
Francisco Neto tem enfatizado o facto de Portugal chegar sempre à última jornada de cada fase final disputada com possibilidades de seguir em frente. Neste Euro 2025 não será diferente, apesar da tarefa não se perspetivar fácil: Portugal terá de ganhar, esperar que Espanha vença Itália, e pelo meio anular uma desvantagem de seis golos face às italianas. Para isso, terá de vencer, e de preferência por números expressivos, uma Bélgica já eliminada, mas sempre competitiva – com Itália perdeu por 1-0, num jogo equilibrado; com Espanha foi goleada por 6-2, mas esteve empatada a duas bolas já na 2.ª parte. Então, o que pode esperar Portugal?
Desde logo é importante entender que os caminhos das duas equipas se têm cruzado várias vezes, com finais distintos: em 2022, no apuramento para o Mundial que se avizinhava, Portugal bateu as belgas por 2-1, conseguindo posteriormente o primeiro apuramento de sempre para um Mundial; mais recentemente, na Liga das Nações, a equipa portuguesa até foi ganhar à Bélgica, mas acabou por ser derrotada por 3-0, na Madeira, caindo para o último lugar do grupo, que valeu a despromoção para a Liga B, mantendo-se a Bélgica.
A verdade é que face ao contexto da Bélgica neste Europeu, é difícil perspetivar a abordagem da treinadora Elísabet Gunnarsdóttir, recém-chegada ao cargo – irá promover mudanças na equipa, uma vez que aconteça o que acontecer já não seguirá para os quartos de final, ou vai atacar a partida com as melhores e mais utilizadas jogadoras?
De uma forma ou de outra, é justo referir que a seleção belga mudou bastante quando, no início do ano, a federação demitiu Ives Serneels, que estava há 14 anos à frente das belgas, e contratou a islandesa que vinha fazendo carreira na liga sueca. O sistema tático mudou para o 5-4-1 e o estilo de jogo tornou-se um pouco mais pragmático, apostando agora mais em transições rápidas e menos num estilo de posse em que a Bélgica se apresentou nos últimos torneios.
O que não mudou é que a próxima adversária de Portugal continua a demonstrar uma organização com e sem bola acima da média. As jogadoras, apesar de a liga local não ser das mais competitivas a nível europeu, revelam ‘ter escola’ a controlar os princípios gerais e específicos do jogo: pode soar cliché, até porque estamos a falar de jogadoras profissionais, mas as belgas destacam-se de facto pela boa capacidade de decisão e de controlo do jogo, no ataque ou na defesa.
Não foi, por isso, surpreendente ver a equipa competir bem nos dois primeiros jogos, dando sequência às vitórias frente a Portugal, mas também diante da Inglaterra na Liga das Nações, já neste ano.
Sistema tático: O novo 5-4-1 de Gunnarsdóttir
Com a mudança no comando técnico da seleção, mudou também a estrutura tática da equipa. A nova treinadora implementou o 5-4-1, que na fase ofensiva se transforma num 3-4-3, com o intuito de robustecer a equipa do ponto de vista defensivo, dando espaço às várias boas centrais da equipa, mas também para libertar Wullaert, na frente, Eurlings, à esquerda, e Janssens, pela direita.
À partida, um pouco como aconteceu frente à Itália, este poderá ser um sistema que vai encaixar de forma mais natural na equipa portuguesa, que também atua com uma linha de cinco, mas resta entender quem e de que forma conseguirá controlar Kika Nazareth, sem posição fixa entrelinhas. A craque do FC Barcelona regressou frente às transalpinas, e a bom plano, e é motivo de esperança para Francisco Neto e todos os portugueses – pela qualidade técnica, criatividade, mas também pela alma que empresta à seleção.
Marcar cedo seria importante, até para vincar o momento menos bom das belgas e para as retirar desta estratégia mais calculista que adotam com a nova treinadora: tendo de subir linhas, poderão ficar mais expostas à velocidade das avançadas portuguesas. Aí, é necessário ser eficaz.
A estrela: Tessa Wullaert, goleadora e futebolista de exceção
Dificilmente haverá outra seleção em prova com um destaque tão claro como a Bélgica. Tessa Wullaert, com 32 anos, é capitã e melhor marcadora de sempre da sua equipa. Neste Europeu ainda não marcou – e oxalá termine sem o fazer – mas assistiu nos dois golos da equipa frente à Espanha. Antes, foram 92 golos (!) pelo seu país e a lista de vítimas, em que Portugal está presente, é interminável.
Mas desengane-se quem pensar que falamos “apenas” de uma marcadora de golos – pelo contrário, Wullaert baixa, apoia o meio-campo, liga com as colegas tão bem quanto com a baliza. Se a marcarem individualmente, poderão abrir-se espaços interessantes para a Bélgica; se não o fizerem, a jogadora tem toda a capacidade para criar vantagens.
Finaliza bem e mostra uma compostura fora do normal no último terço. Ao olharmos para a sua carreira, a agora jogadora do Inter de Milão, pelo qual apontou 10 golos na presente temporada, somou tanto nos Países Baixos como na liga do seu país mais golos do que jogos. Mais atrás, representou o Manchester City e o Wolfsburgo, entre outros.
Fiquem de olho: Hannah Eurlings voltou de lesão e confirma todas as expetativas
Recentemente contratada pelo Union Berlin, da Alemanha, Hannah Eurlings só faz parte das somente seis atletas que ainda disputavam a liga belga na última época porque, no início de 2023/24, rompeu o ligamento cruzado anterior. Regressou em pleno na presente temporada e, aos 22 anos, o destino da extrema pode ter sido adiado, mas não foi colocado em causa. O faro de golo mantém-se, a agressividade no ataque ao espaço e na procura pela baliza também, e a confiança, sempre debilitada por uma lesão tão duradoura e intrusiva, está a regressar a olhos vistos. Foi titular nos dois jogos e até marcou à Espanha.
Wullaert atrai todas as atenções, mas quem jogar pela direita da defesa portuguesa, onde Ana Borges não poderá estar por expulsão no último encontro, não poderá esquecer-se de Hannah Eurlings.