A Inteligência Artificial está a redefinir como lideramos, aprendemos e trabalhamos nas organizações. Com 58% das empresas a colocarem a IA no topo das competências prioritárias, é urgente abordá-la com espírito crítico. Entre o fascínio desenfreado e o temor injustificado, importa separar mitos de verdades para implementar estratégias de formação que efetivamente preparem as organizações para um novo paradigma digital. Um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos revela que 47% dos trabalhadores portugueses já ocupam profissões altamente expostas à IA, sublinhando a oportunidade estratégica que a formação representa.

Mitos Mais Comuns

“A IA vai substituir formadores e profissionais de L&D”
Este receio ignora o conceito de “terrenos de digitalização”, que mapeia profissões, tais como: “profissões em ascensão” (beneficiam da IA sem risco de automação), “terreno das máquinas” (beneficiam com risco), “terreno dos humanos” (pouco afetadas) e “profissões em colapso” (vulneráveis à substituição). Embora 30% do emprego esteja em risco, as atividades formativas situam-se maioritariamente nas “profissões em ascensão”.

“A IA é demasiado complexa para ser implementada na maioria das empresas”
As organizações, frequentemente subestimam a sua capacidade de adoção tecnológica. Na realidade, muitas empresas portuguesas estão a iniciar este percurso através de abordagens progressivas e acessíveis – estabelecendo ações de sensibilização, workshops e microlearning, sem necessidade de investimentos massivos iniciais.

“Basta adquirir ferramentas de IA para transformar a formação”
Este é talvez o mito mais perigoso. A tecnologia, por si só, não garante resultados. As “profissões em ascensão” dependem principalmente de competências humanas como, comunicação, colaboração e criatividade (32%), seguidas de gestão de informação (23,5%).

Verdades e benefícios reais

A IA entrega benefícios concretos à formação empresarial nomeadamente, personalização da aprendizagem – identificando necessidades específicas e analisando padrões de desempenho, de forma objetiva.

Organizações com programas estruturados de formação registam aumentos de produtividade e maior confiança no uso destas tecnologias. A solução está em integrar a IA como evolução natural nos processos existentes.

Outro benefício é a otimização da gestão de talento baseada em dados, promovendo decisões mais informadas num mercado competitivo e em transformação.

A importância das competências digitais

O domínio da IA requer um conjunto equilibrado de competências que vai muito além do conhecimento técnico. Estudos recentes vêm reforçar esta premissa demonstrando que, nas profissões mais bem posicionadas para a era da IA, as competências puramente técnicas ligadas à operação digital representam uma importância relativamente baixa (cerca de 8%).

A formação deve desenvolver três dimensões complementares. Competências socio emocionais, através da comunicação, colaboração e criatividade (que representam mais de 36% das competências exigidas nas profissões mais valorizadas); competências cognitivas, por via de um pensamento crítico e gestão de informação para avaliar resultados e identificar enviesamentos; e, competências técnicas, com a compreensão dos fundamentos, potencialidades e limitações dos diferentes sistemas de IA.

As empresas mais bem-sucedidas estão a criar academias internas de IA e a apostar em ferramentas de diagnóstico, para avaliar o nível de maturidade da organização e desenvolver programas de formação verdadeiramente ajustados às suas necessidades reais.

A integração da IA nos processos formativos está a tornar-se uma necessidade básica. As organizações que equilibrarem tecnologia, competências humanas e impacto organizacional estarão mais bem preparadas para o futuro.

A formação é o motor desta transformação – criando uma cultura de aprendizagem contínua, ética digital e adaptabilidade. O futuro pertence às empresas que compreenderem que a verdadeira inteligência está na complementaridade entre humanos e máquinas.

Joana Teixeira é Head of Digital Learning da Cegoc