A cumplicidade entre futebolistas e equipa técnica permitiu a Portugal ganhar o Europeu de sub-17 pela terceira vez, vinca o treinador Nelo Vingada, adjunto de Carlos Queiroz no sucesso em 1989 pelos sub-16, escalão precursor do atual.

"Não tenho pejo nenhum em dizer que, quando estivemos num Mundial no Qatar [de sub-20, em 1995] e ficámos em terceiro, tínhamos um jogador que levava uma equipa boa um pouco às costas nos momentos menos bons: era o Dani. Neste caso, todos os jogadores conseguiram levar a equipa um bocadinho às costas. Isso mostra a força natural do seu coletivo e do trabalho realizado, mas também um pouco a imagem do futebol português", analisou o antigo técnico dos escalões jovens nacionais, em declarações à agência Lusa.

No domingo, Portugal repetiu os êxitos de 2003 e 2016, na 'era' dos sub-17, e em 1989, 1995, 1996 e 2000, no antigo formato de sub-16, ao derrotar na final a França (3-0), em Tirana, para suceder à Itália, que tinha vencido os lusos pelo mesmo resultado em 2024.

"O [selecionador] Bino Maçães disse que as grandes decisões que trouxeram resultados favoráveis saíram na maioria das vezes do banco. Isso significa que o plantel era bom e que quem entrou interferiu no jogo, trouxe soluções e proporcionou um feito fantástico. A França, que é igualmente uma potência no futebol jovem, ficou reduzida a uma equipa de vulgaridade", disse Nelo Vingada, que também coadjuvou Carlos Queiroz nos dois êxitos mundiais seguidos de sub-20, em 1989, na Arábia Saudita, e em 1991, em território luso.

Portugal alcançou o 10.º troféu em Europeus jovens masculinos - quatro nos sub-16, três nos sub-17, dois nos sub-18 e outro nos sub-19 -, num palmarés encabeçado no patamar sénior pela conquista do Campeonato da Europa de 2016 e da Liga das Nações de 2019.

"O país faz muito, mas temos de reconhecer que já não é com tão pouco. Há que ter em conta as condições de trabalho, as academias dos clubes e os torneios que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) proporciona na formação. Isto é uma consequência natural do talento que temos no nosso ADN e para o qual não há explicação. Temos um talento fantástico para o futebol, que merece um estudo, porque, em termos de praticantes e de população, provavelmente teremos um rácio com mais títulos face aos outros", salientou.

Nelo Vingada, de 73 anos, sente que o futebol nacional está a dar passos acertados nos escalões jovens, mas acredita que o recente sucesso dos sub-17 justificaria uma aposta ainda mais firme dos clubes na rentabilização desse talento nos seus plantéis principais.

"Quando os clubes andam, às vezes, a contratar aqui e ali, a melhor e maior montra que podem e devem procurar é no futebol português. Pela amostra deste Europeu, diferentes clubes estavam representados e poderão ser encontradas melhores soluções ali em vez de se ir buscar ao estrangeiro futebolistas já feitos, mas de qualidade duvidosa", admitiu.

Bino Maçães foi curiosamente um dos campeões continentais de sub-16 em 1989, numa campanha em que Portugal também contava com Abel Xavier, Emílio Peixe, Luís Figo e Gil Gomes e bateu a República Democrática Alemã (4-1), em Vejle, na Dinamarca, para inverter o desfecho da final do ano anterior frente à Espanha (2-4 nos penáltis, após 0-0).

"Essas duas gerações juntas fizeram basicamente a equipa que foi ao Mundial sub-20 de 1991. O percurso feito até hoje atesta que crescemos e evoluímos na qualidade do treino e dos treinadores e, sobretudo, mostra o talento, a imaginação e o nível profissional que estes jogadores têm em toda a dimensão. Antes, éramos bonzinhos e muito habilidosos, mas ficávamos quase sempre a perder no confronto físico, em grandes desafios e até na intensidade. Felizmente, evoluímos para uma dimensão fantástica nesse aspeto", notou.