
A Confederação das Associações Económicas (CTA), maior representante do setor privado em Moçambique, propôs nesta sexta-feira a criação de um banco agrícola, num país onde a desnutrição crónica afeta 37% de crianças menores de cinco anos. Falando em Nampula, norte de Moçambique, na primeira conferência internacional de nutrição e agronegócio, o presidente daCTA,Álvaro Massingue, apontou a nutrição como uma “oportunidade” que deve ser capitalizada pelos privados, defendendo a necessidade de “criação de um banco agrícola e facilitação de acesso ao financiamento para o setor agrário”.
O banco contribuiria para o que chamou de “esperança” para um país que dispõe de 36,5 milhões de hectares de terras aráveis, mas apenas 15% desta área está efetivamente em produção agrícola. “Nutrição não é apenas saciar a fome, é garantir a dignidade, a saúde e o desenvolvimento humano. Num país com rápido crescimento populacional, a única forma sustentável de garantir uma nutrição digna é produzir mais e melhor localmente, valorizando as cadeias de valor”, sublinhou Massingue.
Este é um “compromisso sério” com o futuro do país, referiu, acrescentando que a expectativa é que, desta conferência, em Nampula, que junta membros do Governo, setor privado, parceiros de cooperação, academia e sociedade civil, “saiam ações concretas para reverter os alarmantes indicadores de desnutrição”, especialmente na província mais populosa do país, Nampula.
“A situação [em Nampula] é ainda mais grave, com 47,6% das crianças atualmente afetadas por desnutrição crónica, 2,5% com baixo peso ao nascer e 9,1% em situação de desnutrição aguda. Estamos a falar de um drama nacional que compromete o desenvolvimento cognitivo, a capacidade de aprendizagem e, no futuro, a inserção no mercado de trabalho de uma geração inteira que corre o risco de ser excluída das oportunidades do século”, referiu.
De acordo com o Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN), ao longo dos últimos dez anos, a taxa de desnutrição crónica em crianças menores de 5 anos baixou de 43% (2013) para os atuais 37% (2023), níveis considerados ainda muito altos quando comparados com as recomendações da Organização Mundial da Saúde.
Grupos de organizações da sociedade civil no país têm alertado para a urgência no combate à desnutrição infantil em Moçambique, situação agravada por fatores climáticos e de segurança.
Agência Lusa
Editado por Jornal PT50