Serão poucos os portugueses que não conhecem Victor Froholdt, reforço do FC Porto para a nova época. Sim, que o leitor não tenha dúvidas. O nome poderá soar-lhe raro, poucas vezes repetido, porém se viu, nos finais de março, a segunda mão dos quartos de final da Liga das Nações, entre Portugal-Dinamarca, ter-lhe-á passado Frodholdt pela frente. Esteve em campo. Isso é certo.

A Seleção Nacional tinha perdido por 1-0 – golo de Hojlund, aos 78 minutos – no dia 20, no Parken, em Copenhaga, sem que o jovem médio da equipa da capital tenha recebido o batismo e o carinho dos adeptos que o apoiavam todos os fins de semana, ficando-se pelo banco de Brian Riemer.

Três dias depois, em Alvalade, um golo de Francisco Trincão colocou, aos 86 minutos, o resultado em 3-2, o que obrigava a prolongamento. Froholdt estava em campo há três minutos, já com a estreia como internacional A no bolso, depois de ter entrado para o lugar de Christian Norgaard, com quem dizem se assemelhar no perfil e que ainda há poucos dias trocou o Brentford pelo Arsenal. Há realmente similaridades na dimensão física e no conforto na resistência à pressão, porém o jovem mostra já uma maior capacidade para romper linhas.

Os dinamarqueses afundar-se-iam no prolongamento (5-2) e Portugal venceria a competição, dois meses e meio depois, mais dia menos dia, diante da Espanha, no desempate por penáltis.

Um tanque com a bola nos pés

É natural que os olhos dos adeptos nesse jogo de Alvalade estivessem sobretudo em cima dos portugueses, além de a entrada de Froholdt ter coincidido com o desmoronamento final dos vikings e dificilmente tenha enchido as medidas de quem quer que fosse. No entanto, não só era um futebolista referenciado por grandes emblemas alemães e ingleses, onde o tipo de jogador costuma obter mais rapidamente rendimento por força da dimensão física, como Borussia Dortmund, Eintracht, Bayer Leverkusen e Tottenham, como o valor de mercado já apontava, de acordo com o site especializado transfermarkt, para os 12 milhões de euros. O FC Porto pagará 20, mais dois em bónus e antecipa-se à concorrência. De Frankfurt terão sido recusados 17.

Victor Froholdt é mais um que confirma a tendência de a Dinamarca produzir médios com inteligência tática acima da média. Com apenas 19 anos, o centrocampista do FC Copenhaga terminou a época 2024/25 como um dos rostos do título de campeão e da conquista da Taça da Dinamarca, mas também como um dos mais cobiçados da Escandinávia. Foi o jogador jovem do ano e integrou a equipa ideal da liga.

A ascensão foi rápida e consistente: em setembro de 2023 estreou-se com golo pela equipa principal, num 9-0 na Taça diante do IF Lyseng, e menos de dois anos depois já acumula 62 jogos oficiais, oito golos e seis assistências. Começou por ser extremo, pediu para jogar como médio-centro e a mudança tornou-se fundamental para o seu crescimento.

Joga de cabeça erguida e a um ritmo muito alto. Está sempre focado, concentrado, apresentando uma intensidade mental pouco comum. Não é um tecnicista, impressiona pela capacidade de transportar, acelerar com bola e, acima de tudo, pela tomada de decisão acertada. Com 1,87 metros, tem uma dimensão física que torna muito complicado aos adversários roubarem-lhe a bola, seja no centro do terreno, de onde parte, ou junto às faixas, para onde se dirige se o jogo o exigir.

As estatísticas individuais, recolhidas pelo site FotMob, são interessantes: 27 dribles tentados na última época, com 69,2% de sucesso. Não é um criativo puro, mas soma 2,07 de Expected Assists (xA, assistências esperadas) e mantém uma precisão de passe que ronda os 88%, mesmo integrando um modelo de jogo que privilegiava a verticalidade e o risco. No FC Copenhaga de 2024/25, tornou-se rapidamente um médio de equilíbrio, competente no desarme (eficácia de 59%) e na recuperação da posse de bola (duas a cada 20 minutos), sinais de quem sabe estar no sítio certo.

Algumas (poucas) dúvidas

O mais difícil será mesmo rotular Froholdt. Não será bem um 6 ou um médio de construção que assuma a responsabilidade dos passes mais importantes no ataque posicional. Por vezes, até parece ser mais talhado para a transição, pela facilidade que tem em transformar o momento defensivo no ofensivo. Talvez seja mais um 8, ou possa construir-se mais nesse sentido, em que pode ser o tal box to box, mas parece encaixar melhor num meio-campo a três, onde divida a função de ligar o jogo. Pensem num FC Porto a montar o cerco aos rivais, que naturalmente encosta à sua baliza e assim reduz o espaço nas suas costas: não há muito jogo para transportar, é preciso quem ligue (pode fazê-lo) e quem assuma as situações de rotura com o passe (já será mais difícil para ele). No entanto, é precisamente por aí, aparentemente, pelo 4x3x3, que Francesco Farioli parece querer caminhar.

Aos 19 anos, precisará de se adaptar a um contexto muito diferente do que está habituado. Daí que uma liga alemã ou inglesa, em que pudesse ir sendo trabalhado, em que o jogo muitas vezes precisa dessa dimensão mais física e em que 20 ou 22 milhões são trocos, talvez fosse um caminho mais natural. Só que é aí que entra a maturidade e a inteligência do jogador, que a tem mostrado com frequência, e também aparecem exemplos de sucesso, ainda que com perfis diferentes, como são o caso de Fredrik Aursnes e Morten Hjulmand, que provam que o sucesso pode ser alcançado mesmo no sul da Europa. O meio-campo do FC Porto vai crescer certamente de agressividade.