
A Vitas Portugal é a filial do Grupo Roullier em Portugal dedicada ao fabrico e comercialização de fertilizantes agrícolas e nutrientes para pecuária (através da empresa Timac Agro), tendo ainda uma marca dedicada à produção de vinhos (Falua). Numa iniciativa “fora da caixa”, a Vitas Portugal decidiu lançar a “Universidade Vitas”, uma iniciativa projetada para a equipa de colaboradores da empresa e que visa aumentar as suas qualificações, mesmo em áreas não diretamente ligadas ao setor em que se insere.
Com um programa que abrange temas tão diversos como literacia financeira, geopolítica ou nutrição humana, a “Universidade Vitas” foi criada para dar resposta a uma ambição antiga da empresa: formar pessoas, não apenas profissionais. A iniciativa, inédita no setor, envolveu todos os colaboradores e contou com oradores de referência a nível nacional, reforçando a aposta da Vitas numa cultura de capacitação contínua e de criação de valor partilhado.
À Forbes, Rui Rosa, Presidente do Grupo Vitas e principal rosto do Grupo Roullier em Portugal, explica como tudo se processa.
Como nasceu a ideia da Universidade Vitas? Que lacuna ou necessidade sentiu que justificava este investimento interno, dado que o programa inclui áreas que vão muito além do setor agroalimentar?
A formação interna faz parte do ADN da Vitas Portugal, o que nos leva a desenvolver anualmente um plano de formação que permita capacitar os nossos colaboradores disponibilizando ferramentas que os ajudem a enfrentar os desafios com que se deparam, nas mais diversas áreas.
Até hoje, todas as formações tinham sido orientadas para um impacto na vertente profissional. Um dos últimos planos de formação – “Capacitação em Nutrição Vegetal by Timac Agro” – foi um claro exemplo do impacto significativo que podemos registar quer nas equipas quer em ambiente externo, uma vez que nos associámos a quatro instituições de Ensino Superior de referência em Portugal para num projeto que teve a duração de 3 semestres equivalentes a 150 horas de formação certificada (quase na totalidade em formato presencial). A iniciativa teve como objetivo formar um conjunto de Nutricionistas de Plantas (mais de 80 participantes), com a coordenação científica do Instituto Superior de Agronomia, a coordenação pedagógica da PH+ e a coordenação geral da Agroges.
Contudo, a nossa intenção era ir mais além e contribuir para desenvolver os colaboradores a nível pessoal, pelo que criámos o “Laboratório de Competências”, que pretendemos que seja também compreendido como mais um benefício que a empresa disponibiliza aos seus colaboradores.
“A nossa intenção era ir mais além e contribuir para desenvolver os colaboradores a nível pessoal”
O programa foi intencionalmente muito diversificado, com sessões que incluíram temáticas tão diferentes como a literacia financeira, a nutrição humana, os desafios digitais, a segurança, a reforma do Estado, o pensamento critico, a sustentabilidade, a comunicação, a proteção de dados, a geopolítica ou a geoeconomia, entre outros, em sessões de 90 minutos.
Quisemos reunir um painel de oradores que todos os colaboradores reconhecessem como referência nas suas áreas de intervenção, promovendo a partilha de reflexões ou questões em espaços de 30 minutos de contacto direto com cada um dos convidados. Sobretudo, o que se pretende é que estas sessões abram uma janela para cada um dos temas, fomentando o espírito crítico e a curiosidade, a pesquisa e o contacto com novas ideias, em função dos interesses de cada colaborador. E que essa seja uma alavanca para desenvolver o seu nível de conhecimento.
“O que se pretende é que estas sessões abram uma janela para cada um dos temas, fomentando o espírito crítico e a curiosidade, a pesquisa e o contacto com novas ideias”
Que tipo de impacto espera gerar junto da equipa, a curto e médio prazo?
A totalidade da empresa esteve envolvida neste “Laboratório de Competências”, pelo que acreditamos que, para além da coesão que estes eventos criam ao juntar todos os colaboradores a pensar sobre os mesmos temas, também conseguimos deixar em cada um marca positiva para a sua vida futura.
Destacamos especialmente a enorme qualidade de todos os oradores presentes, os quais desde o primeiro momento aceitaram o nosso convite para este desafio. Conseguimos colocar em contacto uma equipa que trabalha e vive maioritariamente fora dos grandes centros, com oradores de referência nas suas áreas a nível nacional. Esta ligação de duas realidades deixou seguramente marcas para o futuro. E acreditamos que este investimento em conhecimento alargado também contribui para o grau de motivação dos colaboradores.
“Acreditamos que este investimento em conhecimento alargado também contribui para o grau de motivação dos colaboradores”
Na sua perspetiva, que papel devem ter as empresas — para lá da função económica — na capacitação dos seus quadros?
Na Vitas Portugal, acreditamos que cabe às empresas o papel de criar valor à sua volta. Uma das formas mais positivas dessa criação de valor deverá ser o da capacitação dos seus colaboradores, através de uma transformação positiva das pessoas que passam integrar os seus quadros para que, no final da sua ligação à empresa, sejam melhores pessoas e melhores profissionais. Obviamente, acreditamos também que este tipo de ações contribui para um desempenho laboral mais informado, mais motivado e mais valorizado.
Por outro lado, enquanto filial de um Grupo de origem francesa (Roullier) que está há mais de 30 anos em Portugal, acreditamos que em função do muito que o país já nos deu, temos o dever de retornar uma parte do que recebemos e, por isso, a nossa ligação às instituições de Ensino Superior é uma missão na qual investimos de forma crescente, com o objetivo de gerar conhecimento que possa chegar a quem está na origem de todo este negócio: os agricultores.
“Acreditamos que este tipo de ações contribui para um desempenho laboral mais informado, mais motivado e mais valorizado”.
Como é que a formação contínua contribui para a retenção de talento e para o desenvolvimento de lideranças?
Embora acreditemos que a formação contínua, só por si, não garante esse objetivo, entendemos que é mais uma das importantes ferramentas de que as empresas dispõem para reter talento. Ao mesmo tempo, estamos convictos de que ao expormos os nossos colaboradores a outras realidades, estamos a contribuir decisivamente para o seu desenvolvimento, em particular, no caso das lideranças.
O facto de termos uma filosofia de Grupo muito bem definida desde 1959 pelo seu fundador também contribui para o desenvolvimento permanente de ações que tenham impacto nos colaboradores da filial portuguesa. Temos já um número significativo de colaboradores com mais de 20 anos de permanência na nossa empresa e acreditamos que a partilha de experiências entre esses profissionais mais maduros, com ADN Roullier, e uma nova geração que integra agora a equipa, contribui muito para o dinamismo interno que todos sentimos.
“Estamos convictos de que ao expormos os nossos colaboradores a outras realidades, estamos a contribuir decisivamente para o seu desenvolvimento, em particular, no caso das lideranças”.
Acha que este tipo de abordagem pode (ou deve) ser replicada por outras empresas em Portugal, mesmo noutros setores?
Desde que estamos em Portugal, sempre trabalhámos desta forma, pois acreditamos neste caminho e pensamos que a abordagem pode ser replicada, sempre ajustada à realidade de cada empresa e do seu sector de atividade.
Hoje em dia, o papel das empresas perante os colaboradores e junto das comunidades em que estão inseridas é muito mais exigente, uma vez que a atividade não pode limitar-se a transações comerciais. Há um contributo implícito e um compromisso inter-relacional que tem de estar na matriz de desenvolvimento da empresa, criando valor a vários níveis e acrescentando mais-valias funcionais ao seu quotidiano.
“O papel das empresas perante os colaboradores e junto das comunidades em que estão inseridas é muito mais exigente, uma vez que a atividade não pode limitar-se a transações comerciais”.
Como é que a formação interna reforça os eixos estratégicos do Grupo Roullier?
Como principais metas de curto prazo do Grupo Roullier encontramos eixos como: melhorar de forma sustentável o impacto dos nossos produtos; contribuir na luta contra as alterações climáticas; “cultivar” os nossos talentos; desenvolver a nossa cultura de segurança; comprometermo-nos com as comunidades locais. Para responder positivamente aos desafios, uma parte decisiva para o resultado é a cultura de empresa e esta só se desenvolve com forte formação interna e com um compromisso bidirecional que reforce a motivação e o cumprimento das metas definidas.
“A cultura de empresa só se desenvolve com forte formação interna”
Que critérios vão utilizar para avaliar o impacto da Universidade Vitas?
Este tipo de formação não é facilmente mensurável no seu impacto. Contudo, conseguimos de forma indireta aferir a motivação e o entusiasmo dos colaboradores da empresa em cada momento, o que nos ajuda também a avaliar o seu envolvimento nesses vários momentos – a qual é, normalmente, muito alta, o que nos deixa francamente muito satisfeitos.
De forma mais objetiva, conseguimos ler o impacto positivo deste tipo de ações através do questionário anual da Great Place To Work, onde somos empresa certificada, olhando à sua evolução de ano para ano.
Existem exemplos noutras filiais do Grupo de iniciativas semelhantes à Universidade Vitas?
Sim, esta é uma prática corrente em todas as filiais, embora em função da sua maturidade e contexto, cada uma adote políticas locais e enquadramentos diferenciados atendendo à cultura do país e aos valores que pretende destacar.
A formação interna é uma aposta forte do nosso Grupo e o “Laboratório de Competências” é uma ideia desenvolvida pela filial portuguesa com o objetivo de corresponder às diferentes expectativas dos quase 120 colaboradores que a integram.
“Considerando o entusiasmo e o envolvimento de toda a equipa, acreditamos que o futuro passa por novas edições”.
Já existem planos para novas edições ou para alargar o projeto a outros públicos internos ou externos?
Estamos no momento do balanço, mas considerando o entusiasmo e o envolvimento de toda a equipa, acreditamos que o futuro passa por novas edições. Em resumo, estamos muito satisfeitos com esta primeira edição e sentimos que todos os participantes ficaram igualmente satisfeitos e até orgulhosos por frequentar um momento tao exclusivo proporcionado pela empresa.
À semelhança de outras formações que temos desenvolvido, já estamos a ser contactados por oradores ou entidades que gostariam de participar na próxima edição, pelo que esta é uma reflexão que se justifica.