Em Redondo, no distrito de Évora, o verão chega com a promessa de um espetáculo único de cor, minúcia e dedicação. De dois em dois anos, as ruas desta vila transformam-se num autêntico museu a céu aberto, onde o papel é matéria-prima de arte popular e coletiva. De 2 a 10 de agosto de 2025, regressam as Ruas Floridas, um evento que envolve toda a comunidade e atrai milhares de visitantes nacionais e estrangeiros. A poucos dias da inauguração, sente-se já na vila a azáfama de quem molda sonhos em papel.

O presidente da Câmara Municipal de Redondo, David Galego, reconhece a intensidade com que a vila se entrega a esta tradição: «Mais uma vez o povo de Redondo, com o orgulho que tem na forma como consegue engalanar as suas ruas coloridas com alegria e com uma intensidade de cor, vai neste momento retocar os últimos pormenores para que efectivamente esteja tudo no dia dois de forma perfeita». O autarca destaca ainda a qualidade artística desta edição, revelando que «as ruas de 2025 estão fantásticas. Eu tenho tido a oportunidade de percorrer quase diariamente os trabalhos que têm vindo a ser realizados e é de facto uma qualidade extraordinária, com pormenores deliciosos, fabulosos».

Num dos becos da vila, Cristina Ramires, uma das cabeças de rua, trabalha contra o tempo. Cortar, colar, pendurar e ajustar são gestos que repete com afinco. As mãos doem, mas a motivação não esmorece: «Cada minuto é precioso nessa longa história das nossas folhas de papel. Nem sei quantos quilómetros de papel corto. O corpo já custa, mas ver aquilo que aqui tenho dá mais vontade de continuar ainda». Apesar do esforço físico, o entusiasmo mantém-se, e a vontade de dar continuidade à tradição é evidente. «Ainda nem terminei esta rua e já tenho o tema escolhido para daqui a dois anos. É vontade de quem gosta».

O orgulho é um sentimento transversal a todos os envolvidos. Para o presidente da autarquia, não restam dúvidas de que o que se ergue em Redondo nestes dias é muito mais do que decoração: «As ruas floridas são a arte de um povo que sai à rua (…). Se não fosse o povo de Redondo, se não fosse a sua arte, o seu empenho, a sua abnegação, não era possível ter ruas floridas». A Câmara Municipal assegura o financiamento e o apoio logístico, mas são as centenas de mãos voluntárias que garantem a autenticidade do evento. E essa herança está a passar para as novas gerações.

Maria Ramalho, jovem da Associação Jovem de Redondo, é exemplo disso mesmo. Pela primeira vez, lidera um grupo que decidiu assumir a responsabilidade de uma rua inteira. «Este ano quisemos colaborar pela primeira vez para não deixar morrer esta tradição tão antiga. Decidimos todos em conjunto fazer pela primeira vez uma rua e tem sido difícil, mas acho que vamos conseguir». Entre estudos e trabalho, os ensaios noturnos e os fins de semana foram essenciais para erguer a sua criação. «Começámos em janeiro, mas de janeiro a maio foi muito difícil. Agora, mais perto do Verão, conseguimos juntar-nos mais e avançar com o grosso do trabalho».

Apesar do desafio, o grupo está motivado. Maria confessa que só agora percebe verdadeiramente o que está por detrás de cada rua florida: «É uma aventura porque nunca nenhum de nós fez uma coisa destas do início. Todos já ajudámos noutras edições, mas nunca fizemos do princípio ao fim. Agora é que conseguimos dar valor ao trabalho que é fazer uma rua e todo o processo que envolve». E deixa uma mensagem clara: «O nosso principal objetivo era dar o exemplo aos mais novos para não deixar morrer esta tradição. Toda a gente acha muito giro, mas ninguém tem muito interesse em querer fazer. Então nós queríamos dar esse exemplo de todos ajudarem pelo menos um bocadinho. Isto pode continuar».

David Galego confirma que o rejuvenescimento da tradição está a acontecer. «Na última edição, em 2023, e também nesta em 2025, temos visto uma grande afluência de jovens a trabalhar nas ruas floridas. Alguns deles já lideram o processo de preparação das ruas», sublinha. A autarquia introduziu inclusive a temática das Ruas Floridas nas Atividades de Enriquecimento Curricular das escolas, como forma de garantir a continuidade técnica e artística desta expressão cultural.

Ao longo da semana do evento, espera-se que milhares de pessoas visitem a vila. Excursões de todo o país e da vizinha Espanha são esperadas. «Temos tido um feedback muito positivo. Não temos dúvidas de que será um mar de gente a visitar esta alegria, esta cor, esta vivacidade», afirma o presidente da câmara. O cartaz musical conta, também, com nomes da Extremadura espanhola, numa aposta que visa alargar o alcance do certame.

E o que encontrará quem visita? Ruas inteiras cobertas por tetos de flores de papel, mas também candeeiros, fachadas e figuras modeladas com uma minúcia que surpreende até os mais exigentes. «Há pormenores fantásticos. Alguns até parecem que foram feitos com técnicas plásticas, mas são trabalhados à mão, em papel, por gente da nossa terra. São verdadeiras obras de arte», garante David Galego.

A visita deve ser feita com vagar, com tempo para contemplar cada pormenor. «É como um grande museu de qualidade e nível mundial. Há locais para parar, descansar e olhar. Desafiamos quem nos visita a fazer esse percurso com calma, porque há muito para ver, muito para sentir», diz o autarca, reforçando o carácter imersivo do evento.

No final, o sentimento que fica é comum a todos. Cristina Ramires sorri ao dizê-lo: «Missão cumprida e com muito orgulho daquilo que faço». Já Maria Ramalho antecipa com entusiasmo a conclusão da sua rua: «Tentámos fazer aquilo que conseguimos e vai ser sobretudo o sentimento de missão cumprida».

As Ruas Floridas não são apenas tradição. São identidade, são herança, são o reflexo de uma comunidade que, unida, mostra ao país e ao mundo a beleza de um povo que transforma papel em emoção. E em Redondo, a emoção floresce em cada canto.