
Há momentos assim, que exigem pragmatismo máximo a quem tem responsabilidades acrescidas na sua vida. O FC Porto estava a seis pontos do objetivo máximo, tinha finalmente ganho fora (em Faro) mas vacilara de novo frente ao Vitória em casa. Tinha pela frente um adversário inteligente, que não perdia na Liga há oito jogos. Rodrigo Mora, que cada vez mais parece destinado a ser peça fundamental, chegara ao final do aquecimento sem condições de começar o jogo e Anselmi teve de reagir na hora. Fez entrar Eustáquio de emergência (em boa hora, dada a exibição) e assumiu que este sábado, na Serra da Freita, tinha de estar em campo um FC Porto em fato-macaco (nada a ver com o Carnaval!).
O jogo começou morno, bem morno, mas aqueceu logo aos 10 minutos, quando uma pisadela imprudente em Samu, na pequena área, originou um penálti muito bem assinalado pelo VAR. Em jogo corrido quase todos os pensadores e executantes do futebol deixariam a bola correr, como fez o árbitro João Gonçalves, mas as imagens em replay eram inequívocas. Bola na marca dos 11 metros, Samu de volta aos golos e o FC Porto com uma vantagem precoce que há muito não saboreava.
À frente no jogo, o FC Porto não teve pejo de vestir desde logo o fato-macaco e dar alguma iniciativa ao Arouca. Os donos da casa, refira-se, não pareceram afetados pelo golo sofrido e encararam o tempo que faltava com vontade de fazer bem as coisas e obter melhores resultados. Não chegaram com o perigo que certamente pretendiam à area portista, mas ainda assustaram aqui e ali, valendo ao dragão a serenidade crescente do guarda-redes que, certamente não por acaso, já é dono da baliza da Seleção Nacional há algum tempo.
Chegou-se ao intervalo com a vantagem azul e branca, que com um pouco mais de clarividência de Samu até podia ter sido ampliada, quando aos 28 minutos se viu sozinho em frente ao guarda-redes João Valido. Regressou-se das cabinas com os mesmos onzes e as mesmas tendência: FC Porto cauteloso, seguro na defesa e à espreita do contra-ataque, Arouca convicto de que poderia empatar a partida e partir para algo mais.
Aos 64 minutos, depois de já ter entrado no segundo tempo em 3x5x2, Martín Anselmi trocou Gonçalo Borges por Namaso e assumiu — aproveitando o novo time out do futebol, quando os guarda-redes se lançam ao chão pedindo assistência — que a equipa defenderia em 5x4x1 e atacaria em 3x4x3. Aos 70 minutos Fábio Vieira, um dos sacrificados táticos do jogo, atirou à barra. Lá está: o Arouca tinha mais bola e aparente domínio, mas o talento dos portistas ia acabando por permitir criação de maior número de oportunidades reais de golo.
O desenho portista permitia então, desde as principais alterações, que Fábio Vieira se libertasse no campo e corresse da direita para ao meio, como tanto gosta. Aos 77 minutos Namaso descobriu bem um espaço para Fábio entrar, ele derivou lá da direita, chegou-se ao meio e coroou uma bela exibição com o golo que resolveu as contas de Arouca.
Aos 83 minutos, ainda antes de o jogo quase ter parecido voltar à indefinição, Fábio viu o quinto de uma série de cartões amarelos e ficou a saber que não defronta, na próxima semana, o SC Braga. E por que poderia ter-se voltado à indefinição? Porque aos 87 minutos o Arouca reduziu a desvantagem (e continuava por cima na posse e no assédio), mas a jogada começou com uma falta sobre o então entrado Martim Fernandes e o VAR viu (embora tenha demorado...). Contas feitas, até ver, o FC Porto está a três pontos dos líderes e do seu objetivo em 2024/2025.