
Torre Pacheco, uma pacata localidade da região de Múrcia, com pouco menos de 40 mil habitantes, tornou-se esta semana palco de confrontos violentos motivados por apelos xenófobos. A tensão instalou-se após grupos de extrema-direita incentivarem abertamente uma “caça aos magrebinos”, o que levou à mobilização de dezenas de elementos da Guardia Civil para conter os distúrbios e evitar um desfecho ainda mais trágico.
A origem da escalada de violência remonta a quarta-feira, quando um homem de 68 anos foi agredido, alegadamente por jovens imigrantes. O incidente incendiou os ânimos e motivou a convocação de uma manifestação inicialmente pacífica. Contudo, rapidamente a situação descambou em violência, com confrontos entre locais, imigrantes e elementos associados a movimentos extremistas.
Entre os principais instigadores estão os grupos Deport Them Now e Desokupa, conhecidos no país vizinho pelas suas ações radicais. Foram estes grupos que usaram as redes sociais para apelar à chegada de simpatizantes de outras zonas do país a Torre Pacheco, com o claro objetivo de instigar a violência. “Anunciaram nas redes sociais uma ‘caça’”, denunciou a delegada do Governo de Múrcia, Mariola Guevara, sublinhando que se tratou de uma ação premeditada por organizações antissistema.
O cenário de tensão levou à intervenção da Guardia Civil, que destacou 75 agentes permanentemente para garantir a ordem pública. A situação agravou-se ao ponto de a Associação Profissional de Justiça da Guardia Civil (Jucil) lançar duras críticas ao Governo central, acusando-o de falta de meios e de resposta tardia. “Esperamos que Marlaska tenha feito o seu trabalho”, atirou a associação em comunicado publicado na rede social X, numa referência direta ao ministro do Interior, Fernando Grande Marlaska.
Também a Associação Unificada de Guardias Civiles se pronunciou, afirmando que se perdeu o “princípio da autoridade” na cidade murciana e os agentes atuam em “situações limite, sem o apoio necessário”. Ambas as organizações exigem reforço urgente de meios humanos e materiais, alertando para o risco de se registar uma “desgraça terrível” se nada for feito.
Até ao momento, as autoridades confirmam a existência de um detido e cinco feridos, mas continuam a investigação para identificar outros envolvidos, com recurso às redes sociais para rastrear as origens do movimento extremista que desencadeou a violência.
O caso está a chocar a opinião pública espanhola, não apenas pela gravidade dos distúrbios, mas também pelo seu carácter claramente xenófobo e organizado, num país onde as tensões sociais têm vindo a agravar-se em torno das questões migratórias.
A cidade de Torre Pacheco, conhecida pela sua tranquilidade e pelo número significativo de trabalhadores migrantes na agricultura, vive agora sob forte tensão social. A prioridade das autoridades é estabilizar a situação e evitar que o conflito se alastre a outras localidades da região ou ganhe dimensões ainda mais perigosas.