Acompanhar as novas regulamentações no setor financeiro tem-se tornado uma tarefa cada vez mais árdua, exigindo uma otimização crescente do compliance – conjunto de práticas que garante a ética, a legalidade e a responsabilidade das instituições financeiras. É necessário adotar novos métodos e ferramentas mais eficientes, que nos ajudem a avançar e a garantir a conformidade num ambiente cada vez mais complexo.
É imperativo continuar a melhorar as abordagens, de forma a preservar a reputação e a estabilidade das instituições financeiras, da economia e da sociedade. Nesse sentido, a tecnologia deve ser entendida como a espinha dorsal para o futuro do setor bancário, tornando-o mais seguro e transparente.
Ao automatizarmos tarefas de rotina, como recolha de dados e criação de relatórios, é possível alocarmos mais recursos humanos para atividades de maior valor, complexidade e impacto estratégico. Este processo não tem como objetivo substituir pessoas, mas sim torná-las mais relevantes, permitindo que se concentrem em tarefas que exigem inteligência, criatividade e, acima de tudo, um olhar humano com uma capacidade cognitiva que as máquinas não conseguem atingir.
A avaliação de riscos ilustra essa sinergia e complementaridade entre tecnologia e expertise humana para uma maior eficácia. Existem ferramentas tecnologicamente avançadas que disponibilizam um conjunto de dados com padrões e anomalias. Esta automatização vai permitir que o analista se concentre na análise dos dados fornecidos – que exige um olhar critico e personalizado, bem como know-how do negócio – e consiga identificar potenciais violações da regulamentação de uma forma mais rápida e eficiente.
Mas diante da crescente complexidade do cenário regulatório, precisamos de soluções ainda mais inovadoras. E neste campo, a tecnologia blockchain destaca-se, garantindo integridade e transparência sem precedentes nas transações. Vejo neste recurso uma solução inovadora para reforçar a confiança no sistema financeiro, criando um registo imutável que, não só assegura o cumprimento das regras, como vem combater o branqueamento de capitais.
Ablockchain é uma peça fundamental do puzzle, que deverá ser vista em conjunto com a inteligência artificial (IA), enquanto ferramentas poderosas no combate à sofisticação crescente dos crimes financeiros.Com a IA é possível monitorizar transações, identificar padrões complexos, reportar atividades suspeitas e detetar anomalias de forma estruturada e célere, que seriam impossíveis de endereçar manualmente, aumentando a precisão e a eficiência dos processos. Para mim, a IA não é apenas um instrumento de compliance, mas sim um escudo protetor para todo o sistema financeiro.
No entanto, não nos podemos iludir: embora a tecnologia prometa melhorar a capacidade de cumprir com a regulamentação, a sua implementação enfrenta desafios significativos – como a integração com os sistemas existentes, a qualidade dos dados, a incerteza regulamentar e os custos -, que devem ser considerados.
Ainda assim, acredito que os benefícios superam em muito o investimento, e que a inação é um risco ainda maior. Defendo que o conceito compliance não se resume meramente a seguir regras, mas sim a contribuir para a proteção do sistema financeiro e da sociedade como um todo – um propósito que deve estar no topo das prioridades. E estou absolutamente convencido de que a tecnologia é a chave para um futuro mais eficiente, eficaz e seguro.
André Rendeiro,
Executive Board Member do Bison Bank