O que se viu de novo

A saída de Rafa serviu de pretexto para o Benfica se reinventar taticamente. Roger Schmidt nem esboçou uma tentativa de encontrar alguém que substituísse o reforço do Besiktas. Se, noutras circunstâncias, o alemão foi acusado de ser um cubo de gelo tático, agora não o podem acusar de não experimentar novas receitas.

Rafa era uma corda bamba, um jogador posicionado na zona dos médios, que também aparecia no ataque e detentor da velocidade de um extremo. Do que se tinha visto até aqui na pré-época do Benfica, Leandro Barreiro e Marcos Leonardo pegavam cada um na ponta da corda e esticavam-na em direções opostas. O primeiro, porque é mais um equilibrador do que um criativo. O segundo, porque, até aqui, ainda não se tinha ajustado às necessidades coletivas como fez contra o Brentford no regresso dos encarnados ao Estádio da Luz.

Roger Schmidt começa a ter o plantel cada vez mais composto. Alexander Bah voltou a jogar depois do Euro 2024. O mesmo aconteceu com António Silva que teve que esperar pela segunda parte para ser lançado. João Neves é um caso à parte. O médio esteve na bancada a assistir ao encontro, mas pode até nem voltar a jogar pelo Benfica se a transferência para o Paris Saint-Germain, que os dois clubes parecem estar a cozinhar, acontecer.

Os golos surgiram nos primeiros 45 minutos. Morato, logo a abrir, errou no atraso para Trubin e Bryan Mbeumo marcou após intercetar o passe. O Benfica empatou antes do intervalo. Marcos Leonardo carregou o ataque, Aursnes aguardou pela subida de Carreras e o espanhol assistiu o desvio de Pavlidis ao primeiro poste. Na segunda parte, o Benfica acabou por cima, mas foi a equipa da Premier League que teve a melhor oportunidade para marcar quando Mbeumo levou a bola ao poste.

Os encarnados acabaram a testar o que rendia Gianluca Prestianni nas costas de Arthur Cabral e não terão ficado nada desagradados com o resultado. Para isso, Casper Tengstedt teve que derivar para o corredor esquerdo.

Os reforços

É preciso alguma cautela em considerar Pavlidis um reforço de peso. Afinal, se, de hoje para amanhã, deixasse de ser jogador do Benfica, o legado que deixava em termos oficiais seriam zero jogos, zero golos e zero assistências. Se o grego não der seguimento ao desempenho nos encontros a valer, então os encarnados pagaram 18 milhões de euros por um menu completo e saíram depois das entradas.

No entanto, não há como Pavlidis não ser um upgrade na posição mais avançada do sistema tático de Roger Schmidt. Desde logo, parece que jogou com Marcos Leonardo nos torneios da escola, tal a relação que demonstra com o colega de setor. Além disso, tem pés doces para se associar e finalizar. Uma delícia de jogador.

Mais discreto tem sido Leandro Barreiro. Não é semelhante a nenhum jogador que tenha ocupado o meio-campo desde que Roger Schmidt chegou ao Benfica. Pode ser útil para situações de pressão alta, mas, com a bola nos pés, quanto mais simples jogar, melhor. Comprovam-no os passes que arriscou a tentar rasgar a linha defensiva do Brentford. Será difícil que, jogando ao lado de Florentino, a determinado momento, Schmidt não tenha que abdicar de um. Talvez seja urgente que se comecem a entender. A possível saída de João Neves pode levar a que coabitem mais vezes no meio-campo.

Menos exuberante do que na estreia diante do Almería, Jan-Niklas Beste foi um dos cinco jogadores lançados por Roger Schmidt ao intervalo. Mais tarde, aos 66’, o alemão fez as restantes substituições. Só Trubin cumpriu todos os minutos.

Como começou

Anatoliy Trubin, Alexander Bah, Tomás Araújo, Morato, Álvaro Carreras, Florentino, Leandro Barreiro, David Neres, Frederik Aursnes, Marcos Leonardo e Vangelis Pavlidis.

Como terminou

Anatoliy Trubin, Tiago Gouveia, António Silva, Adrian Bajrami, Jan-Niklas Beste, Martim Neto, João Mário, João Rêgo, Casper Tengstedt, Gianluca Prestianni e Arthur Cabral


O melhor

O instinto dos avançados diz-lhes que se recuarem mais no terreno afastam-se dos golos que os mantêm vivos. Marcos Leonardo também pensava assim até alguém lhe fazer ver que no fosso que existe entre os dois médios e Pavlidis é necessária uma ponte com o seu nome. Há uma notória evolução do brasileiro no momento de se enquadrar para receber a bola entre linhas e, contra o Brentford, demonstrou que pode ter mais argumentos do que pensa ao nível da velocidade em condução. O lance do golo de Pavlidis é desbloqueado por si. O Benfica vai precisar que repita o gesto mais vezes.

Gualter Fatia

A banda sonora

Angelos Charisteas, lembram-se? Marcou, há 20 anos, no Estádio da Luz, o golo que impediu Portugal de ganhar o Euro 2004. O grego fez toda uma nação passar do entusiasmo extremo à mágoa eterna cravada no peito. Não deixa de ser curioso que, para comemorar a efeméride, o Benfica tenha agora no helénico Pavlidis uma das maiores promessas para fazer os adeptos festejar como se não houvesse amanhã.