
Jamie, de nove anos, vive escondido com a irmã bebé. Esta, sobrevivera a um ato de violência que quase lhe tirara a vida. Ambos, são personagens ficcionadas pela escritora americana Carolyn Coman. No ano de 1995, a autora encenava em letras um drama que mimetizava realidades sociais palpáveis. O livro What Jamie saw (O que Jamie viu, numa tradução livre) trata com sensibilidade de temas como o medo, a fragilidade e o instinto de proteção que envolvem a infância em circunstâncias adversas. A obra abria ao público juvenil as portas para questões delicadas e silenciadas. Também há 30 anos, no Canadá, a escritora Carol Matas lançava-se na escrita e publicação de um romance juvenil corajoso. The Primrose Path (O Caminho das Prímulas, numa tradução livre) aborda o abuso sexual infantil no seio de uma comunidade religiosa ortodoxa. Debbie, de 14 anos, protagonista desta história, vê-se confrontada com o trauma de ser abusada por uma figura respeitada no seio da comunidade. Matas centra-se nas consequências emocionais e na luta por justiça. A autora é conhecida por obras que exploram temas éticos, históricos e sociais complexos.
Em 1995, The Primrose Path destacou-se como um destes títulos fraturantes, que desafiavam tabus na literatura juvenil. Os dois livros aqui citados não contaram na época com edição em Portugal, como também não contou um título tributário da década de 1980, o livro Heather has two mommies (A Heather tem duas mamãs, numa tradução livre), da escritora e feminista americana Lesléa Newman. Esta foi uma das primeiras obras de literatura infantil a retratar uma família com pais do mesmo sexo, especificamente uma menina chamada Heather criada por duas mães lésbicas: Mama Jane e Mama Kate. No que respeita à ficção para o público infantil e juvenil, o nosso país navegava então em águas serenas. Contudo, em poucos anos, com o dealbar do século XXI, as águas agitar-se-iam. Por ora, o mercado povoava-se de autores com lugar cativo nos escaparates nacionais. Enid Blyton (a escritora inglesa criadora da série “Os Cinco”), o clássico Hans Christian Andersen e Theodor Seuss Geisel (para as letras ficou conhecido como Dr. Seuss) destacavam-se no campo das obras traduzidas. Nas letras nacionais, destacavam-se coleções como “Uma Aventura” (de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada); “O Clube das Chaves” (de Maria Teresa Maia Gonzalez e Maria do Rosário Pedreira) e, entre outros autores, Luísa Ducla Soares, Matilde Rosa Araújo, Alice Vieira e José Jorge Letria. Entre os nomes essenciais da literatura portuguesa para a infância, não há como omitir o contributo de Sophia de Mello Breyner Andresen, detentora de uma escrita poética e simbólica, capaz de abrir novas possibilidades ao imaginário infantojuvenil. Obras como A Menina do Mar (1958) ou O Cavaleiro da Dinamarca (1964) não só encantaram gerações de leitores como introduziram uma estética do maravilhoso ancorada na ética, na beleza e na contemplação. Sophia convocou para os seus livros temas como a justiça, a liberdade e a relação com a natureza — elementos que anteciparam muitas das preocupações da literatura contemporânea para os mais jovens.
Juntos, estes autores cooperaram para definir a literatura infantil portuguesa chegados à década de 1990 com obras que até hoje são referência e com contributo para o crescimento do mercado literário infantil em Portugal.

Os livros deixaram de lado a abordagem meramente educativa e moralista para tratar de questões do quotidiano das crianças, como amizades, bullying e conflitos familiares. Os já citados autores introduziram temas emocionais complexos, valorizando a empatia e a identificação do leitor. A par, começaram a surgir narrativas que refletiam a diversidade social e familiar, rompendo com o modelo tradicional. A fantasia permaneceu presente, mas frequentemente serviu para discutir questões sociais e psicológicas. Também houve uma crescente atenção à educação ambiental e à consciência sobre a preservação da natureza. Não obstante, na época, as editoras nacionais não apresentavam especial expressão no segmento infantil, e as ilustrações eram, não raro, meramente decorativas.
Portugal ensaiava há décadas, particularmente a partir de abril de 1974, um caminho de experimentação na literatura para a infância e juventude. Isso mesmo nos recordava no artigo “A morte, a guerra e o bullying na literatura para os mais pequenos”, Ângela Balsa, docente no Departamento de Pedagogia e Educação da Universidade de Évora e autora do ensaio “Literatura infantil portuguesa – de temas emergentes a temas consolidados” (2008): “1974, ano da Revolução de Abril foi um marco também na literatura para as crianças e jovens. Uma circunstância também afetou muito a literatura para a infância, quando se dá a abolição da Censura. Se pensarmos em autores ainda hoje muito lidos em Portugal, como a Luísa Ducla Soares, António Torrado, Matilde Rosa Araújo, Luísa Dacosta, Maria Alberta Menéres, estes começaram a publicar antes de 1974, vendo algumas das suas obras para crianças censuradas. Por exemplo, recordo que Luísa Ducla Soares chegou a recusar prémios literários por vivermos em ditadura e ter obras censuradas”.
Acrescenta a investigadora que “com o fim da censura há um movimento editorial ao qual não é estranha a literatura para a infância que, até à década de 1980, não teria, genericamente, qualidade em termos literários. Com os anos 80 do século passado, dá-se um boom enorme na publicação para a infância. A possibilidade de publicar em liberdade foi fundamental. A partir do ano 2000, nascem uma série de editoras independentes, mais pequenas, que trazem outros autores, outros ilustradores, realidades. Atrevem-se a publicar e a tocar em temas mais fraturantes. Só temos, talvez, um problema em relação a estas editoras de menor dimensão: deparam-se com a dificuldade de chegar a grandes livrarias, onde têm pouca representação. Terá de procurar essas obras na rede de livrarias independentes do nosso país”.
Sobre a edição para a infância e juventude em Portugal no último quartel do século XX e nos primeiros anos deste século, escreve Ana Margarida Ramos, professora catedrática do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro, no trabalho de 2015 “6x6: um balanço da literatura infantil portuguesa contemporânea”: “é marcada [a literatura infantil] pela consolidação dos autores que, desde há décadas, mas sobretudo a partir dos anos 70 e 80, publicam, com assiduidade para o público infantil; pelo surgimento de novos autores que, fruto de Prémios ou vindos de outros meios, como o jornalismo e o ensino, começaram, nos últimos anos, a publicar para a infância; pela colaboração mais ou menos pontual de autores que não escrevem habitual e assiduamente para aquela faixa etária mas que lhe têm dedicado volumes muito interessantes, como aconteceu com os portugueses José Saramago, Lídia Jorge, Mário Cláudio, ou com o moçambicano Mia Couto e os angolanos José Eduardo Agualusa e Ondjaki; pela publicação de traduções de obras relevantes — clássicas e contemporâneas— permitindo o acesso dos leitores à produção internacional de referência; pelo desenvolvimento crescente da componente ilustrativa com o aparecimento de um número considerável de ilustradores e criadores de grande qualidade, cujo reconhecimento é também feito em termos internacionais; pelo surgimento de editoras — portuguesas e estrangeiras (galegas, p. e.) especialmente vocacionadas para a publicação e divulgação da literatura para a infância e juventude”.

O novo fôlego do século XXI
Os primeiros anos do novo milénio marcaram uma viragem decisiva na literatura infantil portuguesa, com o aparecimento de novas editoras que trouxeram fôlego narrativo e renovação estética. Este novo panorama abriu caminho a uma geração de autores portugueses que rapidamente se destacou, como Carla Maia de Almeida, Inês Castel-Branco, Margarida Fonseca Santos, Margarida Botelho, David Machado, João Pedro Mésseder e Rita Taborda Duarte, entre muitos outros.
Fundada em 2000, a Planeta Tangerina publicou o seu primeiro título em 2004 — Um livro para todos os dias, da dupla Isabel Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho. O projeto editorial, inovador e visualmente arrojado, tornou-se uma referência internacional, tendo sido distinguido em 2013 como “Melhor Editora Europeia” na Feira do Livro Infantil de Bolonha. Também a Orfeu Negro reforçou a aposta no segmento infantojuvenil, com o lançamento da coleção Orfeu Mini em 2008 e, em 2011, com a publicação de O Livro Inclinado, de Peter Newell. Em 2010, foi a vez de André Letria criar o Pato Lógico, uma editora centrada em álbuns visuais de forte identidade gráfica. Já a Bruaá, nascida em 2008, destacou-se pela curadoria exigente e pela recuperação de clássicos como A Árvore Generosa, de Shel Silverstein.
Com o novo milénio, a literatura infantil e juvenil portuguesa marcou a sua afirmação no panorama internacional, conquistando reconhecimento em prémios e feiras literárias. Autores e ilustradores nacionais, como Catarina Sobral, Bernardo P. Carvalho, Madalena Matoso e Afonso Cruz, viram as suas obras distinguidas em eventos como o Bologna Children’s Book Fair, o White Ravens e o Prémio Astrid Lindgren.
A nova geração de editoras e de autores ofereceu ao livro infantil a oportunidade de ser mais do que um instrumento de leitura. Passou também a afirmar-se como um objeto artístico. O investimento em design, grafismo, ilustração original e formatos especiais (pop-ups, livros sensoriais, corte a laser) marcou a fronteira para uma nova era.
Entretanto, a década de 2010 viria a marcar uma explosão temática. Os livros para crianças passaram a explorar emoções (medo, ansiedade, alegria), diversidade (famílias não tradicionais, inclusão de crianças com deficiência, racismo) e cidadania ambiental. Temas que se materializaram numa nova consciência: superaram o escapismo para construir pontes entre a infância e o mundo real. A literatura infantil deixou de ser apenas lúdica para se tornar formativa — e o mercado respondeu com entusiasmo. A já referida Planeta Tangerina publicou obras visualmente marcantes como o Lá fora – guia para descobrir a natureza (2014) e Plasticus maritimus (2019), incentivando a reflexão ambiental. Já a Orfeu Negro e o Pato Lógico ofereceram livros de humor e fantasia com traços premiados internacionalmente — no caso da Orfeu Negro, reconhecida novamente em Bolonha.
Ainda sobre a pertinência dos temas fraturantes e a sua entrada na porta grande da literatura para a infância e juventude, territórios por tradição associados a uma certa inocência, sublinhava a investigadora Ângela Balsa no artigo já antes aqui referido: “costumamos dizer que os textos de literatura para a infância não são inócuos, porque sob a capa de candura, acabam por introduzir, ou no texto ou nas ilustrações que o acompanham, temáticas que podem ser consideradas ou mais problemáticas ou mais fraturantes. Podem não ser, de acordo com o público adulto, tão apropriadas para as crianças, mas elas efetivamente são recetoras daquela mensagem. Se tivermos um mediador informado estas mensagens podem chegar às crianças. A literatura para a infância tem uma função estética e lúdica fundamental, mas também ali reside uma função formativa”.

Em anos mais recentes, a literatura infantil portuguesa tem refletido também os impactos dos movimentos sociais e culturais globais. Desde o surgimento do #MeToo em 2017, passando pelo Black Lives Matter em 2020, até aos debates atuais sobre identidade de género e racismo, a produção editorial tem integrado progressivamente estes temas, traduzindo-se num crescimento de livros que exploram diversidade, consentimento, emoções, identidade, ecologia e cidadania. Este momento de abertura temática provocou ainda reações críticas, visíveis, por exemplo, na coligação contra a censura da literatura infantil em 2023, que marcou um debate aceso sobre os limites e a seleção de conteúdos destinados às crianças. Junta-se que a entrada de temas sociais sensíveis também deu origem a debates na sociedade portuguesa. Grupos de pais, movimentos religiosos e alguns partidos expressaram críticas àquilo que classificam como “livros ideológicos”, principalmente no que toca a temas LGBTQIA+ e identidade de género.
“Uma literatura mais empática, mais cuidada e atenta”
Há 30 anos a tomar o pulso ao mundo editorial português, Virgínia Silva, livreira da história Livraria Lello, situada no Porto, olha para a evolução do setor e observa que “o mundo editorial tem tido o cuidado e o brio de se precaver nesta sociedade em que nos inserimos. No que toca à oferta para os jovens leitores, há uma literatura mais empática, mais cuidada, atenta à realidade que as crianças hoje vivem na nossa sociedade. Por exemplo, há 20 anos, era muito difícil encontrar um livro que falasse sobre diferentes tipos de família ou sobre as emoções. Vivíamos numa sociedade muito mais fechada. Hoje, a componente editorial é um pouco mais inclusiva. Porque, ao formarmos estes jovens leitores, dotando-os de uma mente mais aberta, estamos a formar um jovem cidadão e, mais tarde, um melhor adulto. Temos de perceber que a leitura começa precisamente nos mais jovens. Logo, se formarmos leitores de tenra idade, estamos a criar futuros leitores na idade adulta”.
No presente, o catálogo da Livraria Lello conta com a The Little Collection, “lançada durante a pandemia, precisamente numa altura em que era importante termos um amigo em casa. Porque o livro é, de facto, um amigo. É um objeto, mas também é algo que conforta e que faz bem à saúde”, destaca Virgínia Silva.
No presente a The Little Collection apresenta cinco clássicos. “Contamos, ainda, com um outro livro que lançámos há perto de ano e meio intitulado Eva, que é uma distopia infantil. Temos também três distopias que se adequam a jovens adultos, nomeadamente o 1984, o Tacão de Ferro e a Guerra dos Mundos. E temos também a The Pop Collection, um mundo dos autores mais clássicos dos quatro cantos do mundo e que inclui nomes das letras portugueses, mas também franceses, ingleses, italianos”.
“Enquanto livreira, ao disponibilizar um livro, há algo que não posso esquecer: o leitor tem de sentir a conexão com a obra. Tem de sentir que vai ser ele também a personagem na história. Tem de sentir essa história em si. Também enquanto pais não podemos dizer algo como “no meu tempo eu já lia isto”. Cada criança tem o seu timing. Temos é de perceber, de enquadrar e conectar o livro com a criança. Se o leitor gosta de futebol, então vamos por aí no que toca a livros. Depois de o jovem encontrar o “bichinho” da leitura é muito mais fácil introduzi-lo a novos temas, até mesmo as obras clássicas”, conclui Virgínia Silva.

Em linha com a mensagem expressa por Virgínia Silva estão as palavras de Joana Silva da It’s a Book, uma pequena livraria-oficina em Lisboa com os escaparates nutridos de títulos assinados por autores nacionais, mas também a incluir obras especiais de editoras icónicas como a Corraini, em Itália, e a Les Trois Ourses, em França. “A livraria nasceu há oito anos. Eu e o meu companheiro, o António Alves, partilhamos o gosto por colecionar livros ilustrados, muitos fruto das nossas viagens. Também temos um background ligado às artes plásticas e ao ensino artístico. Já há algum tempo que queríamos ter um projeto nosso. Chegados a um certo ponto pensámos, ‘bom, se calhar existem mais pessoas como nós que gostam deste tipo de livros’. E nasceu esta casa à qual gostamos mais de chamar uma livraria de ilustração ou de álbuns ilustrados. Neste momento, temos livros em português, em espanhol, em italiano, em francês e em inglês.
Sobre a evolução do mercado da edição infantil conta-nos Joana: “desde que temos a livraria, percebemos o nascimento de editoras, novos intervenientes neste setor e também o surgimento de muitos jovens interessados nesta área da ilustração”.
Acrescenta a mentora da It’s a Book que “cresci com um certo tipo de livros infantis, muito moralistas e, se calhar, muito fechados naquela ideia de conto. Hoje, há uma grande tentativa de tornar os livros mais inclusivos, de educar as crianças para cuidar do planeta. Também para as educar emocionalmente. O livro infantil tem a capacidade de levar as crianças a aprenderem todos os temas sérios e todas as questões da vida através da brincadeira, como se diz agora, através do playful [lúdico]. Julgo que um bom livro tem de se ligar ao mundo da imaginação da criança, pois torna mais fácil comunicar um tema. Ou seja, o livro não tem de ‘impingir’ a linguagem de adulto. No entanto, considero que o tema não é mais importante do que a qualidade do livro”.

Livro infantil como janela aberta a novas experiências
Sobre o papel do livro infantil no desenvolvimento psicoemocional referia a psicóloga Maria João Ferro: “é, de uma forma geral, uma janela que permite à criança ter mais mundo para além do seu mundo. Ou seja, através do livro, a criança imagina, cria uma história representada mentalmente por si, divaga na imagem e torna-se modelada pela mensagem. O livro infantil tem um forte poder emocional na criança, permite-lhe ter acesso a emoções positivas e, em muitos casos, é através também do livro que a criança aprende a gerir emoções menos boas. O livro dá à criança acesso a uma janela que lhe traz novas experiências, muitas vezes diferentes daquelas que experiencia no seu quotidiano. Revela-se ainda influenciador, não só do desenvolvimento emocional e relacional, mas também do próprio desenvolvimento cognitivo. O livro é um facilitador do processo de alfabetização, potencia a aquisição de competências linguísticas, agiliza o processo de aquisição da leitura e da escrita, promove a aquisição da fala, torna-se, ao longo do desenvolvimento importantíssimo, por exemplo, na consolidação da consciência fonológica, ou seja, da relação existente entre a palavra desenhada e o som pensado, a representação mental com conteúdos fonéticos do desenho da letra, da palavra e da frase. Sabemos ainda que através dos livros infantis a criança treina a sua atenção e concentração, o que não acontece com outras atividades lúdicas, que hoje ocupam a maioria do seu tempo livre”.
Na mesma linha, Rita Castanheira Alves, Psicóloga Clínica infantojuvenil e de aconselhamento parental, olha para o livro “como um instrumento extraordinário e muito eficaz no desenvolvimento infantil e na compreensão, adaptação e exploração do mundo que rodeia a criança, o adolescente e, mais tarde, o adulto, nas suas diferentes fases”. A especialista aponta “vários estudos que demonstram as múltiplas potencialidades e aprendizagens que podem ser feitas através do livro infantil e as vantagens do contacto precoce da criança - desde bebé - com o livro nas suas diversas valências. Estas, promovem as diversas inteligências; estimulação da imaginação, criatividade e do jogo simbólico; pensamento crítico; estimulação sensorial; curiosidade; aprendizagens diversas; promoção de competências emocionais e sociais e até, desde muito tenra idade, como instrumento de grande promoção da vinculação entre cuidadores [pais, mães e não só] e até irmãos e a criança, quando explorado em conjunto, numa interação extremamente poderosa”.
Reportagem feita com a colaboração da estagiária Bárbara Moreira.