
As nadadoras Inês Dubini e Anna Luiza Carvalho, de 19 anos, competem nos Europeus de natação artística no Funchal, a partir de segunda-feira, de olho em integrarem as oito melhores nas provas de dueto técnico e livre.
Dubini e Carvalho estreiam-se este ano no escalão absoluto, enquanto combinam a faculdade com treinos que chegam às cinco horas por dia, mas a idade não lhes retira o olhar analítico para a concorrência e a confiança no próprio trabalho, além da piscina familiar.
"A Madeira é muito especial para nós, porque já lá competimos no Europeu júnior, há dois anos. Agora, é no escalão sénior. Nunca competimos num Europeu absoluto. Estamos muito entusiasmadas, a trabalhar bem, e com foco muito grande no objetivo, de conseguir o melhor lugar possível", diz à Lusa Inês Dubini.
A estudante de segundo ano de Arquitetura Paisagística na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto baliza um "caminho ótimo" feito pela dupla, em conjunto com a treinadora, Sílvia Pinto, que desde há uma década comanda o projeto de artística do Fluvial Portuense.
Anna Luiza Carvalho vai mais longe e aponta a vitória em dueto livre no Open de Valência, em 25 de maio, como bom comprovativo do trabalho realizado até aqui.
"Contribuiu para nos sentirmos mais confiantes para o Europeu. Tivemos 'feedback' positivo e o resultado foi bom. Temos coisas a melhorar, mas estamos confiantes, com pensamento positivo", explica.
À Lusa, a treinadora Sílvia Pinto reforça a estreia entre as seniores, bem como o esforço de conciliarem estudos e treino sem estarem inseridas em apoios de alto rendimento, suportadas sobretudo pelo clube, pedindo "realismo".
"Confiamos muito no trabalho que estamos a fazer. Tem sido um trabalho muito sério, organizado e estruturado, mas consoante o que temos disponível. Analisando a lista de inscritas, (...) definimos o nosso objetivo, e é possível ficar nos oito primeiros", analisa.
A dupla do Fluvial Portuense vai competir, na Madeira, na senda de uma 'herança' pesada, uma vez que sucedem neste particular ao dueto composto com Maria Beatriz Gonçalves e Cheila Vieira, que conseguiram os melhores resultados de sempre na modalidade para Portugal.
"Acompanhámos o processo de treino da Beatriz, da Cheila com a Sylvia [Hernandez], e esse processo motivou-nos muito a tentar fazer igual, ou parecido. Elas fizeram-nos acreditar que é possível. Pegámos um pouco nessa ideia e tentamos dar continuidade", admite a treinadora.
Se Gonçalves e Vieira são nadadoras "diferentes, com um caminho extraordinário", vê nas duas jovens que treina "miúdas muito determinadas, lutadoras e resilientes", que acreditam e querem dar seguimento ao 'sonho' de uma inédita participação olímpica para Portugal nesta modalidade, agora a caminho de Los Angeles2028.
Passo importante nesse caminho é o 'salto' para o escalão sénior a nível continental, com um Europeu que conta com medalhadas olímpicas e campeãs do mundo pelo caminho, quer em livre quer em técnico, numa modalidade que combina destreza física com o campo artístico.
É aí que Anna Luiza Carvalho "é uma artista", diz Inês Dubini, e o facto de estar a estudar Artes Plásticas na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto só o atesta.
Com duetos assentes em músicas do musical "Chicago", em técnico, e na saga de cinema "Matrix", no livre, a treinadora "faz as montagens", o conjunto trabalha a coreografia, e Carvalho "desenha os fatos de banho e a maquilhagem".
"Os esquemas têm movimentos próprios. No Matrix, há mais força, mais mãos. No Chicago, são movimentos mais felizes, com mais dedos e não sei quê. É diferente. Adaptamos a expressividade a cada esquema", revela.
Se, neste caso, a conciliação de dois caminhos diferentes funciona em prol dos resultados, Sílvia Pinto vê um "caminho a percorrer" para a modalidade poder crescer em Portugal.
Por um lado exigente, no tipo de treino e na quantidade de horas, a natação artística, por vezes, "ainda não é valorizada", face a outras olímpicas, uma diferença colmatada com a já referida "resiliência", com um dueto "completamente comprometido com o objetivo de fazer parte de um projeto olímpico" e inventividade no trabalho.
Inês Dubini e Anna Luiza Carvalho competem no Complexo Olímpico de Piscinas do Funchal logo no primeiro dia, segunda-feira, em dueto técnico, seguindo-se, dois dias depois, o livre.
Portugal está ainda representado por Daniel Ascenso, que competirá em dueto misto com Filipa Faria, na prova livre em que foram quintos classificados em 2024, e com Maria Beatriz Gonçalves, em técnico.