"Um novo atraso neste processo não é o que esperávamos que acontecesse, até porque continua a violar a resolução 1701 (2006) do Conselho de Segurança das Nações Unidas", lamentaram a coordenadora especial das Nações Unidas para o Líbano, Jeanine Hennis-Plasschaert, e o comandante da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (FINUL), tenente-general Aroldo Lazaro, num comunicado conjunto.

O acordo, negociado pelos Estados Unidos e por França, entrou em vigor em 27 de novembro, depois de dois meses de guerra aberta entre Israel e o Hezbollah, e tinha um prazo inicial de 60 dias, mas foi prorrogado até hoje, desconhecendo-se se irá haver mais algum adiamento do prazo final.

De acordo com os termos do acordo, o exército israelita deveria ter concluído a sua retirada do sul do Líbano até 26 de janeiro, onde apenas o exército libanês e as forças de manutenção da paz da ONU estariam mobilizados, e o Hezbollah deveria desmantelar as suas infraestruturas no sul e retirar-se para norte do rio Litani.

O exército israelita tem realizado operações diárias para dinamitar edifícios na fronteira e continua a realizar ataques por todo o Líbano, incluindo três no domingo no leste do país, de acordo com a agência de notícias libanesa Ani.

"Um sentimento de segurança entre as comunidades do sul do Líbano, que se debatem com a destruição em larga escala das suas aldeias e cidades, bem como entre os residentes do norte de Israel que tiveram de abandonar as suas casas, não será construído de um dia para o outro e não pode resultar da continuação das operações militares", afirmaram os representantes da ONU na declaração.

Hennis-Plasschaert e Lazaro apelaram a ambas as partes para que "cumpram as suas obrigações" e reiteraram o seu apoio a "todos os esforços nesse sentido".

"O novo Presidente e o novo Governo libaneses estão determinados a alargar totalmente a autoridade do Estado a todas as zonas do sul e a consolidar a estabilidade para evitar o regresso do conflito ao Líbano. Merecem um apoio inabalável neste esforço", acrescentaram.

Em janeiro, o Líbano remodelou completamente a sua liderança política - onde o Hezbollah também tem algum peso - com a nomeação de Joseph Aoun como Presidente e Nawaf Salam como primeiro-ministro.

Ainda assim, os representantes da ONU sublinharam que os entraves ao processo do acordo de paz "não devem ofuscar os progressos concretos realizados desde a entrada em vigor do acordo, no final de novembro".

Segundo o mesmo comunicado das Nações Unidas, as Forças de Defesa de Israel (FDI) "retiraram-se dos centros populacionais do sul do Líbano" e as forças armadas libanesas foram mobilizadas para "apoiar o regresso das comunidades e para restabelecer os serviços essenciais".

No dia seguinte ao lançamento de uma ofensiva militar israelita em Gaza, em resposta a um ataque contra Israel pelo movimento extremista palestiniano Hamas em 07 de outubro de 2023, o Hezbollah abriu uma frente contra Israel, disparando 'rockets' para território israelita a partir do sul do Líbano, o seu bastião.

O grupo xiita alegou estar a agir "em apoio aos palestinianos" e ao seu aliado Hamas. Os tiroteios transfronteiriços evoluíram para guerra aberta em setembro de 2024.

A guerra de 2024 entre Israel e o Hezbollah provocou mais de 4.000 mortos só no Líbano e obrigou mais de um milhão de pessoas a fugir de casa.

Segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), quase 100.000 pessoas continuavam deslocadas no país em 05 de fevereiro.

JYFR (PMC) // JMR

Lusa/Fim