As derradeiras noites da primavera foram brindadas com esplanadas repletas, desportistas na La Salette e meros caminhantes nas imediações do coração citadino. Na pedonal, a pacatez condiz com o céu limpo, estrelado e obrigatório de contemplar. À vontade, até quando Azeméis dorme. Este perfil sereno – nem sempre satisfatório – aportou à cidade o título de “oásis”, aparentemente livre de tensões importadas das metrópoles. Todavia, esse ciclo terá terminado.

Na sociedade do medo e dos extremos – agravada desde 2020 – o ódio prolifera e aprisiona desconfiados, ultrassensíveis e descrentes, ávidos de soluções inexistentes e inconvenientes para os autodenominados líderes do amanhã.

Há demasiadas nuvens, a luz das estrelas esbarra em tensões infundadas e debates vazios. Esta conjuntura também engoliu Azeméis, à boleia de discursos mediatizados e falaciosos, com argumentos e exemplos desajustados.

Não por acaso, a segurança é motivo de acessos debates, face a uma estranha vaga de incidentes. Sem surpresas, há quem se aperalte para visar imigrantes de diferentes latitudes. Não ilibando eventuais espíritos vazios de caráter, esta onda de indignação e de desconfiança serve de mote àqueles que anseiam reinar na instabilidade.

Desde abril, o centro de Azeméis foi visado por incidentes na via pública e assaltos – sobretudo na zona pedonal – aos quais se somam sucessivos atos de vandalismo. Ora, qual a preponderância das autoridades?

“Pois, só servem para passar multas e passear de carro” – dirá o Zé Povinho, de coração na boca.
Independentemente de nacionalidades, valores ou perspetivas, esta é uma questão de civismo. Quando a etnia determinar a existência de crimes, então terei certezas quanto ao rumo que tomámos.

Numa era de tensões, urge reedificar o “oásis” que o concelho tem na génese, o lugar de todos, daqueles que estão de passagem e dos que veem em Azeméis um porto seguro, de pessoas imperfeitas, mas acolhedoras. É neste prato difícil de equilibrar que assenta a convivência democrática. Utópico? Talvez não. Se esta missão nortear o quotidiano, por certo lançaremos a semente.

Esta carta mereceria outra profundidade, mas não pretendo deambular para a política. Fico-me pelo essencial – a coexistência, o respeito, a partilha, a coerência, a organização e a seriedade intelectual. Sejamos o oásis, o princípio da paz.

“There must be more to life than killing A better way for us to survive

What good is life, in the end we all must die There must be more to life than this” – Freedie Mercury.

Santiago de Riba-Ul, 20 de junho de 2025