O dermatologista Miguel Alpalhão, do Hospital de Santa Maria, ganhou mais de 51 mil euros num único dia de trabalho em 2024, ao somar cerca de 400 mil euros durante 10 sábados de trabalho adicional.

A informação foi avançada pela CNN, que analisou documentos do hospital entre 2021 e 2024, revelando o aproveitamento de um sistema que permite aos médicos acumular mais rendimento através de cirurgias realizadas em dias fora da jornada regular.

Alpalhão, que trabalha na área de cirurgia dermatológica, utilizou o Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC) para realizar esses procedimentos adicionais, os quais são incentivados financeiramente com o objetivo de reduzir as listas de espera para cirurgias.

No entanto, este sistema estabelece um limite de produção, que não pode exceder um terço da produção cirúrgica total do médico, o que de acordo com os dados apurados pela CNN, o dermatologista terá utilizado um dos seus sábados para realizar uma cirurgia aos seus próprios pais, retirando lesões benignas, o que gerou ainda mais questionamentos sobre o uso do sistema.

Para além disso, o mesmo médico foi identificado como sendo o responsável por introduzir os dados das suas cirurgias adicionais no sistema informático do hospital.

Em resposta às alegações, Carlos Martins, presidente do Hospital de Santa Maria, garantiu à CNN que, caso existissem irregularidades, elas teriam sido detectadas. “Se existisse alguma situação anormal, ela seria reportada ou seria detetada”, afirmou, sublinhando que o médico não teria auferido 400 mil euros em apenas 10 dias, uma situação que, segundo ele, teria disparado alarmes no sistema de controlo.

O responsável ainda acrescentou que existem vários momentos de controlo no SIGIC para evitar abusos.

Como medida cautelar, Carlos Martins suspendeu a partir deste sábado todas as cirurgias realizadas em programas adicionais e comunicou a situação à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), que abrirá uma investigação sobre o caso.

Simultaneamente, foi iniciada uma auditoria interna no hospital para apurar todos os detalhes relacionados com os pagamentos e a utilização do sistema.

O Ministério Público também solicitou ao hospital mais informações sobre a situação, que agora está a ser escrutinada por diversas entidades, a investigação está em andamento e as autoridades procuram esclarecer se houve, de facto, algum tipo de abuso ou irregularidade na utilização do SIGIC.

A situação levanta novas questões sobre a transparência e o controlo financeiro no sistema de saúde, em particular nas áreas de cirurgia, onde incentivos financeiros são utilizados para tentar reduzir as listas de espera, mas também podem criar situações de conflito de interesse.

A auditoria e as investigações em curso poderão lançar luz sobre práticas que, colocam em causa a integridade do sistema de saúde pública em Portugal.