
Em entrevista à Lusa, na quarta-feira, em Washington, onde participa nas reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, Gareth Guadalupe frisou que a transição energética não é apenas uma questão de sustentabilidade ambiental para São Tomé e Príncipe, mas igualmente de "sustentabilidade financeira".
"Porque a importação dos combustíveis fósseis leva-nos grande parte das nossas divisas e leva-nos também grande parte das nossas poupanças. Se é que podemos falar em poupanças. Mas cria-nos muitos constrangimentos que nos impedem depois de ter recursos para fazer outros investimentos importantes", explicou.
Frisando que o Banco Mundial tem sido um parceiro estratégico do país nessa matéria, o ministro indicou que a questão do setor energético acabou por dominar a reunião que a delegação são-tomense manteve com a instituição financeira na quarta-feira.
Além da questão energética, São Tomé e Príncipe mantém com o Banco Mundial o Programa de Famílias Vulneráveis. Contudo, o Governo quer agora elevar esse programa, tornando-o mais "autossustentável" através da promoção do "autoemprego".
"Queremos evoluir para o autoemprego. Mas o autoemprego onde? No setor turístico e no setor de transformação agrícola. E quando falamos do setor de transformação agrícola, falamos sobretudo do setor que traz mais-valia. Nós hoje já conseguimos ter uma cadeia de produção completa de transformação do cacau até ao chocolate. Queremos também evoluir para a baunilha, pimenta e mesmo as flores", disse à Lusa Gareth Guadalupe.
"Nós não queremos competir em termos de quantidade, mas em termos de qualidade. Por isso, as nossas exportações não são em grande quantidade, mas têm muito valor agregado, especialmente no cacau", defendeu o governante, salientando que São Tomé e Príncipe se quer promover como um país "100% orgânico".
O responsável disse ainda que quer "que o programa com o Banco Mundial evolua", para apoiar "no autoemprego, para o setor do turismo sustentável, mas também para o setor de transformação agrícola".
O FMI aprovou no ano passado um acordo para São Tomé e Príncipe, no valor de 24 milhões de dólares (21,17 milhões de euros) válido por 40 meses, para apoiar as reformas económicas e estruturais do país.
Questionado pela Lusa sobre se a atual situação política do país, após a queda do Governo, pode condicionar o cumprimento desse acordo, o ministro negou e avançou que o executivo quer agora aumentar o valor do programa.
"Não, porque o 19.º Governo está completamente envolvido com o programa que foi recentemente assinado pelo 18.º Governo. Mas o que nós queremos melhorar neste programa de assinatura com o FMI é ver a possibilidade de aumentarmos o valor", assumiu, apontando que gostaria de passar dos atuais 24 milhões para cerca de 40 milhões de dólares (35,28 milhões de euros).
"Normalmente estes valores são para financiar a balança de pagamentos, mas deixe-me dizer que no ano passado só a importação de combustível custava-nos cerca de 40 milhões de dólares. É muito. É mais do que 100% daquilo que nós temos com o programa com o FMI. Portanto, só para a importação de combustível nós temos aqui um desequilíbrio da balança de pagamentos. Por isso queremos trabalhar com o FMI no sentido de aumentar o valor ao nível do programa", explicou ainda.
A delegação são-tomense aproveitará a deslocação à capital norte-americana para insistir nesse sentido.
O ministro espera que, com as reformas em curso e com boas performances em termos de indicadores fiscais, São Tomé e Príncipe possa conseguir condições melhores da parte do FMI.
MYMM (ANP) // CAD
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