Desde a chegada da Dorna ao MotoGP em 1991 o campeonato sofreu uma transformação e um alcance global que poucos julgariam ser possível fruto de uma enorme paixão que um grupo de espanhóis, liderados por Carmelo Ezpeleta desde 1998, trouxe para o campeonato.

Sob a alçada da empresa com sede num dos bairros chiques dos arredores de Barcelona a popularidade e atracção comercial do campeonato cresceu à medida que a globalização do mesmo era foi aumentando com uma cada vez maior distribuição das suas transmissões televisivas por todo o planeta, conquistado fans, seguidores, patrocinadores e reputação com as suas corridas sempre intensas e quase com resultado imprevisível.

Mas agora a Dorna recebeu finalmente ‘luz verde’ por parte da Comissão Europeia para vender 84% da Dorna Sports à Liberty Media Corporation, a mesma entidade que tem a seu cargo os destinos da Fórmula 1, por um valor que ultrapassa os 4 biliões de euros.

O negócio deverá estar concluído no próximo dia 3 de Julho e a chegada da Liberty deverá mais visível apenas em 2026, sendo previsível que venha a adoptar a mesma atitude comercial e de imagem que viu a Fórmula 1 subir de popularidade logo após a estreia do Drive to Survive em 2019 fruto de uma parceria com a Netflix que já valeu seis temporadas mas nenhuma com o impacto da primeira e onde o confinamento global devido ao Covid-19 foi um importante aliado.

Todos esperam uma postura agressiva do ponto de vista da comunicação e marketing ao redor do campeonato, tal como vemos na F1, mas ao mesmo tempo essa forma de trabalhar dos americanos pode tornar o MotoGP ainda mais elitista e com ‘preços’ mais próximos da Fórmula 1, o que certamente não agradará aos promotores locais e também ao público que não quererá ver os preços dos bilhetes crescer para valores semelhantes aos da rival em quatro rodas, até porque os públicos são completamente diferentes em 90% dos casos.

Com muitos circuitos a terem já assegurado o campeonato até ao final da década, aqueles que ainda não o fizeram podem vir a ser ‘vitimas’ da Liberty e se todos aqueles envolvidos no campeonato pela linha ‘comercial’ aplaudem esta aquisição por força do brilho da Fórmula 1, o ‘elo mais fraco’, os que se sentam na bancada de forma apaixonada para gritar pelos seus pilotos podem vir a sentir na carteira esta chegada. Vamos ter que esperar pelas primeiras decisões por parte daqueles que venham a assumir a gestão comercial do MotoGP pois parece claro que Carmelo Ezpeleta e a sua equipa ficarão dedicados à área desportiva.