
O '4 Cantos do Mundo' é um podcast do jornalista Diogo Matos ao qual o zerozero se uniu. O conceito é relativamente simples: entrevistas a jogadores/ex-jogadores portugueses que tenham passado por pelo menos quatro países no estrangeiro. Mais do que o lado desportivo, queremos conhecer também a vertente social/cultural destas experiências. Assim, para além de poder contar com uma entrevista nova nos canais do podcast nos dias 10 e 26 de cada mês, pode também ler excertos das conversas no nosso portal.
Atualmente a jogar no JS Hercules, clube finlandês, José Ferreira conta ainda com passagens por Inglaterra, País de Gales e República Checa. Apesar disso, uma das histórias mais marcantes da carreira do lateral-direito deu-se numa experiência... que não aconteceu. Confuso? A explicação é simples.
«Fiz uma boa época no Kajaanin Haka e depois recebi uma proposta de um clube italiano, não me lembro se estava na 4ª ou 5ª divisão- claramente não fiz bem o meu trabalho de pesquisa. A oferta a nível salarial era muito boa e ainda me prometeram o meu próprio apartamento», começou por contar o jogador de 26 anos, que foi ainda mais longe:

«Viajei para Pescara, sendo que depois era suposto ir de autocarro até à vila onde ficava o clube, no caso na região de Molise. A aventura começou logo mal porque aterrei e recebi uma chamado do empresário que me tinha levado para lá a dizer que só devia ter chegado no dia seguinte. Ainda assim, fiz a viagem de autocarro porque ele me disse que alguém do clube me ia buscar ao terminal de autocarros. Cheguei, esperei 30 min, liguei ao empresário e ele disse-me que afinal me iam buscar a um café que ficava a 10 min dali. Lá fui com as minhas malas todas, mas tive de ficar 2h30 à espera.»
Se o cenário não tinha animador até então, pior ficou a partir daqui.
«Lá me levaram para casa, mas aí é que tudo correu mal. Eu tinha pedido o meu próprio apartamento, mas cheguei e havia jogadores num quarto com beliches. Entretanto percebi que havia mais jogadores do que camas e que eu não ia ter cama. Por sorte, dois jogadores tiveram de ir a Nápoles nesse dia e, por essa razão, eu tive cama para dormir», recordou José Ferreira, que rapidamente percebeu que não iria ter vida fácil em território italiano:
«Entretanto comecei a falar com um guarda-redes senegalês e ele disse-me que o clube não pagava salários há dois/três meses e que nunca lhe tinha pago os prémios de assinatura que tinha prometido. Para além disso, a casa estava toda suja, cheia de bolor e a sanita nem tinha tampa, por exemplo. Percebi que aquilo não ia dar para mim, disse a esse tal guarda-redes para avisar quando chegasse ao treino que eu não ia e durante a noite marquei as viagens todas.»
O desfecho da história? Uma cena digna de filme de ação.
«Na manhã seguinte peguei nas minhas malas todas e fui a pé para o terminal de autocarro. Entretanto recebi uma mensagem do guarda-redes... 'Avisamos que não vinhas e o presidente e o diretor desportivo ficaram fulos. Saíram disparados e vão atrás de ti, acho melhor pores-te a andar'. Ou seja, fui perseguido pelo presidente do clube. Eu lá comecei a acelerar; quando cheguei ao autocarro vi o carro deles a chegar, mas felizmente já tinha arrancado e consegui fugir, pelo que acabei por não jogar em Itália», frisou o lateral.