Trump não está habituado a ser corrigido em público, mesmo quando diz coisas cientificamente incorretas ao lado de cientistas, e são raras as vezes em que o Presidente dos Estados Unidos é contrariado e não responde com agressividade — que o diga Volodymyr Zelensky.
Mas o Presidente dos Estados Unidos foi surpreendido na quinta-feira por Jerome Powell, presidente da Reserva Federal, que corrigiu Trump quando este se preparava para usar números errados para criticar a instituição.
Recentemente, Trump começou a atacar o presidente da Reserva Federal (Fed) por este não conseguir juros baixos em três pontos percentuais e aliviar a enorme dívida acumulada com a sua lei “grande e maravilhosa” que beneficia principalmente os mais ricos. Há eleições intercalares em 2026 e, segundo vários órgãos norte-americanos, o Presidente terá consultado com congressistas sobre a possibilidade de despedir Powell (algo que é difícil sem justa causa, dada a importância da independência da Reserva).
Mas Powell não pareceu preocupado com uma eventual retaliação ao lado de Trump, enquanto ambos visitavam o local de construção da nova sede em Washington da Fed, um projeto dispendioso que o Presidente criticou por custar 2,5 mil milhões de dólares. Como é seu hábito, Trump tentou inflacionar o valor em direto, sem dados ou fundamentação, para provar o seu ponto.
“Estamos a ver e parece que ficará por 3,1 mil milhões, aumentou um bocadinho, ou muito. Portanto 2,7 e agora 3,1”, disse Trump, enquanto Powell abanava a cabeça. “Não estou a par disso”, disse Powell, sobre os novos custos do edifício. “Acabou de sair”, respondeu o Presidente, entregando-lhe um papel retirado do bolso.
O presidente da Fed leu durante alguns segundos e não tardou em encontrar o erro. “Ah, está a incluir a renovação do Martin”, esclareceu Powell, referindo-se a um edifício completado em 2021. “Você só acrescentou… Só acrescentou um terceiro edifício”.
“É um edifício que está a ser construído”, insistiu Trump e Powell tentou concluir o momento tenso e confrangedor: “Não é novo”.
O líder dos EUA ainda voltou a ‘picar’ Powell, que já chamou de “burro” por não cortar os juros como pretende, dando-lhe uma palmada nas costas e dizendo que “adorava” que a Fed reduzisse os juros - algo que o presidente da Fed diz que não é recomendável pelo potencial impacto na inflação.
Curiosamente, o episódio surgiu imediatamente depois do Presidente dos EUA ter voltado atrás nos insultos que tem dirigido a Powell nos últimos dias e na sugestão de que podia despedir o presidente da Fed, uma ideia que fez tremer os mercados norte-americanos. “Fazer isso é uma grande jogada e eu não acho que seja necessário, eu acredito que ele vai fazer o que é correto”, garantiu Trump.
No final da visita, Trump garantiu aos jornalistas que “não há tensão” entre os dois e que não vai despedir Jerome Powell, mas a divergência bastante pública irá certamente ditar o destino do banqueiro à frente da Fed.
O Presidente norte-americano chegou mesmo a questionar a nomeação de Powell, apesar de ter sido o próprio Trump a nomeá-lo em 2017, no seu primeiro mandato.
Já deixou claro que não o reconduzirá no cargo, revelando que pensou em “duas pessoas, talvez três” para liderar a Reserva Federal a partir de maio de 2026.