
Chamam-lhe “terramoto” e a magnitude do impacto justifica a hipérbole: nos últimos três anos e três meses, as três eleições legislativas que se realizaram em Portugal conduziram a uma profunda mudança no cenário político nacional.
Numa altura em que as análises e teorias abundam, os politólogos João Cancela (da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas) e Pedro C. Magalhães (do Instituto de Ciências Sociais) publicaram um estudo em que analisam os resultados eleitorais de cada partido por idade, sexo, habilitações académicas e zona de residência. A base do estudo, intitulado “As bases sociais do novo sistema partidário português, 2022 – 2025", são os inquéritos realizados à boca das urnas, em cada uma das eleições (2022, 2024 e 2025), em território continental português, pela empresa Pitagórica.
Estas são as principais conclusões por partido do estudo, que pode ser consultado aqui.
AD
Entre 2022 e 2025, a AD perdeu eleitores entre os homens e permaneceu estagnada entre as mulheres, em todos os escalões etários até aos 55 anos. Por outro lado, tem ganho eleitores mais velhos e com menores níveis de instrução.
A subida foi transversal a todas as regiões: mais acentuada nas zonas rurais, mais limitada nas freguesias não rurais do sul.
PS
Desde 2022, o Partido Socialista perdeu apoio entre homens e mulheres, entre todos os escalões etários e em todos os grupos de escolaridade. Mas a descida foi mais acentuada em dois grupos em que era forte: os eleitores com menos instruções (menos que o ensino secundário) e as mulheres.
Em termos etários, as maiores perdas do PS verificaram-se entre mulheres de todas as idades. Nos homens entre os 18 e os 24 anos, o PS caiu para quarto partido, atrás da Iniciativa Liberal, e entre as mulheres mais jovens luta pela terceira posição com o Livre.
Na distribuição regional, o PS perdeu eleitores em todas as regiões consideradas pelo estudo.
Chega
Nos últimos três anos, o Chega cresceu em todos os grupos sociais. O crescimento foi menor (inferior a 10%) entre os eleitores mais velhos (de 55 anos ou mais) e com instrução superior.
Entre os homens até aos 55 anos, o Chega é o partido mais votado, e entre os homens sem instrução superior também assumiu a liderança.
Nas mulheres, o crescimento é mais acentuado entre as eleitoras de 25 a 34 anos.
No que toca à geografia, o Chega ultrapassou o PS como em vários municípios, sobretudo no sul do país, tanto em distritos rurais como na periferia de Lisboa.
Iniciativa Liberal
O eleitorado da IL é dominado pelos homens mais jovens: entre os homens com menos de 25 anos, o partido chega a ter mais votos que o PS.
De 2024 para 2025, a IL perde apoio entre as mulheres mais jovens e com curso superior, segmentos em que passou a competir com o Livre.
Livre
O Livre tem crescido em todos os segmentos sociais, mas de forma mais acentuada entre os eleitores mais jovens e com curso superior, sobretudo entre as mulheres. Entre as eleitoras, aproxima-se do PS.
Bloco de Esquerda
Entre 2022 e 2024, o BE tinha perdido apoio entre os eleitores de sexo masculino. Em 2025, as perdas estenderam-se às mulheres, sobretudo às que têm curso superior, segmento em que o partido viu fugir metade dos votos.
CDU
A CDU desceu entre 2022 e 2024, estancando a queda em 2025. Tem mais apoio entre os eleitores mais velhos e com menores qualificações, e continua a perder eleitores mais jovens. Este ano, porém, igualou o BE entre os homens mais jovens e com ensino superior.
PAN
Manteve-se estável, com a maior base de apoio entre as mulheres entre os 25 e os 34 anos.