O Museu Berardo, em Estremoz, acolheu no passado sábado a apresentação da mais recente obra de José Domingos Ramalho, «Entre Flandres e Santo António – Uma história de Amor». A sessão, que decorreu perante uma plateia cheia, assinalou o lançamento do quinto livro do autor estremocense, marcado por uma forte componente histórica e afetiva.

A obra, que decorre entre o Alentejo e França, remete para o tempo da Primeira Guerra Mundial, das Aparições de Fátima e da pandemia da Gripe Espanhola. Para o autor, trata-se de um livro que, embora ancorado no passado, pretende lançar uma ponte para o presente. «Uma boa história de amor nunca deixa de estar na moda», referiu José Domingos Ramalho. «Temos guerras por todo o lado. Falar do amor, falar dos afetos, falar da relação entre as pessoas, se calhar vale muito a pena.»

José Ramalho explicou que a obra foi concebida também como um contributo para a memória coletiva: «Seria uma arrogância ou hipocrisia dizer que não escrevemos para os outros. É óbvio que espero que os nossos livros, os livros com que nos cruzamos, possam ensinar-nos alguma coisa. A cultura das pessoas, a melhorarmos o nosso Alentejo, a percebermos se as histórias que os nossos avós e os nossos pais nos contaram têm validade.»

O autor considera que «Entre Flandres e Santo António» é um livro intergeracional: «É um livro para ler em família. Para os mais novos perguntarem: ‘Mas será que foi mesmo assim?’ E para os mais velhos dizerem: ‘Eu lembro-me disto. Eu lembro-me das expressões, das comidas, do trabalho de sol a sol. Eu lembro-me que as mulheres eram desencorajadas de ir à escola’.»

Sobre o processo de criação, José Domingos Ramalho não tem dúvidas quanto à exigência do projeto: «É talvez o meu livro mais trabalhado. Muita recolha histórica, muito aspeto minucioso. E há quem diga que é uma história real. Não serei eu, autor, a confirmar ou a negar isso.»

A apresentação em Estremoz teve, para o autor, um significado especial: «É sempre especial, porque é Estremoz. Grande parte do cenário do livro está aqui. Mas desta vez também está em Vila Viçosa, no Barreiro, no Alentejo profundo. Por ser alentejano é uma coisa que se sente e é diferente de tudo o resto.»

No mesmo sentido, destacou os traços identitários da região: «Muitas vezes as outras pessoas não percebem quando dizemos que o Alentejo é diferente. Nós somos um terço do país e temos uma dimensão igual à Holanda. Isso diz muito da nossa gente: gente sofrida, gente alegre, gente que sabe sorrir, trabalhadora e que não trai. O alentejano é sincero e é leal. Essa é uma marca do nosso povo que temos de pôr no livro e transmitir às gerações vindouras.»

O presidente da Câmara Municipal de Estremoz, José Sádio, também presente na sessão, destacou a importância de acolher eventos como este: «É mais um momento em que recebemos autores que lançam obras e livros. E é muito prestigiante para Estremoz e para o museu termos aqui também um estremocense», afirmou. O autarca classificou a obra como «muito esclarecedora» e capaz de transportar o leitor «ao último século e reviver algumas das memórias».

Sádio sublinhou ainda o papel do município na promoção cultural e na valorização da leitura: «A educação é o pilar de qualquer Estado de direito. Tudo o que seja investimento na educação e no futuro do nosso país será sempre uma aposta ganha.»

A sessão integrou-se no programa do Mercado de Património, que decorreu na cidade, reforçando o papel do Museu Berardo enquanto espaço de partilha cultural e de valorização da identidade local. A obra de José Domingos Ramalho, publicada em edição de autor, junta-se assim ao conjunto de iniciativas que procuram preservar e transmitir a memória do território alentejano através da literatura.