
O presidente do Farense, João Rodrigues, vê com algum alarme a descida à Liga 2 devido à diminuição de receitas e à falta de apoios, nomeadamente das autarquias locais. Por isso, aponta, a solução é investir num rápido regresso ao escalão maior. «É muito preocupante. É algo que já vem de há bastante tempo e que tem tido tendência para se agravar cada vez mais», disse o dirigente sobre o deserto competitivo a sul no principal escalão.
«Esse vazio competitivo inclui o Alentejo, assim como a margem sul de Lisboa. É situação transversal e que devia preocupar todas as autarquias locais de toda essa zona. Na minha ótica, tem havido uma total despreocupação das autarquias a sul do Tejo com o desporto em geral, não é só o futebol. Conheço muito bem as estruturas que existem no norte do País, em que há um empenhamento incomparavelmente maior das autarquias no processo de construção de infraestruturas e dos apoios às instituições e aos clubes. É uma tristeza, todos os presidentes, diretores, responsáveis dos clubes desta grande região, que é quase metade de Portugal, se queixam dessa situação», acrescentou.
Para o presidente do Farense, a distância que a equipa e adeptos têm de percorrer de 15 em 15 dias para os jogos fora também dificulta: «Claro que é relevante e é muito complicado. Posso dizer que quem apoiou a ida dos nossos sócios e adeptos a muitos dos estádios por esse País fora foi o Farense, pagando os autocarros, apoiando na compra dos bilhetes e logisticamente. Mas o Farense tem a boa sorte de ter adeptos em toda a parte de Portugal e isso é evidente em qualquer lado que nós vamos, E muitas vezes até não são necessariamente de Faro, nem do Algarve, são dessas regiões. Eles nunca nos deixaram, mas contaram também com o apoio do Farense.»
João Rodrigues apontou, depois, as causas da descida. «São muitas. Claro que o começo foi desastroso e nenhum clube em Portugal das competições profissionais conseguiu manter-se com seis derrotas nas seis primeiras jornadas. Mas nós fomos até ao fim e quase que conseguimos. Também não vamos estar aqui a esconder, todos sabem, que houve vários jogos — e não foram poucos — em que também fomos prejudicados devido a evidentes erros da arbitragem. Tivemos também uma onda de lesões, que nunca tive nestes nove anos, com 13 jogadores lesionados num período de dois a três meses no início da época. Mas também assumo que podíamos ter feito algo diferente na formação do grupo», referiu. Para o Farense, jogar na Liga 2 será, agora, «complicadíssimo!», assegurou.
«Não há qualquer clube que tenha situação de equilíbrio financeiro, está tudo em défice. Tem havido grandes problemas financeiros com uma série de clubes na Liga 2, tal como na Liga, mas nesta divisão então é notório, porque a grande parte dos clubes têm a intenção de investir para subir, por isso é tão competitiva, mas têm desequilíbrio financeiro enorme», explicou.
Por isso, o objetivo para 2025/26 é lutar pelo regresso. «Claro que sim, porque a Liga 2 é um buraco que não tem solução, não tem receitas que sejam sustentáveis para os clubes que nela participam. É claramente necessário fazermos tudo para subirmos. Mas temos de compreender que também há um número substancial de clubes que têm exatamente o mesmo objetivo», sublinhou.
«Quando não têm raça nem personalidade...»
O antigo avançado marroquino Hassan, histórico goleador do Farense entre 1992 e 2004, e que jogou no Benfica de 1995 a 1997, vê menos «raça» e «caráter» nos plantéis atuais dos algarvios.
«Tivemos sempre muito boas equipas, com jogadores de grande qualidade, e havia estabilidade, sobretudo da equipa técnica, isso também é muito importante. Agora, podem ter qualidade, mas quando não têm raça e personalidade... e isso é importante num grupo. E foi também por isso que o Farense jogou muitos anos na primeira divisão», afirmou Hassan, atualmente no corpo técnico do WAC Casablanca.
«O Farense desceu por culpa própria, tinha tudo para se manter. Mas quando não ganha jogos em casa, onde perdeu jogos importantíssimos, sobretudo com adversários diretos, fica difícil. Na minha opinião, foi nesses jogos que desceu», assinalou. A descida deixou sentimento de «tristeza» em Hassan, porque o Farense é clube que «merece» estar na Liga. Mas acredita num rápido regresso, pelo «presidente», pelas «condições» e pela massa associativa, uma das «mais fortes do País».