O setor olivícola e oleícola atravessa um grande momento em Portugal, na medida em que conseguiu atingir um patamar muito relevante a nível mundial, tornando-se um dos players principais. Este resultado foi conseguido após um desenvolvimento impressionante de modernização dos olivais e dos lagares, sobretudo nos últimos 20 anos. No sector do azeite, pode-se dizer hoje que Portugal venceu as batalhas da quantidade e da qualidade. Os novos olivais instalados, com novos sistemas de plantio, com acesso à água para rega, são bastante mais produtivos. A produção, nas últimas duas décadas, aumentou mais de 300%! Por outro lado, a qualidade dos azeites nacionais também se incrementou bastante. Prova disso é o facto de cerca de 95% dos azeites produzidos no País serem azeites virgem ou virgem extra, de qualidade superior, o que, comparando com a mesma percentagem relativa aos restantes países produtores europeus (Espanha, Itália e Grécia), que é de cerca de 70%, se torna uma grande vantagem de Portugal. Além disso, os azeites nacionais são cada vez mais premiados em concursos internacionais, o que demonstra bem a sua qualidade.

Apesar deste sucesso, existem vários desafios pela frente. Entre eles destacam-se em particular um a nível global e outro de âmbito nacional. Um dos principais desafios do sector a nível global, nos tempos estranhos que vamos vivendo, é o da comercialização, da conquista de novos mercados e de consolidar aqueles onde já estamos presentes. O momento é de uma grande instabilidade geopolítica provocada, essencialmente, por uma mudança radical, e muitas vezes desconcertante, do posicionamento dos Estados Unidos, nomeadamente em relação à política de trocas comerciais. A isto acresce o recente ataque ao Irão, com reflexo imediato na subida dos preços do petróleo e o eventual encerramento do estreito de Ormuz, dois aspetos que irão contribuir para agudizar as dificuldades que já se sentem nas trocas comerciais, complexificando-as ainda mais e aumentando o grau de imprevisibilidade. Já no que diz respeito à designada “guerra das tarifas”, desencadeada por Trump no “Liberation Day”, com a ameaça permanente de aumento das tarifas na importação dos produtos, ela coloca à Europa, e a Portugal, um desafio enorme no sector do azeite.

Os EUA são, hoje, o principal mercado do azeite, especialmente através das exportações de Espanha e de Itália. O consumo de azeite nos EUA tem aumentado significativamente, sendo hoje o segundo maior país consumidor. Um facto a que não é alheio o elevado poder de compra do consumidor norte-americano que tem uma especial preferência por produtos alimentares de qualidade e por ligar o consumo do azeite a questões de saúde. Como os EUA apenas produzem 1% do que consomem, importam tudo o resto, sobretudo dos países produtores europeus. A Europa tem, pois, aqui um grande desafio que é o de não perder um mercado tão importante como o dos EUA. É crucial que, a propósito das tarifas, nas negociações entre UE e os EUA, exista cabeça fria nos políticos europeus, para não escalarmos para uma “guerra” que teria efeitos muito nocivos para todos.

Como consequência das ameaças de aumento das tarifas, os países produtores de azeite devem procurar novos mercados para colocar a produção de azeite que, na última campanha, aumentou significativamente. Espanha e Itália, sobretudo, como principais exportadores de azeite para os EUA, vão tentar encontrar novos mercados. E um desses mercados apetecidos, por ser também um mercado de grande consumo, é o Brasil. É aqui que Portugal enfrenta um outro desafio crucial.

No mercado brasileiro do azeite, Portugal tem uma posição dominante, com uma quota superior a 50%, obtido, fundamentalmente, com o sucesso de estratégias comerciais de duas marcas portuguesas. Para que Portugal consiga manter a sua quota de exportação de azeite para o Brasil, e até incrementá-la, terá de definir estratégias de promoção que ajudem as marcas portuguesas a competir com as outras marcas dos restantes países produtores.

Neste momento, estamos a assistir a um forte investimento promocional dos azeites de Espanha no mercado brasileiro, promovidos pela organização interprofissional do sector oleícola espanhol, que já está a ter consequências para os produtores portugueses que exportam diretamente para aquele mercado. É, pois, urgente que Portugal consiga delinear uma estratégia comum nacional de promoção e marketing que possa identificar a melhor forma de valorizarmos o nosso azeite, bem como os mercados que queremos explorar e conquistar, e que se traduza em ações concretas nesses mercados incluindo o brasileiro. Para isso, o Estado deve permitir que o sector se organize, não criando obstáculos e estabelecendo as condições adequadas que facilitem a construção e o financiamento dessa estratégia nacional.

O setor criou, há bastante tempo, a sua organização interprofissional, a AIFO (Associação Interprofissional da Fileira Oleícola) mas, por diversas vicissitudes, a mesma ainda não conseguiu exercer o propósito para que foi criada. Quero acreditar que, neste momento, as barreiras possam estar a ser levantadas, pelo que, apoiada pela introdução de uma portaria de extensão a toda a produção e comercialização de azeite nacional, a AIFO possa finalmente começar a desenvolver, plenamente, a sua atividade de promoção do azeite português.

O financiamento desses investimentos na promoção do azeite nacional virá da produção e da comercialização e deverá ser exponenciado pelo apoio de fundos comunitários especialmente dedicados à promoção dos produtos agroalimentares europeus, e que integram os programas que são lançados todos os anos pela Comissão Europeia.

Gonçalo Morais Tristão,
Presidente da Direção do CEPAAL – Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo