Nandinho, antigo jogador e agora treinador, sagrou-se campeão pelo Al Muharraq, do Bahrein. Em entrevista a A BOLA, explica como foi a passagem no país árabe e garante que continuará na próxima época.

Sagrou-se campeão há pouco tempo, cinco meses depois de ter chegado ao Al Muharraq...

— Sim, foi uma aposta certeira. Arriscada, porque a realidade é que eu estava num campeonato que me dava alguma visibilidade, em que não foi fácil, o campeonato saudita. Consegui entrar e as coisas estavam a correr relativamente bem, mas a vontade do Al Muharraq de me contratar já vinha de há algum tempo. Ainda fui resistindo, mas chegou um determinado momento que eu tinha de tomar uma decisão e acabei por optar por regressar, porque sabia que ia para uma das melhores equipas do Bahrein e tinha possibilidades de lutar por títulos, que é isso que faz sentido também nas nossas carreiras enquanto treinadores. Felizmente a aposta foi acertada e acabei por ser campeão e recuperar o título que já não ganhavam há sete épocas.

Esteve meia época no Al Bukayriyah, da segunda divisão saudita, depois de uma época no Bahrein, em que ganhou a Taça do Rei com o Al Ahli Manama. Porque é que saiu e porque é que decidiu voltar?

— Eu estava num clube que há mais de 20 anos que não vencia aquela competição, a Taça do Rei. Nos últimos 14 anos, a melhor classificação tinha sido o 6º lugar, mas era um clube que não me dava margem para crescer mais. Eu sentia isso porque é um clube que não é tão organizado como os outros, que não tem a mesma capacidade financeira e sabia que, para continuar no Bahrein, teria de optar por ir para uma das três equipas de topo. Tive uma proposta de uma dessas equipas, as coisas acabaram por não se concretizar, e então decidi sair, apesar de ter tido abordagens de outros clubes de lá, mas para mim fazia sentido ir para uma equipa onde eu pudesse lutar por títulos e só essas três equipas, e à partida duas equipas que estariam em vantagem pelos orçamentos que iam ter, pela capacidade de contratar que iam ter, que era o Al Muharraq e o Al Khalidiyah, que tinha sido bicampeão, e como as propostas dessas equipas não aconteceram, resolvi regressar ao país, esperar por uma proposta boa.

Tive várias propostas, como de um clube de topo da Jordânia, a outra do Kuwait, mas acabei por optar pela opção da Arábia Saudita. Apesar de ser um clube que estava na última posição, eu sabia que o Al Bukayriyah, no meu ponto de vista, era uma equipa capacitada em termos de plantel. Acabei por aceitar essa proposta, as coisas acabaram por começar a correr bem lá e rapidamente saímos da última posição e colocámo-nos a meio da tabela, Por aí fomos andando, sempre perto dos lugares de play-off, e afastando-nos dos lugares de descida, que era o objetivo principal do clube. Continuar no Bahrein fazia sentido se fosse para lutar por títulos, e para lutar por títulos, teria de estar numa dessas duas equipas que eu referi, por isso optei por sair.

Chegou ao Al Muharraq a meio da época. Qual era a realidade da equipa quando chegou?

— A realidade é que eu conhecia a equipa. Era um namoro já que se arrastava. Ia vendo alguns jogos do Al Muharraq, conhecia o plantel relativamente bem, e é verdade que quando eu cheguei o clube estava em primeiro lugar, tinha mais dois pontos e um jogo a mais do que o rival — se o rival vencesse esse jogo ficava em primeiro. Já era conhecido também dos jogadores que lá estavam e fomos implementando as nossas ideias. Quando tens jogadores de qualidade é mais fácil para adaptarem-se às tuas ideias. Os resultados foram ajudando. Tivemos nove vitórias consecutivas no campeonato, que foram suficientes para nos dar o título a faltar quatro jornadas para o fim.

E vai continuar na próxima época?

— Sim. Quando fui para lá, assinei por época e meia. Era para tentar já esta época conquistar títulos e dar continuidade na próxima, porque poderia existir, como vai existir, felizmente, a possibilidade de jogar a Champions 2. É o equivalente a uma Liga Europa aqui. Vamos defrontar o Al Nassr, de Cristiano Ronaldo, que é o baluarte daquela equipa e que não precisa de apresentações. Vamos enfrentar equipas do Qatar, que têm orçamentos muito superiores e jogadores de grande nível, dos Emiratos Árabes também. Para nós também é bom para crescermos enquanto equipa e o importante também são as competições internas que vamos ter.

Falou sobre o Al Nassr e sobre a presença de Cristiano Ronaldo. Também fora da Arábia Saudita, nos países à volta, como o Bahrein, sente-se o impacto de Ronaldo?

— Sim, não se pode não associar uma coisa à outra, porque o crescimento do futebol árabe arrasta por consequência todos os países ali à volta, porque querem estar ao nível do futebol da Arábia Saudita. Países como o Qatar e como os Emirados, sobretudo estes dois, são países com grande poder económico e que também já trazem jogadores de grande qualidade. Os outros países que não têm os mesmos orçamentos, e estou a falar do Bahrein, do Kuwait, da Jordânia, também sentem que não podem ficar para trás, porque senão vai cavar-se um fosso muito grande. Uma das preocupações lá no Bahrein agora, até a nível da seleção, é fazer com que a seleção vá subindo no ranking, para depois trazer a mesma ambição para os clubes, de ter a preocupação de trazer jogadores com qualidade para fazer evoluir o futebol no Bahrein.