A visão romântica que muitos ocidentais podem ter em relação a África nunca passou pelo imaginário de Susana e Rui Vieira, garantem. Estiveram em São Tomé e Príncipe durante um ano, pela ONGD católica Leigos para o Desenvolvimento, e outros dois em Moçambique, desde 2018, ao serviço do Centro Missionário Arquidiocesano de Braga. Conheceram as duras realidades destes países, mas, igualmente, as suas singulares culturas de vida, as mesmas que, durante muito tempo, foram vistas pelos poderes coloniais como um sinal de atraso civilizacional. Hoje em dia, e na opinião de jovens como este casal português, surgem como um contraponto capaz de trazer um meio-termo ao que consideram ser as absurdas complexidades e exigências do mundo ocidental, assente num espírito de competitividade individual e consumo que parece ter ido longe demais.
O retorno já tinha sido planeado antes de saírem de Moçambique, em dezembro de 2020, findo o período de voluntariado. Rui, nascido em Alijó e formado em direito, era advogado antes de ir em “missão” para África, mas agora vai dar aulas na Universidade Católica de Moçambique, na cidade de Pemba, capital da província de Cabo Delgado. Susana, que vem da área do marketing, tem em mira os projetos de cooperação e desenvolvimento que existem e vão surgindo na região: “estando em Moçambique, é mais fácil integrar um deles”, explica a natural de Vila Nova de Famalicão
A ideia, agora, é construir uma vida, uma família, sentirem que fazem parte de uma comunidade. Pelo meio, vão continuar a contribuir para os projetos de ajuda social em Cabo Delgado ou numa das províncias vizinhas, conforme as oportunidades que surgirem.
Nos últimos anos, Cabo Delgado, a região mais a norte de Moçambique, ficou nas bocas do mundo pelos piores motivos. O conflito armado que aí deflagrou agudizou-se desde 2017, com ataques armados e massacres a serem, entretanto, reivindicados pelos jihadistas do Estado Islâmico, embora não existam certezas sobre quem está realmente atrás desta onda de violência que afeta, principalmente, a população civil. De acordo com as Nações Unidas, o número de deslocados devido aos confrontos na região subiu, em dezembro de 2020, para as 670 mil pessoas.
Que informações, sobre o que se passa nesta região, chegaram aos ouvidos dos dois portugueses? “O cenário não está diferente de quando nos fomos embora, em dezembro. Houve um aumento excecional de pessoas a circular na cidade de Pemba. Ou seja, nos últimos tempos notou-se que a cidade, que antes era relativamente calma, com pouco trânsito rodoviário e poucas pessoas nas ruas, agora já tem congestionamento nas estradas e um grande fluxo de pessoas. Pemba tornou-se mais confusa e menos tranquila do que antes. Os deslocados não foram todos para Pemba, mas muitos deles acabaram por ir para lá”, diz Rui. “O ambiente social mudou. Há muita gente que chegou com pouca coisa na bagagem, há dificuldades da parte de muitos em sobreviver, em conseguir o básico para o dia-a-dia.”
Entretanto, paira no ar uma leve sensação de ameaça, embora o jovem casal não saiba dizer se há reais motivos para isso. É que de Pemba à vila de Mocímboa da Praia – esta última situada mais a norte, também junto à costa, capital de um distrito que ainda se encontra ocupado por forças jihadistas – distam apenas cerca de 180 quilómetros, em linha reta: contudo, para ir de carro de um ponto ao outro é preciso galgar à volta de 300 quilómetros de estrada. “Há um medo latente, em quem vive em Pemba, de que os ataques possam ter como objetivo ou se possam estender à própria cidade. Até hoje, não aconteceu nenhum episódio que confirme essa ideia, mas esse receio existe”, confirma.
E o que lhes vai na cabeça em relação a este clima de escondido nervosismo? “Não sentimos receio, pois não aconteceu nada de concreto, até ao momento, que justifique esse medo”, responde Susana, de imediato. “Claro que há cuidados a ter, tal como em qualquer cidade do mundo que tenha muita população. Mas temos aqui uma rede de amigos, do tempo em que cá estivemos, que se estende de Cabo Delgado a Nampula [província vizinha, situada a sul], e sabemos que eles irão apoiar-nos e indicar o que fazer para que não tenhamos problemas. Aliás, será nessas duas províncias, e com o suporte desse grupo de amizades, que procuraremos oportunidades de trabalho e projetos em que possamos integrar. Não estamos apenas focados em Cabo Delgado.”
“Ir viver para Moçambique não faz parte de uma aventura”
Como seria de esperar, quase todos os familiares e amigos, em Portugal, torceram o nariz sobre se este era o momento certo para decidir ir viver para Moçambique, devido ao conflito armado e por causa da pandemia.
“Não viemos para Cabo Delgado sem estar preparados ou à mercê do desastre. Ir viver para Moçambique não faz parte de uma aventura nem é uma viagem pelo escuro. Se vamos para essa província é porque temos confiança e esperança de que estaremos bem”, salienta Susana.
Primeiro desafio? “Tentar perceber o que é o mundo dos negócios em Moçambique, fora do contexto em que estávamos habituados. Já aqui estivemos, sabemos como gira o mundo profissional, quais e que tipos de relações se criam entre as pessoas, como é que elas trabalham”, começa por explicar Rui. “Mas, nos anos anteriores em que fizemos voluntariado, estávamos num ambiente muito diferente, porque estávamos completamente afastados da cidade, do mundo dos serviços e dos negócios. Agora estamos a ir para uma outra realidade, mais urbana, um pouco mais próxima da que estávamos habituados em Portugal, embora o mundo do trabalho seja completamente diferente do contexto português."
Todavia, não foram só o trabalho e os projetos de apoio social que os levaram a embarcar de vez para África. Resposta atrás de resposta, recuando no tempo, como estivéssemos a descascar uma cebola, percebe-se que, ao fim e ao cabo, procuram algo que não conseguiram encontrar e sentir em Portugal. “Gostamos de Moçambique, da cidade de Pemba, das pessoas. Sentimo-nos bem, enquanto casal, aí”, refere Rui. “Aliás, gostávamos que os nossos filhos nascessem e crescessem lá”, acrescenta Susana. “É um projeto de estadia, que poderá ser de curto-prazo, profissional e de família”.
Há mais, muito mais para contar e justificar. Mas, antes, voltemos atrás no tempo, porque todas as ações nascem de uma ideia, de uma semente que já foi plantada.
São Tomé e Príncipe ensinou-lhes “a alegria de viver o dia-a-dia, apesar das dificuldades”, a “despreocupação em relação ao tempo”
A primeira experiência fora do país, enquanto voluntários ao serviço de uma organização não-governamental para o desenvolvimento (ONGD) católica, deu-se em 2014, através dos Leigos para o Desenvolvimento, quando Susana e Rui ainda mal se conheciam e foram enviados para São Tomé e Príncipe. Curiosidade em ir para fora, sempre a tiveram, mas o plano de irem para este país dos PALOP não surgiu do nada, amadureceu ao longo do tempo, à medida que tentavam perceber se conseguiam identificar-se com os objetivos e aquilo que era pedido pela ONGD.
Ao todo, acabaram por ficar 12 meses em São Tomé e Príncipe. Ele, então com 26 anos, ficou em Porto Alegre, a vila mais meridional da ilha de São Tomé, a meros três quilómetros da linha do Equador que divide ao meio o planeta, inserido em vários projetos, incluindo o que tinha a missão de assinalar os problemas das comunidades locais e arranjar forma de meter em prática as suas resoluções. Ela, um ano mais velha, acabou por ficar na capital, São Tomé, a dar formação profissional no bairro da Boa Morte. No fim, a 4.500 quilómetros de distância de Portugal, acabou por surgir uma amizade entre ambos, a qual acabou por se transformar em algo mais - casaram-se, anos mais tarde.
O que mais os marcou do contacto com as comunidades deste país do Golfo da Guiné?
“Um dos problemas com que fomos confrontados em São Tomé e Príncipe é o do alcoolismo, um problema muito presente no país e que afeta tanto homens como mulheres, de diferentes idades”, recorda Susana. “É uma questão que acaba por afetar o próprio trabalho das organizações que estão no terreno, que afeta a capacidade de compromisso e de disponibilidade de algumas pessoas envolvidas nos projetos. Claro que isto está relacionado com outros problemas sociais já bem conhecidos, como a pobreza. Outra situação é o abandono e a desvalorização das pessoas mais velhas, situação que está em contraponto com o que se passa no resto de África, em que se dá importância e estima aos anciãos, às memórias e histórias que estes têm para contar.”
E o outro lado? “Entre os aspetos positivos que encontrámos está a resiliência dos são-tomenses face às dificuldades que encontram, aos problemas do dia-a-dia, sempre a batalhar pelo emprego e sustento que desapareceu. Apesar de tudo, há uma alegria muito própria das pessoas de São Tomé e Príncipe, um espírito de querer viver o dia com o melhor que ele dá. Aliás, foi esse espírito que acabámos por trazer da ilha: a alegria na simplicidade, a alegria de querer viver o dia-a-dia, apesar das dificuldades, uma despreocupação em relação ao tempo.”
A semente, o “espírito”, estava semeado.
Voluntários portugueses no norte de Moçambique dependem de quem nasceu antes da independência para que os traduzam
Em 2018, partiram para Cabo Delgado, no que será o primeiro ano de voluntariado em Moçambique, fruto de um acordo entre a Arquidiocese de Braga e a paróquia de Ocua, na zona rural da província de Pemba – basicamente, a gestão da mesma ficou a cargo da equipa missionária que para lá foi enviada. Passados 12 meses, voltam a pedir para continuar como voluntários na mesma região. Mal imaginavam que no segundo ano tudo seria dramaticamente diferente, culpa do coronavírus SARS-CoV-2, pois claro.
“O que nos custou mais, até em comparação com São Tomé e Príncipe, foi a adaptação. A maior parte do primeiro ano foi marcado por um processo de adaptação, principalmente por causa da língua”, frisa Rui. “Em São Tomé existem diversos dialetos, mas todos falam português. Em Moçambique, especialmente na zona de Cabo Delgado em que estávamos, a língua local é o makua, que é muito difícil de aprender, e só uma ínfima parte dos habitantes fala português, apesar de ser a principal língua oficial do país.”
Para quebrar essa barreira a única solução passa por recorrer a quem conhece os dois idiomas. Dito de outra forma, a comunicação entre a equipa de missionários e a população local era feita através de tradutores, principalmente os moçambicanos com mais idade, que nasceram antes da independência do país e aprenderam makua e português. “A questão é que, por maior seriedade que exista por parte do tradutor, há sempre algo da mensagem que se perde, porque não se trata de meramente repetir, com outras palavras, o que alguém disse.”
Diferenças culturais, isso é sempre de esperar e o rol delas nunca mais acabaria, Mas houve algumas que se salientaram e por motivos da história recente do país.
“A população do norte é um povo mais sofrido, que sofreu muito com a guerra colonial e a guerra civil, pelo que há muita resistência em se abrir e criar laços com quem venha de fora”, começa por salientar Rui. “As pessoas do norte facilmente abrem a porta da sua casas e são muito generosas, mas é preciso ganhar-lhes a confiança e isso demora muito tempo”, acrescenta Susana. “Existe um pormenor que temos de ter em conta: nós estamos lá em missão, mas sabemos que depois vamos embora para Portugal, e eles também sabem disso. Logo, isto acaba por criar um entrave na possibilidade de se abrirem e se relacionarem mais connosco”.
“De início, quando falávamos da COVID-19, riam-se de nós”
“A principal razão por termos renovado o voluntariado, por mais um ano, foi o facto de termos sentido que grande parte dos primeiros 12 meses foi para nos adaptarmos a estas diferenças culturais”, confirma Rui. “Nesse ano já tínhamos ganho alguma confiança com as comunidades locais, pelo que, para mim e a para a Susana, fazia todo o sentido continuar mais tempo, até porque nos sentíamos bem no país e sabíamos que podíamos dar mais de nós aos projetos sociais em que estávamos envolvidos e a outros que estavam previstos surgir”. Todavia, não estava nos planos que os próximos tempos se resumissem a uma só palavra: COVID-19.
A partir de março de 2020, só Susana e Rui Vieira sobraram da missão de voluntariado montada para aquele ano. Os restantes voluntários, “devido à pandemia ou a outros motivos”, foram-se embora, indica o casal. Quase tudo o que estava planeado levou com um travão e ambos tiveram de se adaptar ao que as circunstâncias pediam.
“Continuámos em Moçambique, mas tivemos de tomar o máximo de cuidados por causa da COVID-19. E assim teve de ser, durante meses e meses. Por duas razões: por uma questão de proteção e para dar o exemplo. De que adianta dizer às pessoas que não podem estar juntas, que não se pode celebrar a missa, nem fazer reuniões ou visitar as comunidades, se depois fazemos o contrário? Tivemos mesmo de dar o exemplo”, recorda Rui. “Entretanto, também tínhamos de deixar preparado o posto de saúde da missão para que tudo se mantivesse seguro, tanto para quem lá trabalha como para os pacientes. Coisas que parecem simples, mas que fazem toda a diferença, como o uso de água e sabão, o uso de máscaras ou o distanciamento social."
“Enquanto voluntários, e no dia-a-dia, tínhamos de perceber em que aspetos podíamos dar o exemplo à comunidade em que nos encontrávamos, para fazer face à pandemia”, menciona Susana, “até porque chegava lá pouca informação [através do poder central ou local] sobre o que se passava e os cuidados a ter”.
“Um dos outros projetos que o nosso centro missionário dinamiza, e em que eu estava inserida, é o apoio ao aleitamento, o qual não podia mesmo parar, pois há crianças que dependem dessa ajuda para se alimentar: ou porque elas estão desnutridas ou porque as próprias mães é que o estão e depois não conseguem amamentar.”
Desde o primeiro dia de abril de 2020 que Moçambique esteve vários meses sob o estado de emergência, com escolas e estabelecimentos encerrados. Até 25 de fevereiro deste ano, o país contabilizou, oficialmente, um total de mais de 58 mil casos de infeção por COVID-19 e 620 mortes devido ao coronavírus. Nesta mesma data, o número de casos ativos situava-se nos 17 mil, a maior parte (11 mil) na cidade de Maputo.
Pelo meio, o país tem de enfrentar duas realidades diferentes, a dos meios urbanos e a das zonas rurais, quando se trata de lidar com a COVID-19.
Tal como adianta Rui Vieira, “dentro da nossa realidade, que era a de uma comunidade rural, a informação, sem ser a que é transmitida por rádio, não chega às pessoas”. Consequência? “No início da pandemia, o sentimento era de desconfiança por parte da população, em relação aos avisos que tentávamos dar. Era uma doença da qual nunca tinham ouvido falar ou sequer viam sinais. Só nós é que falávamos da COVID-19, e, devido ao desconhecimento, riam-se de nós. Quando, finalmente, começou a chegar informação por vias oficiais, através dos chefes das aldeias e dos postos de saúde, é que se começou a levar mais a sério a situação. Foram precisas ações concretas para se perceber o que estava em causa: por exemplo, quando deixou de haver a eucaristia [na igreja], porque tínhamos de apertar com as medidas de segurança, ou quando os postos de saúde começaram a obrigar as pessoas a lavar as mãos, a usar máscara e a manter o distanciamento.”
Mesmo depois das medidas implementadas pelo Governo moçambicano, e apesar do estado de emergência, à medida que o tempo ia passando o casal português notava que o fosso entre os centros urbanos e o mundo rural continua enorme, no país. “Onde estávamos, os cuidados a ter foram diluindo, perderam o ímpeto inicial, por falta de informação oficial e não só. É impossível, por exemplo, implementar o distanciamento social na realidade rural em que estávamos. Dou um exemplo: nessas comunidades, a casa serve, muitas vezes, apenas para as pessoas guardarem os seus pertences e lá dormir quando o tempo está mais fresco, porque na época quente dormem junto à porta, por causa do calor que é imenso. Além disso, o modo de vida destas pessoas choca com os cuidados que são necessários para evitar ter a COVID-19. Elas têm de ir ao campo todos os dias, tratar da sua agricultura de subsistência, e há um maior comunitarismo.”
“Há em Moçambique uma faceta menos individualista do que em Portugal”
Em novembro de 2020, findo mais um ano de voluntariado, retornam a Portugal. E é cá, depois de todos os cuidados que tiveram para impedir que o vírus batesse à sua porta e à de tantos outros, em Pemba, que acabaram infetados com a COVID-19. Seguiram-se algumas semanas, em janeiro, trancados e isolados em casa, na cidade do Porto.
“Em Portugal, nós os dois sentimos uma realidade bem diferente na forma como se olha para a pandemia”, observa Susana. “Em Cabo Delgado, apesar de termos ficado em confinamento, embora a trabalhar e sempre bem informados sobre os perigos e cuidados a ter com a COVID-19, tínhamos a perceção de que o ‘peso’ com que se vivia a pandemia em Portugal era maior. Onde estávamos não se vivia com tanta intensidade o drama (real) da pandemia, mas também porque vivíamos no meio rural e existia a possibilidade de podermos sair à rua, em segurança. É tudo muito diferente do meio citadino português, onde há um clima diário de drama, tanto nos média como junto das pessoas que estão à nossa volta. Neste momento, a pandemia é o principal problema de Portugal, enquanto em Moçambique já existem muitos outros problemas de monta, além da COVID-19. Isso talvez explique, em parte, porque se sente um ‘peso’ diferente em relação à pandemia.”
Entretanto, e enquanto esperavam que a infeção desaparecesse e os testes indicassem negativo, foram preparando o regresso a Moçambique o quanto antes, desta vez para ficar lá a viver. Qual o motivo desta urgência?
“Neste momento, queremos estar num sítio em que sintamos que se possa viver o dia-a-dia de forma simples e desprovida: um pouco à semelhança daquilo que encontrámos em São Tomé e Príncipe. Moçambique marcou-nos, igualmente, pelo espírito comunitário que existe, o que também nos faz gostar de lá viver. Para nós, aquele é o ambiente ideal para criar e expandir uma família. Há uma faceta menos individualista do que em Portugal, dá-se mais importância aos vizinhos”, resume Susana. “Claro que em Portugal poderíamos encontrar isso, em alguns sítios. Mas em Moçambique é algo que se sente de forma mais generalizada. A vida, lá, não se cinge à família e à casa em que se vive: a forma de viver é comunitária. Além disso, queremos continuar, através dos nossos empregos e dos projetos sociais em que vamos continuar a dar um apoio, a aplicar um conjunto de valores humanos e católicos que consideramos importantes.”
“Nos países desenvolvidos, como Portugal é (apesar de existir quem, fechado na sua bolha, ache o contrário), há uma obsessão em estar sempre preocupado com a parte material da vida”, dispara Rui, logo a seguir. “É a preocupação em ter a casa ideal, a preocupação em ter um bom carro. Além disso, parece que somos obrigados a ter muitas coisas para fazer, a ter demasiados objetivos para atingir. Mais tarde, nota-se que vem ao de cima uma frustração, pelas expectativas que colocámos em cima de nós e que, depois, não conseguimos cumprir, porque o nosso tempo não é eterno. E, pelo meio, deixámos de fazer ou de nos preocuparmos com outras coisas que são importantes para a nossa vida. Precisamos de um meio-termo.”