipa principal do SC Braga, mas também nos que seguem outros caminhos e muitos destes jogadores têm provado isso, como o Luís Asué no Moreirense, como Dinis Pinto, ou seja, são muitos exemplos daquilo para que trabalhamos. Formamos jogadores para o SC Braga, dentro de um processo em que todos acreditamos e isso também é prepará-los para o futebol profissional e para aquilo que é a elite, sendo o grande trabalho que o clube e eu tenho feito na equipa B. Passo os fins de semana a ver os jogos do SC Braga, também dos mais jovens pois temos de conhecer novos jogadores, para ver refletido aquilo que foi construído por nós, mas também da Liga e da Liga 2, pois tem jogadores que foram desenvolvidos por nós e gosto de acompanhar, observar o crescimento nestes campeonatos.