
Há um dia… um dia preciso, maldito, que chega sem aviso. Um dia em que deixas de ligar. De responder. De voltar a casa. Um dia em que começas a dizer que estás ocupado, que tens prioridades, que a vida está a correr, e tu corres com ela, sem olhar para trás.
E nesse dia… nesse dia, sem te dares conta, a tua família deixa de estar em primeiro lugar. Não é de propósito. Ninguém o faz de propósito. É subtil. É um almoço adiado, uma chamada por atender, um “depois ligo” que nunca chega. E dizes a ti próprio que é só por agora. Que é temporário. Que estás a construir algo. Que eles vão perceber. Mas não percebem. Sofrem. Calados. À tua espera.
E tu… tu não voltas.
Começas a viver num mundo onde os sorrisos são falsos e os abraços são interesseiros. Onde te aplaudem quando conquistas, mas te esquecem quando cais. E nessa ilusão de conquista, vendes a tua alma por pedaços de sucesso que não te preenchem. Roubas tempo a quem te ama, para o dares a quem mal te conhece.
Lembras-te do cheiro do arroz da tua mãe ao domingo? Da gargalhada do teu pai quando faz aquela piada seca que já ouvistes mil vezes? Lembras-te do colo que te segurava nos dias maus? Lembras-te? Porque um dia vais querer lembrar e pode já não haver ninguém para te contar.

E nesse dia, meu amor… nesse dia, se tiveres um grão de lucidez, um fio de consciência… vais cair de joelhos. Vais olhar para trás e perguntar-te: “Onde foi que me perdi?”
Perdeste-te no caminho em que trocaste amor por pressa, presença por ausência, raiz por voo cego.
E então, se ainda fores a tempo, volta atrás. Com tudo. Com lágrimas. Com medo. Com vergonha. Mas volta. Agarra na mala, no telemóvel, no que te resta… e volta. Volta antes que seja tarde, antes que a porta que sempre esteve aberta esteja agora fechada não por raiva, mas por silêncio. Por dor.

Porque a família… a verdadeira… é o único amor que não exige nada em troca. Só que estejas. Só que vivas com eles, e não apenas ao lado. E se algum dia te esqueceres disso… para. Respira. E volta atrás. Porque escolheste mal o caminho.
E podes ter tudo, dinheiro, fama, reconhecimento, mas se não tiveres onde pousar a cabeça num colo que te conheça desde o berço… não tens nada. És só sombra.
Volta atrás.
Enquanto ainda tens quem espere por ti.
E mais não digo…