Criada por Gonçalo Rodrigues dos Santos e pelo Mestre Serafim, em meados dos anos 1950, a chamada Cadeira Portuguesa tornou-se uma obra-prima. Aliando forma e função, a cadeira portuguesa está no imaginário de todos como a cadeira metálica das esplanadas de muitos locais pelo país fora, especialmente da zona de Lisboa.

Inspirou toda uma geração de arquitetos e designers e construiu uma reputação lendária suportada pela sua robustez, empilhamento adequado às intempéries e uso profissional diário.

A BICAChair é uma marca portuguesa que recuperou a histórica Cadeira Portuguesa, reinterpretando-a como peça de design contemporâneo, tendo agora desafiado o renomado artistaPedro Cabrita Reis a fazer uma intervenção sobre a Cadeira Portuguesa que fez com que os conceitos de forma e função tocassem nos da expressão artística.

Foto: Alexandre Caldas

Na apresentação desta edição especial da Cadeira Portuguesa (ver artigo aqui), que decorreu na QuartoSala do Princípe Real, em Lisboa, com a qual a BICAChair fez uma parceria, a Forbes Portugal conversou com Pedro Cabrita Reis que nos explicou a história deste seu mais recente trabalho artístico.

A cadeira que recriou já era um ícone e com a sua intervenção passa a ter uma edição especial. De quem é que partiu este desafio de criar uma nova versão da Cadeira Portuguesa?
A cadeira já era um ícone e agora transformei-a numa cadeira minha. O desafio partiu do Alexandre [Caldas] e do João, da BICAChair. Quando eles vêm ter comigo, trazem um objeto que faz parte da história e da cultura, de uma cultura icónica popular portuguesa. Temos o pastel de nata, temos o galo de Barcelos, temos a Torre de Belém e temos muitas outras coisas. E entre elas, há um objeto delicado, inteligente e presente há muitos anos, que é esta cadeira.

Foto: Alexandre Caldas

Uma cadeira que viveu, sobreviveu a uma quantidade de travessuras da história. Começa com uma simplicidade que faz com que ela seja parte de um pensamento fundamental, tradicional, simples e funcional. E consegue, através de muitas vicissitudes, manter a sua identidade.

A BICAChair agora pegou na cadeira e recuperou-a. E trouxe-a para um lugar cimeiro e fez-nos chamar a atenção sobre ela. E é aí que eles me perguntam se eu quero fazer alguma coisa.

Ora, a cadeira é de tal maneira particular que é um desafio para um artista. E o que é que os artistas querem? O que é que eu quero enquanto artista? Quero fazer parte de uma história qualquer, de um objeto icónico que faça parte da história de Portugal. E é aí que eu considero importante responder positivamente ao desafio.

Foto: Alexandre Caldas

Ao responder positivamente a esse desafio, o que é que eu proponho? Não proponho nenhuma transformação radical, nenhuma mudança através de roturas, nenhuma ignorância do passado histórico. Ao contrário disso, o que um artista faz é pegar na história desse objeto, em particular esta cadeira, e introduzir-lhe um detalhe, uma nuance, uma delicadeza, um olhar diferente, um elemento “quase nada”, mas que, contudo, transforma em absoluto o objeto original. O que é que os artistas fazem? Os artistas devem ter e têm a sensibilidade de perceber aquilo que é a massa crítica do objeto, a história e a tradição, e acrescentam-lhe qualquer coisa de muito pouco que lhe faz uma mudança muito particular e que transforma algo que é icónico e que faz parte da história, em algo que continua a ser icónico e faz parte da história contemporânea para o futuro.

O elemento diferenciador da sua intervenção nesta cadeira é uma parte metálica que lhe colocou…
A cadeira tem uma pureza irrepreensível no seu design. Tem uma pureza irrepreensível na forma como é concebida e como é feita tecnicamente. Essa pureza, que está sob o nosso olhar, desafia-nos a introduzir qualquer coisa que seja uma rotura. A rotura que eu me propus fazer nesta cadeira icónica foi acrescentar-lhe uma textura, uma vibração, algo que, de alguma maneira, a transformasse e que à pureza original lhe acrescentasse uma vibração de textura, de massa, de forma, que convoque a atenção para se perceber essa rugosidade, essa transformação de uma origem pura.

À pureza da origem acrescentamos uma emoção e a transformação de uma textura que tem uma massa que, eu diria mesmo, quase uma carne, um corpo diferente.

Foto: Alexandre Caldas

Qual é a textura e a rugosidade que colocou na cadeira? Porque cada uma das 25 unidades tem uma textura diferente.
Cada uma delas é individual. E é individual porque é feita sob a minha orientação, por técnicos que lhe aplicam uma soldadura, a qual nunca será em qualquer circunstância idêntica. Em cada cadeira, a forma como a soldadura é aplicada é irrevogavelmente diferente da cadeira precedente e da outra que virá a seguir. Portanto, esta é uma edição da cadeira, mas em que cada elemento e cada cadeira é único.

Foto: Alexandre Caldas

E a unicidade destes elementos é de uma delicadeza, de uma subtiliza particular que à primeira vista parece que é a mesma coisa, mas contudo não o é. Existe aqui um olhar atento e cuidadoso sobre o objeto.

A cor laranja está na cadeira. A cor laranja que é uma das suas cores…
A cor laranja não é uma das minhas cores, é a minha cor! E posso dizer porquê: a cor laranja uso-a para mim há muitos anos porque é o símbolo, a representação da verdadeira cor do sol. O sol não é amarelo. A temperatura da cor do sol é laranja, seja de manhã quando nasce, seja ao fim do dia quando vai dar uma volta ao resto do universo.

Foto: Alexandre Caldas

E eu considero que se aquilo que nos move é a luz, é a energia, se o sol é o garante da nossa vida, então nesse caso eu quero ter o sol para mim. E esta cor laranja é a cor do sol.

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