Na região de Odemira, sudoeste alentejano, onde concentra a maior parte das suas quintas e dos 300 hectares de cultivo, 90% dos quais ao ar livre, a empresa portuguesa mostrou aos jornalistas o que está a fazer pelo ambiente mas mantendo, frisaram os seus responsáveis, a qualidade dos produtos, agrião de água, saladas embaladas prontas a consumir, vegetais e ervas aromáticas frescas.

O "Second Nature", segunda natureza, é "um programa que definimos como projeto estratégico para a nossa empresa", explica à Lusa o diretor-geral da Vitacress, Carlos Vicente, no âmbito da visita.

Os objetivos da iniciativa, diz, são na verdade já praticados desde a criação das quintas, há mais de 30 anos. Mas agora querem ir mais além, fazendo face às alterações climáticas, e partilhar as experiências. E acrescenta: "Entendemos que este é um caminho, que iniciámos desde que cá estamos, mas com este formalismo queremos envolver parceiros de negócio e vizinhos, para trabalhar para uma operação mais sustentável".

Junto a uma plantação de ervas aromáticas de onde sai o cheiro a coentros, mais ao longe alfaces e espinafres a serem colhidos mecanicamente, Carlos Vicente explica resumidamente à Lusa os objetivos do "Second Nature".

E diz que o desperdício de produtos não chega a 5% (na verdade não há desperdício porque tudo é reaproveitado de outras formas ou enviado para o Banco Alimentar contra a Fome e para alimentação animal), explica que quando há produção em excesso desenvolvem-se estratégias para valorizar um determinado produto.

E garante que "as estufas não fazem mal nenhum", que pelo contrário são benéficas, embora a empresa que dirige apenas tenha estufas para os produtos biológicos, que representam 10% da produção.

É Simon Hues, diretor de produção da Vitacress, quem explica em pormenor o que é programa de sustentabilidade "Second Nature", assente em seis princípios: redução das emissões de dióxido de carbono (CO2), uso mais sustentável da água, promoção da sustentabilidade dos solos, aumento da biodiversidade, e redução do uso dos plásticos e do desperdício, sempre promovendo os direitos humanos.

Para o primeiro passo, Simon Hues diz que vão ser instalados 1.200 painéis fotovoltaicos na fábrica, ao lado das quintas e de onde saem diariamente toneladas de produtos frescos, prontos a comer.

"Permite uma redução de 30% do consumo de eletricidade", explica o responsável, que fala também da redução do consumo de água em 45% nos últimos quatro anos, bem como na redução do consumo de plástico.

Desde 2021, segundo dados do grupo, houve uma redução de 8,9% das emissões de CO2. Em 2022 a pegada de carbono da Vitacress Portugal foi de 11.900 toneladas de CO2, especialmente associadas ao consumo de energia e às cadeias de valor.

É um investimento de 300 mil euros, ao qual se juntam os 750 mil para reduzir o consumo de água e reforçar a autonomia hídrica.

Carlos Vicente fala também da reutilização das águas de lavagem das saladas, da recirculação da água necessária para o agrião. "Temos tido uma evolução muito positiva em produzir o mesmo com menos 45% de água".

E na redução também no uso do plástico, eliminando materiais desnecessários. Desde 2022 foram reduzidas 184 toneladas, 131 obtidas pela redução da espessura de filmes e cuvetes, com as embalagens a serem compostas quase a 100% por material que é reciclável em Portugal. A empresa quer eliminar ainda este ano mais 63 toneladas. E aumentar o uso de plástico reciclado. E adotar de forma generalizada as embalagens monomaterial.

E para a "Second Nature" o diretor de produção fala ainda da aposta da proteção da biodiversidade, na regeneração de mais áreas, de soluções para aumentar a matéria orgânica.

Carlos Vicente fala também da rotação de culturas já em prática. "Cultivamos em rotação. O que está a ver agora vai rodar com outras culturas para preservar produtividade e saúde dos solos", diz apontando o campo de coentros.

E Simon Hues acrescenta os planos para conhecer e favorecer os ecossistemas que existem nas quintas, os planos de conservação da biodiversidade, sabendo-se que as espécies que habitam os espaços contribuem para controlar insetos e invasoras.

Com 420 colaboradores (28% não portugueses), diz Carlos Vicente que os trabalhadores preferem a empresa, até pela estabilidade já que funciona o ano inteiro. E destaca também a "produção integrada", o controlo de tudo, desde a semente até à entrega do produto final ao mercado, com a fábrica perto das quintas, o que permite que produtos colhidos hoje possam estar no mercado 24 ou 48 horas depois.

Antes, a rúcula, as alfaces, os espinafres, o agrião, ainda terão de ser arrefecidos, lavados (salsa, coentro e hortelã não são lavados), controlados em termos de qualidade e embalados, como explica o gestor fabril Pedro Jesus.

A empresa, diz Carlos Vicente, é "um grande fornecedor" de produtos biológicos para Portugal e Espanha. E questionado pela Lusa acrescenta: "produção intensiva não é o oposto de biológico, biológico pode ser também intensivo".

Salientando a volatilidade do mercado, num dia de calor em que os pedidos de saladas disparam, o diretor-geral destaca à Lusa o uso de vapor de água para preparar e limpar os solos sem aplicar produtos fitofármacos, fala dos produtos cultivados a céu aberto como mais vivos, resistentes e saborosos. E apontando para os carros que recolhem folhas "baby" de alface diz: "amanhã estão no consumidor".

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