
O que importa exigir de uma autarquia é tanto o que ela mesma deve executar quanto o que deve reclamar. Por isso, os propósitos dos partidos políticos têm razões acrescidas para mostrar, com expressão local mais concreta, o que querem de modo diferente uns dos outros. Só através das diferenças manifestadas nos programas, nos discursos, nas ações e no pensamento que se revela se pode perceber a honestidade do que pretendem para ninguém ser levado ao engano. Não é certamente indiferente escolher um projeto claro de tipo progressista ou outro conservador/ liberal porque essas diferenças se vão revelar também nas nossas vidas em cada localidade.
Se, num âmbito nacional, se fazem apelos populistas apenas para alcançar o poder, repetidamente mendigado pela extrema-direita até à rejeição absoluta; se usam argumentos de instigação ao ódio lançado sobre pessoas de etnias ou proveniências diferentes; se aproveita a representação parlamentar para insultar mulheres e ofender quem tem deficiência; se acena com bandeiras mais cheias de moral do que de medidas concretas, como é o caso da corrupção (que em si mesma nada leva ou traz para a melhoria de vida de cada trabalhador ou aposentado, na medida em que os mesmos que dizem perseguir corruptos com agravamento de penas não mostram querer usar recursos financeiros para investimento em serviços públicos, substituindo-o pelo cheque ao utilizador/cliente enquanto houver dinheiro no mealheiro comum), no domínio local, o discurso tático e até promotor de xenofobia ou racismo tem menos caminho para andar, mas pode aparecer com pezinhos de lã, logo há que dizer ao que cada um vem, isto é, o que cada partido efetivamente quer para que não vingue a farsa. Afinal, de que modo mostram a suas marcas identitárias, os seus cartões de apresentação, os que querem meter na constituição a sentença de os portugueses ficarem sem garantias de acesso à saúde, à educação e até à aposentação. Na verdade, todos podem manifestar vontades comuns, mas surpreendente seria, por exemplo, ver o radicalismo liberal e o conservadorismo que com ele convive exigirem que a autarquia se deve empenhar no investimento em serviços públicos de impacto social, na ocupação e educação de crianças ou no apoio e nos cuidados a idosos. No entanto, o município deve não só promover a melhoria de infraestruturas e equipamentos como também tem de procurar que se criem ou alarguem onde se tornem indispensáveis para o bem-estar das famílias cujas crianças e jovens não podem ser treinados ao desenraizamento das suas localidades. Sair e esquecer é o passo para promover outros abandonos e a desertificação, logo a valorização da capacidade instalada e a universalidade das respostas necessárias, ainda que no nível de participação municipal, são formas seguras de garantir direitos de acesso a creche, escola, saúde, bem-estar social.
Saber intransigentemente o que quer e o que distingue cada projeto político é garantia para fazer escolhas livres e conscientes.
Vitor Januário, CDU
