Há portas que se abrem com um empurrão leve. Outras exigem códigos, chaves, espera e paciência. Portugal, país de chegadas e partidas, decidiu neste mês de julho mudar as fechaduras da sua porta de entrada.

O Parlamento aprovou novas regras para a imigração. Medidas que alteram a forma como cidadãos estrangeiros podem entrar, permanecer e regularizar-se no país. A mais simbólica das mudanças foi o fim da chamada “manifestação de interesse”, que permitia, até aqui, que quem já vivia e trabalhava em Portugal pudesse, ao fim de algum tempo, pedir legalização. Muitos chamavam-lhe uma porta de esperança. Agora, essa porta fechou-se.

A nova lei exige que os processos comecem nos consulados, nos países de origem. Institui regras mais restritivas para o reagrupamento familiar e cria uma unidade policial especializada no controlo da imigração. Fala-se de ordem, de segurança, de previsibilidade. Fala-se pouco de quem está do outro lado.

Porque no meio da linguagem técnica e legal, há histórias reais. A mulher guineense que cuida de idosos no interior alentejano, o pedreiro hindu que envia metade do ordenado para casa, a jovem brasileira que limpa escritórios de madrugada enquanto estuda enfermagem à tarde. Pessoas com vidas discretas, rotinas duras, sonhos simples.

A lei muda. A realidade, não tanto. Portugal precisa de trabalhadores. Muitos setores da agricultura ao turismo não funcionariam sem quem vem de fora. E quem vem, geralmente, vem para contribuir. Para tentar. Para construir o que ainda não tem.

Talvez por isso, mais do que perguntar se a lei está certa ou errada, valha perguntar: o que queremos ser como país? Uma casa fechada a sete chaves ou um lugar que sabe receber com justiça e critério?

Nenhuma porta se mantém aberta sozinha. É preciso cuidar da fechadura, garantir segurança e equilíbrio. Mas também é preciso olhar quem está do lado de fora e lembrar que, muitas vezes, já estivemos lá. Não sejamos de esquerda ou direita, sejamos ser humanos!