
A partir do momento em que foi pai, Pedro Franca Pinto, gestor deste alojamento de turismo de natureza, questionou-se sobre “que tipo de mundo iria deixar ao filho”. Desde então, o Craveiral Farmhouse, localizado em São Teotónio, perto da Zambujeira do Mar, no concelho de Odemira, tem desenvolvido ações concretas de responsabilidade ambiental e social. O projeto abriu portas em 2018 e, desde logo, implementou o conceito “da horta para a mesa”, através de produção biológica própria, que hoje ocupa mais de sete mil metros quadros de área, assim como um sistema de compostagem.
Em 2025, este hotel rural conquistou o prémio Sustentabilidade atribuído pelo Guia Boa Cama Boa Mesa, com o apoio do Recheio.
Da ementa do restaurante Craveiral Farmtable, preparada com cerca de 70% dos ingredientes de cultivo na horta e no pomar (os restantes de produtores locais), constam os nomes de todos os membros da equipa da cozinha, alguns vindos de destinos longínquos como o Nepal. Já têm pratos próprios na carta, contributos gastronómicos mais exóticos para dar a provar a quem os visita. Esta ação serve, segundo Franca Pinto, para valorizar a equipa e dar a perceber a quem prova o desafio que representa levar um prato à mesa. “O Raj, o Sunil, o Rodolfo e o Takaj, são todos iguais, têm igual importância, na cadeia de valor, e, se não fosse cada um deles, não iríamos estar aqui sentados à mesa a tomar uma refeição”.
Reforça a ideia de que os nepaleses fazem parte da comunidade local e que, na Costa Alentejana, são essenciais para a atividade agrícola, para a hotelaria, e que o mesmo é válido para Lisboa. A cozinha tem o chef Paulo Pedro como responsável, mas o empresário não concorda com a lógica de personificar um projeto no nome de uma pessoa “por não ser justo para todos os envolvidos”.
“Não queremos estar na região apenas nos bons momentos”
O Craveiral Farmhouse promove a integração de todo o projeto na comunidade local, bem como a regeneração de territórios e a sustentabilidade, que não se limita à vertente ambiental. “Não queremos estar na região somente nos bons momentos, mas antes contribuir para a sua dinamização. Para tal, temos de estar abertos o ano inteiro, ainda que do ponto de vista financeiro não seja a decisão de curto prazo que a maioria das pessoas tomasse, mas uma visão de longo prazo faz com que seja diferente”, explica o fundador. Para justificar esta opção, recorda que durante a pandemia o alojamento não fechou: “Se é um projeto para a vida, não seriam 18 meses que o iriam pôr em causa”, justifica. A horta e os animais permitiram a reinvenção dos dias e do projeto.
Além da horta e das pessoas, os animais são outra componente fundamental no Craveiral Farmhouse. Entre o burro, as cabras e as ovelhas, as galinhas serão as mais famosas, pelos ovos que põem que são servidos ao pequeno-almoço. A criação avícola é um projeto que o alojamento realiza em conjunto com o Instituto Superior de Agronomia. Traduz-se numa parceria na criação de galinhas de raças autóctones portuguesas que estão em via de extinção, nomeadamente a Branca, a Amarela, a de Pedrês Portuguesa, a Preta e a Lusitânica. Alimentadas a malte, que já serviu para a produção de uma cerveja artesanal, estas galinhas contribuem para o objetivo do Craveiral Farmhouse ser totalmente autossuficiente em ovos e, ao mesmo tempo, preservar as raças autóctones portuguesas.
Um projeto para a vida
Pedro Franca Pinto é advogado, tem escritório em Lisboa, mas em criança queria ser agricultor. “Fui relativamente condicionado a ir para Direito”, recorda. Antes de começar o projeto Craveiral Farmhouse esteve nove anos em várias empresas e depois voltou à advocacia. “Se me perguntam se há alguns anos ligava a questões de sustentabilidade? Não ligava”. O Craveiral fez com que evoluísse para uma perspetiva do futuro que obedece a uma visão intergeracional, dada pelos filhos e do que deixar do ponto de vista da educação, do legado. “Como quero que os meus filhos olhem para o pai, como um profissional de sucesso ou alguém que tentou criar impacto positivo na região, numa micro escala? Não quero mudar o mundo, mas posso mudar a região ou o meu condomínio”. Esta ideia deu lugar a um rebranding da marca que engloba todos os projetos criados por Pedro Franca Pinto há mais de 10 anos. No lugar da “Belong” surgiu a “Belong, giving shape to meaning” que vê acrescentado o mote “Dar forma ao significado, dar forma ao propósito”.
A atual estratégia do Craveiral é de consolidação. “A ideia da “horta para a mesa” é uma história que nunca acaba, há sempre ajustamentos e o objetivo é ir aumentando ao máximo possível a produção própria, o recurso a produtores locais e ao peixe da costa atlântica, das lotas de Sines, da Zambujeira do Mar e de Sagres. Fazer otimizações, e continuar as residências artísticas duas vezes por ano”. As 38 casas que compõem o alojamento, bem como as zonas comuns do Craveiral Farmhouse estão decoradas com obras de arte originais provenientes de residências artísticas do alojamento, maioritariamente de artistas portugueses.
O novo desafio são as residências gastronómicas com o desafio de somente se cozinhar com os produtos do Craveiral. O fumo do forno a lenha vai ser aproveitado para curar enchidos e peixe. Continuam a fazer o pão, as compotas e produzem cogumelos shitake através da aquisição de sacos com terra vegetal inoculada. Depois a terra é reutilizada na horta. “Fazemos esse ciclo permanentemente para tentarmos ser autossuficientes em cogumelos”. Uma máquina faz a compostagem em 24/48 horas e otimizam a recolha de lixo nas casas porque “o objetivo é não sair lixo orgânico do Craveiral Farmhouse, somente vidro, papel e plástico”.
Economia circular chega a Lisboa
Pedro Franca Pinto alargou a influência e impacto do Craveiral a Lisboa. Com o chef André Magalhães, explora o restaurante do renovado Centro de Arte Moderna (CAM) da Gulbenkian. De domingo a quinta-feira sai do Alentejo rumo a Lisboa um transporte com os verdes, pastelaria, polvo, bifes e frango e, no regresso, transporta os desperdícios orgânicos para a compostagem. A pretensão é trabalhar em forte parceria com o CAM para ter menus inspirados nas exposições temporárias.
A restauração em Lisboa permite manter a equipa toda do Craveiral Farmhouse, na cozinha e na agricultura, aproveitando a sazonalidade para, nos períodos de menos ocupação, continuar a produzir e a transformar produto, reencaminhado para a capital, em automóveis elétricos. Desta forma liga, mais uma vez, a horta à mesa e restaura território através da economia circular ao utilizar os mesmos ingredientes em todos os espaços de restauração. Sempre oriundos do hotel rural e de produtores da região, fazendo a logística com o menor impacto possível em termos de pegada e plástico.
Em Lisboa ou em Odemira, mas também nos futuros projetos em progresso na região, Pedro Franca Pinto quer fazer a diferença nos territórios, mas sempre com a sustentabilidade no respetivo ADN.
Sobre o Craveiral Farmhouse (EM 501, Km 4, São Teotónio. Tel. 28324 9170) pode ler-se no Guia Boa Cama Boa Mesa 2025: “Os 38 alojamentos, com diversas tipologias, entre casas, estúdios e farm lofts (desde €280), estão acessíveis mediante passadiços de madeira que ligam as zonas sociais, como o restaurante e a sala de estar, situados ao lado da piscina interior, sauna e banho turco. Existe uma segunda sauna, aquecida a lenha, para experimentar na herdade. Há bicicletas para utilizar à vontade. Ouvem-se os sons das ovelhas, cavalos, burros e galinhas, que fornecem os ovos para os pequenos-almoços. Os hóspedes podem visitá-los e também passar pela horta para colher alguns ingredientes e confecioná-los nas cozinhas dos alojamentos, tal como faz a equipa do restaurante, que partilha por WhatsApp algumas receitas com aqueles que desejem aventurar-se entre tachos durante a estada. Situado no alpendre em frente à piscina exterior, o forno a lenha serve de combustível a pizzas, mas a ementa alarga-se a outras opções.”
O Guia Boa Cama Boa Mesa 2025, que conta com o apoio do BPI e do Recheio, já está disponível nas bancas por 19,90. Pode também encomendar AQUI com desconto e oferta de portes.