
Cinco meses depois de assumir a presidência da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Pedro Proença concedeu uma grande entrevista à SIC, abordando temas centrais como a investigação judicial em curso, a reforma da justiça desportiva, os direitos televisivos e o futuro da arbitragem e da Seleção Nacional.
Logo após a sua eleição, o novo líder da FPF viu a Polícia Judiciária entrar nas instalações da Federação, motivando a abertura de uma auditoria interna. «Foi surpreendente. Naturalmente que tivemos de tomar medidas, incluindo uma auditoria rigorosa», afirmou, sem entrar em detalhes por se tratar de um processo judicial em curso.
Um dos temas estruturais abordados por Proença foi a justiça desportiva, onde se mostrou crítico do modelo atual, sobretudo pela morosidade processual. «A arquitetura judicial que herdámos não satisfaz. Queremos um sistema mais célere, como acontece na FIFA e na UEFA», disse, anunciando mudanças já nesta época. O presidente também admitiu que o atual modelo do Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) não serve os interesses do futebol.
Sobre a centralização dos direitos televisivos, Proença recordou que se trata de uma imposição legal com prazos definidos (2026 para proposta e 2028 para entrada em vigor). Evitou entrar em confronto com o Benfica, que tem mantido uma posição distante, e desvalorizou os números atribuídos ao processo. «Os 500 milhões nunca foram ditos por mim. Foram estimativas de uma consultora internacional», esclareceu.
Na área da arbitragem, o ex-árbitro internacional defendeu a reestruturação profunda do setor e a criação de um plano a longo prazo. A nomeação de Duarte Gomes como diretor técnico faz parte desse novo modelo, que inclui o reforço da formação e o aumento do número de árbitros em atividade. Proença confirmou ainda a aposta na especialização dos videoárbitros.
«Acho que o futebol português tem entregue emoções muito positivas ao povo português. E, efetivamente, há processos que têm de ser feitos, há mudanças que têm de ser feitas. Nós não estamos conformados com aquilo que hoje acontece na arbitragem, que acontece na disciplina, na questão da integridade. E esse trabalho não é uma questão de ter ou não ter coragem. Estamos aqui para fazer isto», rematou.
Sobre a arbitragem no jogo da final da Taça de Portugal, entre Benfica e Sporting diz que não falou com ninguém da equipa da arbitragem: «Não falei com ninguém em específico relativamente à Taça de Portugal ou outro qualquer jogo, não é esse o âmbito do Presidente da Associação.»
Questionado sobre a Seleção Nacional, Pedro Proença reiterou total confiança em Roberto Martínez, que continuará como selecionador até ao final do Mundial de 2026. «Martínez tem feito um trabalho de excelência. Roberto Martínez foi sempre o meu treinador. No final do Mundial, avaliaremos o futuro, como é normal», sublinhou, rejeitando qualquer plano alternativo ou ligação a outros nomes como José Mourinho.
Sobre a continuidade de Cristiano Ronaldo na Seleção Nacional, o dirigente diz que é o selecionador que decidirá quando é que conta com o «jogador A, B, C ou D», afastando quaisquer responsabilidades na presença do capitão nas futuras convocatórias.
«Nós queremos ser campeões do mundo. O povo português quer ser campeão do mundo com esta geração de jogadores», afirmou demonstrando a crença e a vontade de todos os portugueses em quererem vencer o Mundial.
Questionado diretamente se José Mourinho é o selecionador que acha que pode construir o projeto que tem para a Seleção Nacional, Pedro Proença foi perentório: «Eu dir-lhe-ia que não é só José Mourinho. José Mourinho, Jorge Jesus, Sérgio Conceição. Felizmente, temos uma geração de treinadores que fariam muito bem o papel de selecionadores nacionais e que nos dariam, a todos nós, muitas alegrias.»
Quanto ao seu antecessor, Fernando Gomes, Proença garantiu respeito institucional, apesar do afastamento. «Nunca mais falei com ele, mas tenciono fazê-lo. A Federação não é de ninguém, é de todos. E as vitórias são fruto de um trabalho de décadas», finalizou.