No dia de Natal um navio da guarda costeira finlandesa da classe Hamina intercetou um petroleiro da chamada "frota sombra" da Rússia por suspeita de que este navio cortou cabos que transportam eletricidade entre a Finlândia e a Estónia.

Este incidente não está isolado. Enquadra-se numa série de incidentes semelhantes envolvendo navios russos ou chineses no Báltico e que provocaram o corte de vários cabos submarinos neste mar do norte da Europa:

  • Em novembro de 2024: Dois cabos submarinos de comunicações foram cortados: um entre a Suécia e a Lituânia, e outro entre a Alemanha e a Finlândia. As investigações apontaram responsabilidades para o navio chinês "Yi Peng 3" que cortou os cabos ao arrastar deliberadamente a sua âncora sobre o local onde passavam esses cabos. Embora não haja provas diretas que liguem o governo chinês ao incidente, suspeita-se de uma possível implicação indireta da Rússia especialmente através do comandante russo do navio ou cumplicidade pura e simples por parte do regime de Pequim.

Apenas alguns dias depois, mas em dezembro, o petroleiro "Eagle S", com bandeira das Ilhas Cook mas propriedade, de facto, da Rússia, foi detido pelas autoridades finlandesas por suspeita de sabotagem do cabo submarino Estlink 2, que liga a Finlândia à Estónia. O incidente deixou o cabo fora de serviço durante pelo menos dois meses. O presidente finlandês acusou directamente a Rússia, acusando o navio de pertencer à "frota fantasma" que o Kremlin usa para contornar as sanções ocidentais desde a invasão da Ucrânia em 2022.

Seguindo os dados do site MarineTraffic o petroleiro russo que tinha partido de São Petersburgo e dirigia-se ao Cairo mas está agora parado ao lado do navio de guerra finlandês "UISKO". Os finlandeses observaram que quando o cabo foi cortado o petroleiro russo estava a passar na zona e tinha abrandado o seu curso. Por outro lado, as âncoras do Eagle S não estavam posicionadas, o que reforça a tese da responsabilidade no corte do cabo de corrente contínua EstLink 2, entre a Finlândia e a Estónia. As reparações irão agora demorar entre dois e sete meses a um custo entre os 10 e 45 milhões de euros, dependendo da gravidade do dano e da rapidez da reparação.

Na Zona Económica Exclusiva (ZEE) Portuguesa também têm sido avistados e seguidos pela marinha portuguesa vários navios russos. Em agosto de 2024 três navios mercantes foram acompanhados pela Marinha Portuguesa durante nove dias e mais tarde, também em novembro de 2024, o navio de pesquisa "Yantar", foi seguido pela Marinha Portuguesa durante a sua passagem por águas nacionais. Este navio também foi avistado nas costas de outros países da NATO, acreditando-se que esteja a mapear os locais onde passam exatamente cabos submarinos (de comunicações e eletricidade) preparando posteriores operações de corte ou sabotagem.

Este incidente de dezembro, assim como o registo de presenças suspeitas russas na nossa ZEE reforçam a necessidade de a NATO aumentar a quantidade de patrulhas navais e aéreas no Báltico e de passar a realizá-las também na nossa ZEE.

No caso português estes incidentes reforçam a necessidade de manter o plano de construção de Patrulhas Oceânicos "Viana do Castelo" dos quais Portugal já possui o NRP Viana do Castelo (2011), o NRP Figueira da Foz (2013) assim como o NRP Sines (2018) e o NRP Setúbal (2019) que deverão ser reforçados entre 2026 e 2030 por mais seis navios da mesma classe.

A Finlândia também está a planear a substituição dos seus principais navios de guerra por uma nova classe multipropósito cujo concurso foi ganho pelos estaleiros turcos "Meyer Turku Oy" em que o primeiro navio deve entrar ao serviço já em 2025 e o segundo em 2026 (havendo planos para mais duas corvetas). Apesar deste reforço a marinha finlandesa continua muito abaixo do que seria razoável para lidar com o nível de ameaça actualmente apresentado pelo seu vizinho russo: tendo apenas quatro navio de ataque rápido Hamina, outros 4 Rauma e 18 draga minas de diversos tipos, alguns bastante obsoletos (de 1974 e 1975) a marinha finlandesa é hoje uma sombra daquilo que foi na Segunda Grande Guerra, época em que chegou a operar contra a União Soviética dois cruzadores ligeiros e cinco submarinos.

A resposta a esta ameaça por parte da Finlândia tem de ser mais musculada. Assim como a que Portugal deu ("absolutamente inaceitável") ao ataque à sua embaixada em Kiev por mísseis russos não pode ficar apenas pelas palavras vazias que os bullies (como a Rússia) desprezam e classificam como sinal de fraqueza. Em março de 2023, Portugal enviou para a Ucrânia 3 tanques Leopard 2A6 depois de reparados e colocados e modernizados na Alemanha. A resposta "veemente" portuguesa não pode passar por palavras e devem passar pelo envio de mais três Leopard 2A6 para a Ucrânia já que possuímos 37 tanques deste tipo mas apenas 14 unidades estão operacionais e integradas no Exército Português, enquanto os restantes estão armazenados, aguardando manutenção ou atualização.

A Rússia é um bully: os bullies - por definição - entendem respostas "diplomáticas" ou meramente verbais como sinais de fraqueza. A Europa e a NATO não podem temer a resposta a qualquer reação à guerra híbrida que o Kremlin conduz contra o Ocidente: pelo contrário: é a Rússia que deve temer uma resposta da NATO.