
O ex-motorista de Eduardo Cabrita afirmou esta quinta-feira, na primeira sessão do julgamento que decorre no Tribunal de Évora, que não teria feito “nada de diferente” para evitar o atropelamento mortal de um trabalhador na A6, ocorrido em 2021.
Marco Pontes, que conduzia a viatura oficial do então ministro da Administração Interna, responde em tribunal pelo crime de homicídio por negligência grosseira.
Perante a juíza Vanda Simões, o arguido declarou que desconhecia a velocidade exata a que seguia, apesar da perícia ter indicado que conduzia a 155 km/h.
“Não tenho a perceção de que ia a essa velocidade. Até achava que ia devagar, nas condições em que circulava”, disse ao tribunal, contudo, ainda sublinhou que não havia qualquer pressa para chegar a Lisboa, após uma deslocação a Portalegre, e que não recebeu instruções sobre a velocidade a adotar.
Na sua intervenção inicial, o advogado de defesa, António Samara, afirmou que o peão caminhava de costas para o trânsito e que o motorista travou e buzinou ao vê-lo, reforçando que “não houve tempo” para evitar o embate.
Marco Pontes relatou que seguia na faixa da esquerda da autoestrada, à frente de dois outros veículos da comitiva, numa formação triangular, seguindo, segundo disse, as orientações de segurança habituais: “Das milhares de comitivas em que participei como motorista, é esta a formação usada e são as indicações que nos dão”.
Sobre o momento do acidente, descreveu que foi surpreendido pela presença do peão “a meio da faixa” da esquerda. “Vejo o peão, travo e buzino”, contou, acrescentando que este, ao ouvir o som, virou-se, tentou ir para a berma, mas acabou por se dirigir para o separador central, momento em que se deu o embate.
Quanto à sinalização na via, afirmou que “os únicos sinais eram os que estavam acoplados na carrinha” de transporte dos trabalhadores, acrescentou que só viu a carrinha “na altura do embate, naqueles milésimos de segundo”.
Relativamente à visibilidade do trabalhador, Pontes disse que usava “farda cinzenta, que estava suja”, e admitiu a presença de “algumas faixas refletoras” na roupa.
Depois do acidente, contou, o então ministro Eduardo Cabrita foi transportado por elementos da segurança para outro veículo, enquanto ele permaneceu dentro da viatura, “em choque e transtornado”. “Pensei logo que aquele acontecimento me tinha destruído a minha vida”, afirmou o ex-motorista, que revelou estar a receber acompanhamento psicológico e psiquiátrico, devido a um diagnóstico de stress pós-traumático.
Durante a sessão, a mulher e as duas filhas da vítima, – Nuno Santos -, prestaram declarações em tribunal sobre o impacto da perda na vida familiar. No final da audiência, o advogado da família, José Joaquim Barros, revelou que está em curso uma tentativa de acordo com a seguradora relativamente ao pedido de indemnização cível.
O acidente aconteceu a 18 de junho de 2021, ao quilómetro 77,6 da autoestrada A6, no sentido Estremoz–Évora, quando a viatura oficial em que seguia Eduardo Cabrita atropelou mortalmente Nuno Santos, de 43 anos, trabalhador de uma empresa de manutenção da via.
A acusação do Ministério Público foi formalizada a 3 de dezembro de 2021, data em que Eduardo Cabrita apresentou a sua demissão do cargo de ministro da Administração Interna.