Durou pouco mais de meia-hora a ideia que esta seria a ocasião para Pogačar perder tempo para os principais adversários. Sim, cedeu segundos para Evenepoel, mas não tantos quanto o próprio belga acreditava. Mais relevante que isso, Tadej, que apresenta um registo muito equilibrado no duelo perante Vingegaard no contrarrelógio, foi amplamente superior ao rival dinamarquês.

Nos 33 quilómetros de Caen, no único exercício puro da especialidade no Tour desta edição, já que o outro contrarrelógio será a subida a Peyragudes, Pogačar deu mais uma demonstração de força. Não ganhou a etapa, mas cimentou a superioridade mental e numérica para a concorrência.

No percurso que partia e chegava da cidade que foi massacrada na Segunda Guerra Mundial, com fortes bombardeamentos no verão de 1944 que obrigaram a reconstruções que duraram quase duas décadas, Evenepoel puxou dos galões de campeão do mundo e ouro olímpico na batalha contra o tempo. Ganhou com um tempo de 36,42 minutos, a uma média de 54 quilómetros por hora, fiel ao motor que tem para rolar a grandes velocidades.

Pogačar gastou mais 16 segundos do que Remco. O tricampeão do Tour é o novo camisola amarela, com 42 segundos de vantagem para Vingegaard, o grande derrotado desta 5.ª etapa. O dinamarquês da Visma perdeu 1,21 para Evenepoel e 1,05 para Tadej. Está, agora, em 4.º na geral, a 1,13 minutos. Resta saber o que fará a muitíssimo apetrechada equipa do dinamarquês, vencedor de 2022 e 2023, para tentar dar a volta a esta desvantagem.

A atual organização do Tour e, nomeadamente, Thierry Gouvenou, o responsável por desenhar o percurso, reconhece que não é o maior fã da luta contra o tempo. Num ciclismo que tenta mais espetáculo, considera-se que uma certa monotonia do contre la montre não é a melhor receita.

Note-se: entre 2010 e 2020, só uma vez houve menos de 80 quilómetros de crono na competição, fossem individuais ou coletivos. Nos anos de Armstrong, quando a corrida girava muito em torno deste tipo de tiradas, chegou a haver seis edições seguidas (2000-2005) com 140 ou mais quilómetros de contrarrelógio, atingindo os 176 em 2002. Era o tempo dos esforços individuais de 50 ou 60 quilómetros.

Gradualmente, o paradigma foi mudando: na segunda década do século, só por duas vezes (2012 e 2013) houve mais de 80 quilómetros de contrarrelógio. Nas últimas cinco edições, neste ciclismo dos super-heróis, nunca se superaram os 60 quilómetros.

Em 2023 não houve qualquer contrarrelógio plano; em 2024 só houve 25 quilómetros; agora só há estes 33 quilómetros. Somando o total de distância da especialidade destas três edições — excluindo percursos com subidas acentuadas ou crono-escaladas —, há menos distância do que os 61 quilómetros da 18.ª jornada do Tour 2001 e do que os 58,5 da 19.ª de 2000 e pouco mais do que os 52 da 9.ª de 2002, ou os 55 da 19.ª de 2004.

João Almeida no contra-relógio
João Almeida no contra-relógio Tim de Waele

Ao 55.º contrarrelógio da carreira, João Almeida, sempre regular na especialidade, terminou entre os 10 melhores pela 41.ª vez. Foi o 8.º mais rápido, a 1,14 minutos de Evenepoel.

Mais importante para as contas do caldense será constatar que o português ganhou tempo a muitos possíveis adversários para o pódio: foi cinco segundos melhor do que Matteo Jorgenson e Primož Roglič, roubou sete segundos ao tempo de Jonas Vingegaard.

Almeida subiu ao 7.º lugar da geral. Está a 1,53 minutos de Pogačar e a escassos 54 segundos de Kévin Vauquelin, o surpreendente francês que fecha o pódio.

Procurando digerir as consequências desta etapa, o Tour avançará para o sexto dia. O pelotão irá de Bayeux até Vire Normandie, em 201,5 quilómetros com algum sobe e desce perigoso nos metros finais. Palco para uma fuga, talvez até com a Emirates com vontade de ceder a liderança a um adversário que não represente perigo para a geral final?

A geral após a etapa
A geral após a etapa Pro Cycling Stats